sexta-feira, 4 de julho de 2014

Orlando Castro: "FORPALOP representará forte impulso na coesão dos países afro-lusófonos"




No programa Convidado de hoje, recebemos Orlando Castro, Historiador e Jornalista luso-angolano, Chefe de Redacção do jornal angolano, Folha 8, com quem vamos analisar a cimeira dos Chefes de estado dos PALOP, em Luanda.

"O FORPALOP, Fórum dos países africanos de língua portuguesa, poderá representar um forte impulso na coesão dos países africanos de língua oficial portuguesa. Falta-nos é saber, se em termos práticos, isto vai dinamizar o contexto mais geral da CPLP, ou se pelo contrário, vamos ter dois organismos paralelos, a CPLP de um lado e o FORPALOP, do outro lado."


Angola: Detidas 50 pessoas em operação policial nos arredores de Luanda




A Polícia Nacional de Angola deteve na última noite, nos arredores de Luanda, 50 pessoas suspeitas da prática de vários crimes, no âmbito da operação "Kutululuka", que visa devolver o sentimento de segurança à população.

As detenções, de acordo com informação transmitida hoje à agência Lusa por fonte do comando provincial de Luanda da Polícia Nacional, aconteceram nas zonas de Morro Bento e Benfica, arredores da capital angolana, na noite de quinta para sexta-feira.

ntre os detidos figuram 14 estrangeiros, apanhados pela polícia em situação de permanência ilegal no país, e outros oito por condução sem habilitação legal.

"Os restantes foram detidos pela prática de vários crimes. A polícia recuperou viaturas e apreendeu quatro armas de fogo na posse, ilegal, dos meliantes", acrescentou a mesma fonte.

Durante as mesmas operações, os agentes da Polícia Nacional apreenderam também várias quantidades de estupefacientes.

A operação "Kutululuka" - expressão que na língua nacional Kimbundo significa sossego - já leva praticamente um mês e visa combater a onda de criminalidade que se tem verificado na capital angolana e que levou o Presidente da República José Eduardo dos Santos a exigir medidas concretas.

"O objetivo desta operação é devolver o sentimento de segurança às pessoas, aproveitando para deter suspeitos de envolvimento em crimes, cumprir mandados de captura e recolher compulsivamente armas que estão nas mãos de cidadãos", acrescentou o comando provincial de Luanda da Polícia Nacional.

Segundo aquela força policial, estão previstas outras operações do género nos próximos dias na região de Luanda.

Lusa, em Notícias ao Minuto

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ONG: Segundo maior mercado de comércio ilegal de marfim é em Angola




Angola tem o segundo maior mercado de comércio ilegal de marfim a retalho em África, depois de Lagos, na Nigéria, acusou a Organização Não Governamental (ONG) 'Save The Elephants' num comunicado divulgado hoje.

A ONG diz que um estudo sobre o comércio ilegal de marfim de elefantes africanos realizado pelos investigadores Esmond Martin e Lucy Vigne - que estão a produzir um relatório detalhado sobre a informação recolhida - indica que Lagos e Luanda são os principais centros de "comércio ilegal de retalho" de marfim.

"Em Lagos há mais peças de marfim à venda, mas o comércio é mais dissimulado, com os vendedores mais conscientes das regras e mais receosos, enquanto os vendedores em Luanda têm muito pouca preocupação sobre a possibilidade de serem apanhados a vender marfim ilegal", diz a 'Save The Elephants' no comunicado.

A ONG alerta também para o facto de o preço do marfim proveniente de elefantes mortos por caçadores furtivos em África ter quase triplicado nos últimos quatro anos no principal mercado mundial, a China.

"O aumento do preço do marfim implica uma vaga de abates de elefantes no continente africano que não dá sinais de abrandar", advertiu a organização ecologista com sede no Quénia.

Segundo a ONG, o preço de venda do marfim em bruto na China era cerca de 750 dólares (550 euros) em 2010 e passou para 2.100 dólares (1.540 euros) em 2014.

A 'Save The Elephants' estima que perto de 33.000 elefantes tenham sido mortos por caçadores furtivos entre 2010 e 2012.

"Sem ação internacional concertada para reduzir a procura de marfim, as medidas para diminuir o número de elefantes mortos não surtirão efeito", declarou o fundador da ONG, Iain Douglas-Hamilton, no comunicado, afirmando que "a China detém a chave do futuro do elefante africano".

Apesar de uma ligeira redução do número de elefantes mortos este ano por caçadores furtivos, a sobrevivência em África do maior mamífero terrestre continua ameaçada, segundo informação da dados da Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas (CITES).

No início do século XX, existiam 20 milhões de elefantes em África, número que caiu para 1,2 milhões em 1980, caindo de novo para os atuais 500.000, apesar de o comércio de marfim ter sido proibido pela CITES em 1989.

Lusa, em Notícias ao Minuto - ontem

Angola: UM DEBATE ESCLARECEDOR



José Ribeiro – Jornal de Angola, opinião

O Parlamento aprovou, sem votos contra, o relatório da I e VI Comissão que recomenda ao Executivo o fortalecimento do sector público da Comunicação Social, ao mesmo tempo que destaca o papel que tem desempenhado.

Os órgãos de informação da Empresa Edições Novembro foram particularmente elogiados e encorajados a prosseguirem o seu trabalho, sério e honesto, de informar e formar. Há uma recomendação dos deputados que integram as duas comissões que quero destacar: a regulamentação do chamado Pacote Legislativo da Comunicação Social.

Embora tenha servido à UNITA para fomentar divisões no seio da maioria, tentando pôr  a anterior ministra do sector contra o actual, a legislação da Comunicação Social está a fazer muita falta a alguns jornalistas, quanto mais não seja para resolver aquele que consideram um dos mais graves problemas do jornalismo angolano: o estatuto do jornalista e o regulamento da carteira profissional. Eu e alguns jornalistas ao serviço das Edições Novembro, da qual sou primeiro responsável, demos o nosso contributo na produção da legislação, com um espírito construtivo e de colaboração com a tutela. Para quem cumpre as práticas profissionais do jornalismo, de nada serve mais legislação e mais controlo.

Reconheço que nenhum jornalista digno se sente bem quando sabe que a profissão é exercida por gente sem qualificações técnicas e no desconhecimento absoluto dos princípios éticos e deontológicos, o que leva à ausência de deveres básicos. E dou um exemplo que resulta do próprio debate dos deputados na Assembleia Nacional. Uma equipa da “Rádio Despertar”, órgão partidário ao serviço exclusivamente da UNITA, estava a transmitir em directo as intervenções dos deputados sem para isso estar autorizada. 

Temos de tudo, nesta profissão. Até aqueles que pensam que são jornalistas só porque um dia viram publicado num jornal um texto de sua autoria. Ou porque deram opiniões avulsas aos microfones de rádios ou ante as câmaras de canais de televisão. Nada mais enganador.
 Um jornalista é um técnico de comunicação e só atinge esse estatuto quando domina todas as técnicas que fazem dele um profissional. Só pode exercer a profissão quem faça prova desses conhecimentos. Também não é automaticamente jornalista quem ao fim de uns tantos anos conseguiu obter um diploma numa escola média ou superior. 

Esse é apenas o ponto de partida para entrar na profissão, e pode nunca chegar lá. 

Apesar dos insultos repetidos e das manipulações grosseiras por parte de um deputado da oposição, considero que o debate foi enriquecedor e veio clarificar a situação que se vive na comunicação social. 

A partir de agora sabemos quem pugna pela liberdade de imprensa e quem se serve dela para atacar o regime democrático. Ficámos a saber que para alguns deputados da oposição a linguagem jornalística deve ser à medida da “Rádio Despertar”, lançando ódio e instigando a população ao atropelo das leis. Sabemos por alguns deputados da oposição que os insultos ao Chefe de Estado são práticas normais e não são crimes de natureza pública. 

Daí que alguns parlamentares  de Espanha, onde estiveram recentemente deputados da Assembleia Nacional, se tenham mostrado intrigados: “os vossos deputados vêm para fora do vosso país falar mal das suas instituições e quando regressam não lhes acontece nada?”

Para esses legisladores sem civismo e mal preparados para uma Casa da Democracia, os insultos e injúrias ao mais alto magistrado da Nação representam apenas o direito à crítica e à liberdade de expressão. Neste aspecto gostava que o debate tivesse sido um pouco mais assertivo. É preciso explicar a alguns deputados que ninguém pode usar direitos e liberdades para atacar a honra e o bom nome seja de quem for e muito menos pôr em causa os fundamentos do Estado de Direito e Democrático.

No debate sobre o papel do sector público da comunicação social no regime democrático faltou definir claramente o papel de cada órgão de soberania num Estado de Direito. Alguns deputados da oposição atacam abertamente o Poder Judicial pondo em causa a sua independência e a competência dos magistrados.  Quando a liberdade de imprensa belisca os interesses dos políticos e os jornalistas revelam factos que alguns gostavam de ver escondidos no esquecimento, o caminho escolhido por esses políticos não é exercer o direito de resposta, mas sim atacar o ministro da Comunicação Social, porque não censura os órgãos de informação sob sua tutela. É uma estranha forma de entender a democracia e a liberdade de imprensa. A UNITA quer que o Executivo censure os jornalistas dos órgãos públicos de comunicação social e lhes imponha uma agenda editorial, em nome de uma política e de uma reconciliação que o partido não está a saber honrar. Mas o padrão que os mesmos deputados usam para a liberdade de imprensa é a propaganda militarista da Rádio Despertar e o lixo dos franco-atiradores das redes sociais que destroem a democracia e o Estado de Direito. 

Este debate no Parlamento sobre o papel dos órgãos públicos de comunicação social e o regime democrático foi muito útil e esclarecedor. Confirmámos que a maioria parlamentar defende a liberdade de imprensa e o direito a informar, informar-se e ser informado. E alguns deputados da oposição querem servir-se das liberdades, direitos e garantias para amordaçar os jornalistas e destruir o regime democrático. 

Por fim, quero informar os senhores deputados da oposição que em nenhum país do mundo os órgãos de informação de sinal aberto são obrigados a transmitir em directo os debates parlamentares. Alguns países têm um canal próprio dos seus Parlamentos para essa transmissão e quem quer usa as imagens, em directo ou editadas. Em Angola não existe esse modelo, mas como copiamos tudo de maneira acrítica, talvez venha a existir. 

Se assim acontecer, vai ser uma vergonha para os angolanos ouvirem um político da UNITA lançar insultos racistas e xenófobos sobre os jornalistas que cá trabalham ou um deputado do PRS revelar a sua homofobia a propósito de um programa de televisão. O racismo, a xenofobia e a homofobia são crimes contra a humanidade. É triste que actos condenáveis sejam praticados por políticos angolanos.

PARLAMENTO ANGOLANO NÃO ESCLARECE EXPULSÃO DE JORNALISTA




O jornalista da Rádio Despertar Gonçalves Viera disse que foi acusado de criar desordem na casa das leis.

Coque Mukuta – Voz da América

O debate parlamentar sobre o estado da comunicação em Angola realizado na passada sexta-feira foi marcado por um acto que está a ser considerado como um atentado à liberdade de expressão por parte da mesa da Assembleia Nacional.

O repórter da Rádio Despertar, emissora ligada à UNITA, foi forçado a abandonar o recinto da Assembleia Nacional, por tentar transmitir em directo o debate.

A Voz da América contactou o antigo jornalista da Rádio Nacional de Angola e actualmente Director do Gabinete de Comunicação e Imagem da Assembleia Nacional João Batista Vianey para tentar obter uma explicação sobre o caso, mas ele não se dignou dar qualquer explicação sobre o sucedido. 

Entretanto, o Instituto de Comunicação Social da África Austral “MISA-Angola” divulgou um comunicado no qual considera que o acto da Asembleia Nacional visou impedir transmissões em directo apenas para proteger-se da avaliação dos eleitores.

O jornalista da Rádio Despertar Gonçalves Viera disse que, no momento, foi acusado  de criar desordem na casa das leis.

Viera afirmou ainda que apesar do incidente não deixará de frequentar ainstituição por ser uma  casa que representa a todos os angolanos.

Angola: UNITA NÃO CONFIRMA DESERÇÃO DE MILITANTES PARA O MPLA




Unita diz ter havido aproveitamento político por parte dos órgãos de comunicação social do Estado no tratamento destas matérias.

Manuel José – Voz da América

Mais de 2.500 militantes abandonaram a Unita em Cachiungo no Huambo, para ingressar as fileiras do MPLA, segundo a Angop.

A Unita não confirma a informação e diz que tem havido aproveitamento político por parte dos órgãos de comunicação social do Estado no tratamento destas matérias.

O porta-voz do partido do Galo Negro, Alcides Sakala, disse à VOA desconhecer esta informação, mas de um modo geral tem havido um certo empolamento dos órgãos públicos: "Tem havido algum aproveitamento político relativamente a esta situação, por parte dos órgãos públicos, mas entendemos que quem quiser sair e filiar-se num outro partido pode fazê-lo"
 
Por parte do MPLA, o responsável para as questões políticas e eleitorais de Luanda não confirmou a informação do Huambo mas adiantou outra que tem a ver com cerca de 80 cidadãos tanto da Unita como da Casa-CE que abandonaram os seus partidos e vão ser apresentados depois de amanhã como reforços do MPLA.

Norberto Garcia acredita que estes cidadãos procuram no MPLA o que não encontram nas suas antigas organizações.


NIGÉRIA, UM ESTADO REFÉM DE TERRORISTAS



Benjamim Formigo – Jornal de Angola, opinião

Uma das maiores potências regionais africanas está há meses refém dos extremistas do grupo Boko Haram, cuja acção e métodos o qualificam inequivocamente como um grupo terrorista, apesar de o termo ter sido banalizado por conveniências da propaganda dos Estados dominantes.

Cerca de 200 crianças, todas raparigas (não devem ter direito à educação) raptadas da escola há dez semanas continuam desaparecidas nas mãos deste grupo que recusa designadamente a educação que não seja a sua interpretação do Corão, e pretende um Estado Islâmico no Norte da Nigéria, parte do Níger e dos Camarões, o antigo Califado de Sokoto conquistado pelos ingleses em 1903. Desde então sempre houve resistência na região ao domínio colonial e em especial à educação ocidental, educação que não é vista por este grupo como essencial. Em 2002 o clérigo muçulmano Mohammed Yusuf aproveitou a ausência de escolas para criar um complexo religioso para onde as famílias pobres enviaram os filhos. Progressivamente as ideias do clérigo foram sendo radicalizadas ao mesmo tempo que o Estado esquecia as regiões mais desfavorecidas do país. 

Algumas questões contribuíram e contribuem em paralelo para o agravamento da situação. Por um lado está uma má distribuição da riqueza do país. As receitas petrolíferas não beneficiam o grosso da população, em particular o interior Norte onde o islamismo militante tem surgido e tem progredido mais rapidamente que a resposta governamental às solicitações sociais da população. A instabilidade interna contribuiu para que os fundos sejam desviados para a segurança em detrimento da acção social, saúde e educação, pilares fundamentais ao desenvolvimento. Ao longo dos últimos 30 anos a situação nos países vizinhos tem-se caracterizado também pela instabilidade política interna, guerras civis e confrontos transfronteiriços. Durante algum tempo a própria Nigéria teve de agir quase que como polícia na região até que as divergências tribais mal geridas e os confrontos religiosos internos se agravaram. Não menos importante para o agravamento desta situação é o proliferar de grupos armados e finalmente do terrorismo do Boko Haram foi a “primavera árabe” tão celebrada pelos países ocidentais. A queda de Muhammad Al Kadhafi com a contribuição activa dos Estados Unidos, França e Grã-Bretanha rebentou os equilíbrios na região. Louco, ditador, o que lhe quisessem chamar, Kadhafi foi odiado pelas petrolíferas, a sua visão megalómana do Mundo Árabe assustava tanto ou mais que o alegado envolvimento dos serviços secretos líbios em acções terroristas ou de desestabilização. Ora, precisamente quando o dirigente líbio entrava em diálogo e em entendimentos com a Europa e os EUA os seus novos “amigos” tiraram-lhe o tapete debaixo dos pés, como de resto fizeram a Mubarak e ao longo dos últimos 200 anos têm feito aos seus aliados quando os interesses financeiros se sobrepõem.

A Líbia de Kadhafi não era parte do mundo capitalista, não era uma democracia, longe disso. Era uma manta tribal administrada a pulso de ferro por Kadhafi que “comprava” esse equilíbrio através da distribuição da riqueza do país e da gestão das rivalidades entre etnias e tribos. A estabilidade que ali se conseguia beneficiava a Nigéria, Níger, Chade, RCA, designadamente. A gestão de Kadhafi era de facto a retaguarda desses países.

A Nigéria com um imenso potencial económico não consegue controlar as tribos e menos ainda o Boko Haram que se movimenta pelas zonas transfronteiriças, beneficiando de um excelente conhecimento do território. Os países ocidentais, como a Grã-Bretanha, que quarta-feira recebia a ministra das Finanças da Nigéria – exemplo do poder de educação da mulher – abstêm-se porém de conceder ao Governo nigeriano o que necessita: apoio aéreo, designadamente helicópteros, informação de satélite sobre as movimentações nas regiões suspeitas, meios de comunicação e transporte suficientemente rápidos para permitir uma acção militar que ponha termo a este rapto de dez semanas. Não se trata de procurar apenas uma solução militar para o problema do Boko Haram, essa terá também de ser política e social, passa pelo desembolso de lucros do petróleo. A Nigéria está refém de um grupo terrorista que depois do sucesso desse rapto lançou uma onda de violência contra civis e se está a espalhar ao Chade, Níger e Camarões. O sucesso do rapto de 200 crianças fechou as escolas na maioria do país. 

O Boko Haram tem de sofrer uma derrota: a libertação dos reféns que lamentavelmente não será conseguida sem baixas entre as próprias vítimas. O apoio à Nigéria não pode esperar nem pode, como alguns sugerem, passar por um corpo privado de segurança para as escolas. Enquanto esta situação se mantiver é um Estado soberano que está refém de um grupo terrorista que se prepara para desestabilizar outros Estados já de si fragilizados.

QUANDO OS EUA MENTEM



Francisco Carlos Teixeira, Rio de Janeiro – Jornal do Brasil, opinião

A imprensa ocidental, e por vício habitual de cópia, a mídia brasileira, resolveu assumir uma narrativa da atual e crítica situação do Oriente Média em termos de oposição intra-islâmica, colocando frente à frente a oposição entre as diversas concepções do Islã, em especial entre sunitas e xiitas. Em face do radicalismo das duas interpretações da mensagem do Profeta Mohammed o Islã estaria, definitivamente, dividido e a formação de unidades estatais viáveis seriam impossíveis.

De fato, ambas as vertentes se enfrentam, desde a morte do Califa Ali – primo e genro do Profeto -  aqueles que defendiam a manutenção indicativa do “Califado” nas mãos dos ricos comerciantes do clã coraixita e os demais, que defendiam a linha sucessória na família do Profeta – com os descendestes de sua filha Fátima casada com Ali – tornou-se um ponto de forte divisão. O califado, esta forma de governo religioso e laico do Islã, foi formalmente extinto entre 1923 e 1924, quando os turcos consolidaram a República em seu país, e o monarca turco, o sultão, que era também o califa, perdeu seus títulos. Desde então o Islã não possui um califa, seja de tradição sunita, seja de tradição xiita.

Tal divisão, entre sunitas (tradicionalistas) e xiitas ( de “shia”, os partidários de Fátima e Ali ) só se aprofundou desde o cisma do século VIII: contatos com o mazdeísmo persa e cristianismo bizantino e a heresia nestoriana, o Islã xiita assumiu aspectos bastante diferentes do sunismo tradicional, admitindo romarias, cerimônias de flagelação, culto aos homens santos, relíquias e santuários (túmulos de homens santos, por exemplo em Karbala e Najaf), além de uma total repulsa ao “califa” ( de “kalifat rasúl Allah”, onde “califa” é o título do “sucessor” enviado por Deus, e que guardaria em si o poder civil e religioso). Após o assassinato de Ali, sangue do Profeto, e seus filhos, todos os “califas” (os “sucessores” seriam ímpios e carregariam a culpa do derramamento do sangue do verdadeiro e único Profeta.

O domínio turco sobre os árabes – desde o século XV até 1918 – e depois disso o domínio francês e britânico só aprofundaram as divisões, com as potencias coloniais escolhendo os sunitas – mais inclinados em aceitar as exigências do poder e reconhecer a autoridade dos governantes – para formar as elites dominantes pro-Ocidente. Foi assim no Iraque: uma rala minoria de sunitas foi organizada pela Grã-Bretanha, desde 1918, para governar a maioria da população xiita. Assim, sunitas e os interesses imperialistas ocidentais uniram-se no Iraque, no Líbano, na Síria, nos Qatar e na Arábia saudita – sempre resultando em ditaduras cruéis e altamente repressoras.

No regime do Partido Baath (Baas), sob Saddan Hussein, houve um arranjo precário com cristãos e certa tolerância com os xiitas, mas nos últimos anos do regime Saddan, os xiitas – muitas vezes apoiados e incentivados pelos EUA – revoltaram-se contra Saddan (um sunita) – e foram brutalmente reprimidos, com milhares de mortes e um amplo uso da tortura.

Assim, a versão de incapacidade de formar um Estado viável, em razão de divergências religiosas, oculta a continua e longa intervenção ocidental no Mundo Árabe, e a responsabilidade do Ocidente de lançar grupos religiosos e étnicos uns contra outros, visando facilitar a dominação estrangeira (foi assim na Índia sob domínio britânico; em Ruanda sob o colonialismo belga ou na Nigéria sob domínio britânico, por exemplo). Desta forma, o papel do imperialismo e do colonialismo, sua responsabilidade nas divisões locais, incluindo aí, a política dos Estados Unidos para a região e antes dela, a contínua intervenção colonialista da Grã-Bretanha e da França, herdada pelos próprios norte-americanos, fica excluída da responsabilidade factual e moral pela atual situação na região.

A principal “causa” apontada pela imprensa, repercutindo declarações e notas à imprensa, das autoridades de Washington, é a “incapacidade” do governo do premier Al-Maliki, um xiita, em “unir” e liderar um governo com sunitas e curdos.

Ora, um governo de coalizão funcionava no Iraque desde que este recuperou sua autonomia, na era pós-Saddan Hussein – com curdos, xiitas e sunitas.  O governo parlamentar, misto, baseado em ampla coalizão étnica e religiosa, visava, exatamente, dar voz e direitos a maioria da população do Iraque, constituída de xiitas, e autonomia controlada para os curdos, e que foram perseguidos, e mortos em grande número, durante os anos da ditadura de Saddan.

Uma das milícias xiitas da era pós-Saddan foi exatamente o “Dawa”, um grupo que enfrentou, além da Al-Qaeda, os remanescentes da Guarda Republicana de Saddan e os próprios americanos, de quem queriam uma rápida saída do Iraque depois da invasão de 2003. Desde 2006, o “Dawa”, transformado em partido político sob a liderança de Al-Malik, governa, com a maioria parlamentar, governa de Bagdá. Trata-se, a bem da verdade, de uma ampla e frágil coalizão. A oposição a Al-Malik não está centrada nos sunitas e/ou na exclusão destes. Mas, em outros grupos xiitas, inclusive nas “Milícias do Mahdi”, do líder Muqtada Al-Sadr, líder da “Milícia do Mahdi”, favorável à criação de um regime islâmico no país.

Nouri Al-Malik, por sua vez, foi exilado longo tempo na Síria (foi condenado à morte por Saddan), opôs-se fortemente aos Estados Unidos. Al-Malik se opõe, em especial, a política americana de reintegrar numerosos quadros do proibido Partido Baath – o partido único no poder na Era Saddan – incluindo a readmissão de militares fiéis a Saddan, policiais acuados de torturas, juízes e funcionários públicos do Baath envolvidos nas brutais repressões da Era Saddan. Na versão americana da recusa de Al-Malik se deve ao sectarismo “xiita” do premier. Na verdade, os Estados Unidos estão propondo ao governo do Iraque – por sinal reeleito em 30 de janeiro de 2014 – é que aceite, e perdoe, os membros do governo de Saddan, que participaram ativamente de ataques brutais contra a maioria o xiita do seu próprio povo.

Em nome da “união nacional”, os Estados Unidos, mais uma vez e em mais um país – tal como fez na América Latina -, exige que criminosos e violadores de direitos humanos, sejam levados ao poder e o passado recente seja esquecido. Washington gostaria, bem mais, de ver no governo homens como Ahmed Chalabi, premier entre 2005 e 2006, é um “cliente” da CIA e pensionista do governo americano. Chalabi, o principal informante dos EUA e chamado “o homem que preparou a invasão do Iraque”, perdeu sua cadeira no parlamento na última eleição. Outro nome defendido pelos EUA seria Ilyad Allawi, um líder secular, não religioso, ex-membro do Partido Baath, de Saddan Hussein, e que foi membro do governo de transição entre o governo de ocupação dos EUA e o novo governo livre do Iraque. O que ocorre é que ambos não possuem votos que legitimem suas possibilidades de formar um governo. Mas, tal qual fora no Vietnã do Sul (com Cao Ky e Van Thieu), nos anos de 1960, os EUA insistem na sua política de “nomear” os governantes de países clientes, malgrado os resultados das eleições.

Al-Maliki, acusado no passado de ter organizado atos terroristas contra os Estados Unidos e a França no Oriente Médio, causa, ainda, outros “transtornos” a Washington. Em primeiro lugar, as exigências americanas de extraterritorialidade para todo seu pessoal, incluindo militares, policiais e “contratados” (ou seja, mercenários) americanos no Iraque, foi recusado pelo Gabinete Al-Maliki. Assim, sob pressão da então secretária de defesa Hillary Clinton (entre 2009 e 2013), os Estados Unidos optaram, para melhorar e adornar a política externa “pacifista” de Obama, por uma retirada total de tropas do Iraque. Tratou-se, claramente, de um ato de chantagem: ou os EUA controlavam amplamente as FFAA e a Polícia iraquiana, com a inclusão dominante dos ex-membros do Baath, ou partiriam.

Al-Maliki optou pelo risco e pela manutenção da abaladíssima soberania iraquiana.

Além disso, em dois pontos fundamentais da política externa de Obama para o Oriente Médio, Bagdá contrariava os EUA. Por um lado, estreitou suas relações com o Irã, o maior país muçulmano xiita, governado por um regime hostil a Washington e a Israel, além de se aproximar da Rússia, onde comprou armas de alta performance (a ex-URSS era uma aliada do Iraque). Obama-Clinton tentaram, largamente, impedir as relações amigáveis entre Bagdá e Teerã e Moscou (o Partido “Dawa” de Al-Maliki possuiu fortes vínculos com o clero xiita iraniano) e sabotava claramente a tentativa americana de isolar o Irã.

Da mesma forma, Bagdá ensaiou uma política externa independente em relação às chamadas revoluções das “Primaveras” árabes, em especial na Síria. Para Bagdá, e Teerã, a situação na Síria era, e é, totalmente distinta das demais “primaveras”. Desde cedo denunciaram uma ampla intervenção externa, oriunda do Catar e da Arábia Saudita, com apoio dos Estados Unidos, Turquia e França, para derrubar o regime de Assad, uma coalizão xiita (alawita) e de cristãos, de caráter nacionalista, pan-árabe e anti-Israel.  Teerã e Bagdá denunciaram, desde logo, a intervenção estrangeira e a presença de mercenários e voluntários vindos do Golfo Pérsico, financiados pela Arábia Saudita e armados pela Inglaterra e França, visando derrubar o regime de Damasco.

Na Síria formou-se uma ampla coalizão fundamentalista, sunita, e de caráter altamente intolerante e conservador: a Al-Qaeda, a Frente Al-Nusra e a dissidência “Estado Islâmico do Iraque e do Levante (leia-se, Síria), chamado ISIS, em inglês.

Tal coalizão, no início manipulada pela Arábia Saudita – a possibilidade de unificar uma ampla área de territórios árabes sob sua autoridade e eliminar a influência iraniana na região–, tornou-se cada vez mais autônoma, e acabou por unir-se claramente aos ideais da Al-Qaeda, a qual foi, por fim, superada pela dureza e crueldade do “Estado islâmico do Iraque e do Levante”.

Por fim, Al-Maliki causou grande mal-estar em Washington, e Paris, ao apoiar os grupos pan-arabistas e xiitas no Líbano, onde o Partido “Dawa”, coirmão libanês do “Dawa” iraquiano e também muito próximo de Teerã, enfrentou as tropas americanas e francesas no Líbano.

Assim, nos anos recentes da Administração Barack Obama-Hillary Clinton (2009-2013) – cada vez mais próxima da centro-direita e da direita conservadora americana e dos interesses sauditas nos EUA – deu-se uma clara opção anti-Irã, anti-Dawa, anti-xiíta, baseando-se num triangulo estratégico capaz de dominar o mundo árabe, centrado na Turquia, Israel e Arábia saudita. Por tal opção, obsessivamente anti-iraniana, Washington permitiu o crescimento do fundamentalismo wahabita – o ramo mais radical do Islã sunita, que executa membros do clero xiita e destrói os lugares santos do xiismo -, a formação de um amplo exército e deu a estes uma base territorial, dominando territórios da Síria e do Iraque, fato que a Al-Qaeda jamais conseguira. O mais estranho de tudo, a somar-se a este imenso rol de erros estratégicos, políticos e antropológicos de Washington, é que a morte de Osama bin Laden, fortaleceu e acelerou a luta contra o governo de Bagdá, estabelecido pela invasão americana em 2003. A desaparição da liderança carismática de Bin Laden, entre seus seguidores e simpatizantes, permitiu a emergência de forças dissidentes como o “Estado islâmico do Iraque e do Levante” e a proclamação do “califado”, abrindo uma nova e explosiva realidade no Oriente Médio.

Enfim, os Estados Unidos, agiram como Harry Porter ao ganhar sua primeira varinha mágica: libertaram forças que não conheciam e não controlam. A diferença, crucial, é que neste caso há claro risco de descontrole geral e um amargo fim para os povos locais.
Francisco Carlos Teixeira, é Professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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Brasil: Dilma anuncia a construção de mais 3 milhões de casas populares




Segundo a presidenta, essa é a meta do programa Minha Casa, Minha Vida, que dá subsídios variados para famílias com renda até R$ 5 mil

Najla Passos – Carta Maior

Brasília - A presidenta Dilma Rousseff anunciou nesta quinta (3), em Brasília, a terceira etapa do Programa Minha Casa, Minha Vida, com meta de distribuir mais 3 milhões de unidades habitacionais. A primeira etapa do programa, criado em 2009, distribuiu 1 milhão e a segunda entregará, até o final deste ano, um total de 2,75 milhões.

“A casa própria, nós sabemos, é um sonho de toda pessoa, de toda família, um sonho nem sempre fácil de ser realizado, é verdade. Foi para fazer desse sonho realidade que nós criamos o Minha Casa, Minha Vida, que se tornou o maior programa habitacional da história do Brasil”, disse a presidenta.

Dilma garantiu que o governo continuará subsidiando as casas para as famílias que ganham até R$ 1,6 mil, como já vem ocorrendo. “No passado, políticos e economistas achavam que era um pecado, um pecado mortal o governo federal tirar dinheiro do Tesouro e colocar de subsídio para aqueles que mais precisavam. Nós não achamos isso, não. Nós achamos que é uma virtude, é uma virtude perceber que quem ganha até R$ 1,6 mil não cobre o preço da sua casa própria”, justificou.

O anúncio foi feito no Residencial Paranoá Parque, no Distrito Federal, em cerimônia simultânea com outras realizadas em mais 11 cidades, de sete estados: Belford Roxo e Duque de Caxias (RJ), Betim e Governador Valadares (MG), Curitiba (PR), Jequié (BA), Joinville (SC), Juazeiro do Norte (CE) e Santo André (SP). No total, foram entregues mais 5.460 casas à população. 

O Minha Casa, Minha Vida oferece a famílias com renda de zero a R$ 5 mil subsídios e as melhores condições de crédito para a aquisição da casa própria. Se a família tem rendimento mensal de até R$ 1,6 mil,poderá amortizar o financiamento em 120 parcelas de, no máximo, 5% da renda bruta. Para as faixas de renda superior, há subsídios diversos, descontos em taxas administrativas e seguros, além de financiamento em até 30 anos.

Créditos da foto: Residencial Paranoá Parque, em Brasília, do programa Minha Casa Minha Vida. (Foto: Iano Andrade/Portal Brasil)

Dirceu vira a página e deixa para trás uma das maiores injustiças que lhe foram impostas




José Dirceu estreou nesta quinta-feira (3) em seu trabalho na biblioteca do escritório de advocacia José Gerado Grossi, em Brasília.

Blog do Zé – Carta Maior

Com um dia de trabalho normal, no qual dedicou-se mais a tomar conhecimento das tarefas que desempenhará nos próximos meses em suas novas atividades, o ex-ministro José Dirceu estreou hoje em seu trabalho na biblioteca do escritório de advocacia José Gerado Grossi, em Brasília. Virou a página, deixou para trás uma dos períodos em que sofreu uma das maiores injustiças que já lhe foram infringidas na vida, os quase oito meses em que ficou trancado em regime fechado, ilegalmente, no cumprimento de uma sentença que lhe foi aplicada, desde a primeira hora, para ser cumprida no regime aberto que começou hoje.

“Ele chegou em clima de excitação”, definiu o empregador de Dirceu, o advogado José Gerardo Grossi, ao falar sobre a entrada do mais novo funcionário, que começou a trabalhar perto das 8 horas da manhã. “Ele (Dirceu) chegou muito antes, deveria chegar às 9h. Para o primeiro dia, está bom”, brincou o advogado que conhece o ex-ministro de longa data e  considerou “uma coisa natural, a excitação de uma pessoa há tanto tempo presa e que se vê livre. Você já abriu gaiola de passarinho? Ele sai, canta, roda”.

Grossi afirmou que dedicou as primeiras horas desse dia de estreia mais a conversas com o novo funcionário e a transmitir-lhe instruções sobre a atividade na biblioteca.. “Neste primeiro momento – fazia tempo que não nos falávamos -  tomamos café. Agora que a gente vai cuidar de trabalhar. (…) Conversamos abobrinhas. Ele falou que não tem o que recriminar no sistema penitenciário de Brasília”, revelou o patrão de Dirceu.

Mas o ex-ministro superou hoje apenas uma etapa da grande injustiça que lhe foi imposta. Ele já foi preso político na época em que foi militante na política estudantil e resistiu ao golpe e à ditadura cívico-militar; foi banido pelo regime e expulso do Brasil; exilado; viveu de forma clandestina no país; participou da resistência em grupos como a ALN e outros.

Na AP 470 foi julgado e condenado sem provas tendo como base a esdrúxula teoria do domínio do fato e esta condenação ainda está mantida até que ele possa pedir uma revisão criminal. Mas, agora, passa a cumpri-la dentro da lei, em regime semiaberto, conforme a sentença que lhe foi imposta.

Ex-ministro, mais magro, provoca “inveja” no chefe”

Em tom de brincadeira, o advogado também comentou o fato de Dirceu estar visivelmente mais magro após 7 meses e meio na Papuda. “Eu estou com inveja dele”, declarou.  Dirceu chegou ao escritório de Grossi antes das 8h e teve que esperar cerca de meia hora para que o dono chegasse e abrisse o local. normalmente o escritório só começa a funcionar a partir das 9h.

Grossi adiantou, ainda, que após este 1º dia de dia de trabalho, o ex-ministro já ganha uma folga, porque não haverá expediente no escritório nesta 6ª feira (amanhã), como tem ocorrido na maioria das empresas no Brasil desde o início do Mundial – amanhã, por conta do jogo Brasil x Colômbia, em Fortaleza,  pelas quartas de final da Copa do Mundo.

Dirceu está autorizado a realizar trabalho externo pelo plenário do STF,  conforme explicita o regime semiaberto. Sua transferência para o CPP foi determinada pela juíza Leila Cury, da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal. A determinação da juíza cumpre decisão do plenário do STF que por nove votos a um revogou a decisão pessoal do ex-presidente da Corte, ministro Joaquim Barbosa, que havia negado o pedido de Dirceu de trabalho externo. Barbosa, que se aposentou, argumentava que Dirceu – e demais sentenciados da AP 470 – tinha de cumprir 1/6 da pena antes de começar a realizar trabalho externo.

Ex-presidente do STF contrariou consenso nos meios jurídicos nacionais

Sua interpretação, no entanto, conforme consenso nos meios jurídicos nacionais, contraria jurisprudência firmada nos últimos 15 anos pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), segundo a qual sentenciados ao semiaberto com bom comportamento e que cumpram outros requisitos da lei têm direito ao trabalho externo imediatamente tão logo se entreguem às autoridades e comecem a cumprir a pena.

No caso de Dirceu, Barbosa o manteve trancado em regime fechado durante sete meses, sem exceção de um único dia. Em relação a vários outros da AP 470, ele autorizou o trabalho externo e depois revogou a autorização. Em relação a Dirceu, Joaquim Barbosa também argumentou que o emprego arrumado por ele não era adequado para sua ressocialização porque representa um “arranjo” entre amigos.

Créditos da foto: Arquivo

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Espionagem dos EUA: apenas quatro países são "poupados" de vigilância em massa


Fonte: Washington Post e Vox – clicar para ampliar
Dodô Calixto, São Paulo

Novos documentos mostram que Casa Branca autorizou NSA a espionar 193 países; só Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia se salvam

Reino Unido, Canadá, Austrália e Nova Zelândia. São estes os países que não tiveram autorização do governo dos EUA para ser espionados pela NSA (Agência de Segurança Nacional, na sigla em inglês).

Os quatro integram o Tratado de Segurança Reino Unido-EUA — acordo conhecido como "Cinco Olhos", que estabelece cooperação das nações de origem anglo-saxã com o objetivo de compartilhar informações secretas, especialmente inteligência de interceptação de sinais.

Já os outros 193 países do mundo foram incluídos no sistema de vigilância massiva norte-americano, revelou nesta terça-feira (07/01) o jornal Washington Post.

O esquema de espionagem massiva já era conhecido pela comunidade internacional desde meados de 2013 com as denúncias de Edward Snowden. No entanto, o seu real alcance no mapa mundial só veio à tona com o vazamento do novo documento da NSA. Países aliados da União Europeia, toda América Latina e até mesmo o Vaticano foram espionados.

Além dos 193 países e seus dirigentes, o governo norte-americano autorizou que a NSA espionasse entidades internacionais como a ONU (Organização das Nações Unidas), Banco Mundial, FMI (Fundo Monetário Internacional), Mercosul, Liga Árabe, União Europeia, entre outras. Organizações internacionais de direitos humanos também foram espionadas.

A autorização legal outorgada pelo governo norte-americano, que supervisiona solicitações de vigilância contra supostos agentes de inteligência estrangeiros dentro dos EUA pelas agências de segurança federais, data de 2010.

O jornal Washington Post ressalva que a permissão obtida pela NSA não quer dizer que a agência esteja espionando todos os países e entidades mencionadas. 

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O FACEBOOK ENSAIA A MANIPULAÇÃO DE MENTES




Sem consentimento dos usuários, rede testa meios de torná-los “felizes” ou “coléricos” e desencadeia onda de temor sobre controle social e político

Robert Booth, no The Guardian  - Outras Palavras - Tradução: Gabriela Leite

Ele já sabe se você está solteiro ou em um relacionamento; a primeira escola onde estudou;  se ama ou odeia Justin Bieber. Mas agora o Facebook, a maior rede social do mundo, está enfrentando uma tempestade de protestos ao se revelar que descobriu como fazer usuários se sentirem mais tristes ou felizes, com apenas alguns toques no teclado.

O Facebook acaba de publicar detalhes de um amplo expermiento, no qual manipulou informações postadas nas páginas de 689 mil usuários, e descobriu que poderia fazê-los sentir-se mais positivos ou negativos, por meio de um processo de “contágio emocional”.

Em um estudo [leia o relatório] com acadêmicos da Universidade de Cornell e da Universidade da Califórnia, o Facebook filtrou o feed de notícias de usuários — a corrente de comentários, vídeos, imagens e links postados por outras pessoas em sua rede social. Um teste reduziu a exposição de usuários ao “conteúdo emocional positivo” de seus amigos. Em consequência, os usuários submetidos a este conteúdo manipulado também postavam menos posts positivos. Outro teste reduziu a exposição a “conteúdo emocional negativo”: os usuários reagiram de maneira oposta à do  primeiro grupo.

O estudo concluiu: “Emoções expressas por amigos, via redes sociais, influenciam nossos próprios humores, constituindo, segundo sabemos, a primeira evidência experimental de contágio emocional em escala maciça, via redes sociais.”

Advogados, ativistas que debatem o futuro da internet e políticos afirmaram, neste final de semana, que o experimento de massa sobre manipulação emocional era “escandaloso”, “assustador” e “incômodo”.

Na noite de domingo, um membro experiente do Parlamento Britânico pediu uma investigação parlamentar sobre como o Facebook e outras redes sociais manipularam respostas emocionais e psicológicas de seus usuários, ao editar informações oferecidas a eles.

Jim Sheridan, um membro do comitê de mídia da Câmara dos Comuns britânica, disse que o experimento era intrusivo. “Trata-se de algo extraordinariamente poderoso, e se ainda não há uma legislação para isso, deveria haver, para proteger as pessoas”, disse. “Estão manipulando informações da vida pessoal de seres humanos, e me preocupa a capacidade do Facebook e de outros para manipular os pensamentos relacionados a política ou outras áreas. Se as pessoas estão sendo controladas dessa maneira, segundo o que pensam, é necessário que haja uma proteção, e elas precisam ao menos ter consciência disso.”

Uma porta-voz do Facebook disse que a pesquisa, publicada este mês na revista de Procedimentos da Academia Nacional de Ciências dos EUA, foi realizada para “melhorar nossos serviços e tornar o conteúdo que os usuários veem no Facebook o mais relevante e envolvente possível”.

Ela acrescentou: “Uma grande razão da pesquisa é entender como as pessoas respondem a tipos diferentes de conteúdo, seja em um tom positivo ou negativo, notícias de amigos, ou informações sobre as páginas que seguem.”

Mas alguns outros comentaristas expressaram receio de que o processo poderia ser usado para propósitos políticos em disputas eleitorais ou para encorajar internautas a se manterem focados no site, alimentando-os com pensamentos felizes, e permitindo bombar as receitas de publicidade do próprio Facebook.

Em uma série de posts no Twitter, Clay Johnson, o co-fundador da Blue State Digital, a empresa que construiu e gerenciou a campanha online de Barack Obama à presidência em 2008, disse: “O experimento do Facebook de ‘trasmissão de raiva’ é aterrorizante.”

Ele pergunta: “A CIA poderia iniciar uma revolução no Sudão pressionando o Facebook a promover descontentamento? Isso seria legal? Mark Zuckerberg poderia virar o resultado de uma eleição ao promover posts do Upworthy [um site que agrega conteúdo viral] duas semanas antes de os cidadãos irem às urnas? Isso seria legal?”

Alega-se também que o Facebook possa ter quebrado normas éticas e legais, ao não informar seus usuários que estavam sendo manipulados no experimento, realizado em 2012.

A rede afirmou que alterar o feed de notícias foi “consistente com a política de uso de dados do Facebook, com a qual usuários devem concordar antes de criar uma conta no Facebook, constituindo consentimento informado para esta pesquisa”.

Mas Susan Fiske, acadêmica de Princeton que editou o estudo, disse estar preocupada. “As pessoas devem ser avisadas quando vão participar de estudos e concordar com isso, além de terem a opção de discordar sem serem penalizadas.”

James Grimmelmann, professor de Direito da Maryland University, disse que o Facebook não obteve “consentimento informado”, segundo os padros definidos pela política federal dos EUA para a proteção da subjetividade das pessoas. A lei demanda explicação sobre os propósitos da pesquisa e a duração estimada de participação do indivíduo, uma descrição de quaisquer riscos razoavelmente previsíveis e uma confirmação de que o envolvimento é voluntário. “Este estudo é um escândalo porque trouxe as práticas problemáticas do Facebook a um reino — a academia — onde ainda temos como padrão tratar pessoas com dignidade e servir ao bem comum”, disse em seu blog.

Não é novidade para as empresas de internet usar algorítimos que selecionam o conteúdo que mostram aos seus usuários. Jacob Silverman, autor do livro Terms of Service: Social Media, Surveillance, and the Price of Constant Connection (em tradução livre, “Termos de serviço: mídias sociais, vigilância e o preço da conexão constante”),disse à revista Wired, no domingo, que a internet já é “uma coleção ampla de estudos de pesquisa de mercado; nós somos os objetos”.

“O que é perturbador sobre como o Facebook agiu sobre isso, entretanto, é que eles essencialmente manipularam os sentimentos de centenas de milhares de usuários sem pedir permissão”, disse. “As coisas com as quais o Facebook mais se importa são as seguintes: envolvimento e publicidade. Se o Facebook, digamos, decide que filtrar nossos posts negativos ajuda-o a manter as pessoas felizes e clicando, há pouco motivo para pensar que eles não irão fazê-lo. Enquanto a plataforma se mantiver na condição de um filtrador tão decisivo — e conservar seus algorítimos completamente opacos — nós devemos ficar cautelosos com o poder e confiança que delegamos a ele.”

Robert Blackie, diretor digital da agência de marketing Ogilvy One, disse que a maneira que as empresas de internet filtram informações que mostram a seus usuários é fundamental para seus modelos de negócio, o que as faz relutantes para abri-los.

“Para garantir aceitação continuada de público, estas empresas terão que rediscutir tal questão de maneira mais aberta no futuro”, ele disse. “Será preciso introduzir ou críticos independentes, capazes de analisar o que elas fazem, ou regulação governamental. Se o Facebook e similares não compreenderem isso, as pessoas ficarão relutantes ao utilizar seus serviços, o que é potencialmente um grande problema de negócios.”

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PORTUGAL: A PERDA DO PODER DE COMPRA




*Chamar “democracia” a um sistema em que meia dúzia de ditadores “ditam” aos portugueses em quem é que eles têm “licença” de votar, para eleger deputados é algo que não compreendo. A democracia é, por definição, o sistema em que o poder reside nos cidadãos e não apenas numa ou num reduzido número de pessoas. 

Miguel Mota – Público, opinião

A grande maioria dos portugueses vai continuar a perder ainda mais o seu já baixo poder de compra

É certamente normal que qualquer povo deseje sempre melhorar o seu nível de vida. Isso é o que tem sucedido nos países que podem e sabem ter governos que desenvolvem a economia e, além de aumentarem a produção, melhoram a distribuição da riqueza, de forma a diminuir o fosso entre pobres e ricos.

Em Portugal, desde o governo de Guterres, tem sucedido o inverso e a grande maioria da população – a chamada “classe média”, que fica entre os indigentes (pobres) e os de avultados proventos (ricos) – tem visto o seu poder de compra descer, descida que foi acelerada enormemente desde 2005.

Tem sido declarado por dirigentes vários que muitos portugueses se endividaram exageradamente e sem pensar. Daí resultou não serem capazes de cumprir os seus compromissos, especialmente para com os bancos. O que esses dirigentes escondem é que, na enorme maioria dos casos, esses portugueses pediram empréstimos que eram compatíveis com o seu nível de proventos. É óbvio que, ao sofrerem o maior corte de sempre no seu poder de compra, muitos deixaram de poder cumprir os seus compromissos.

Não pretendo dar a ideia de ser uma pessoa que sabe tudo. Mas, perante o que se me afigura serem erros elementares (alguns verdadeiramente clamorosos), que nem sempre vejo denunciados e ainda menos acompanhados do que podia e devia ser feito, algo tenho escrito. E não só sobre matérias em que, por dever profissional, é minha obrigação ter alguma competência – a investigação científica, o ensino e a agricultura –, mas até noutras de que não sou especialista nem nunca pratiquei, como é o caso da política. Chamar “democracia” a um sistema em que meia dúzia de ditadores “ditam” aos portugueses em quem é que eles têm “licença” de votar, para eleger deputados é algo que não compreendo. A democracia é, por definição, o sistema em que o poder reside nos cidadãos e não apenas numa ou num reduzido número de pessoas. Sendo eu o detentor do poder, considero que a mais importante liberdade é a de delegar esse poder, para legislar e governar, em quem eu desejar. Essa era, para mim, na outra ditadura, a falta de liberdade mais importante, pois, embora os cidadãos se pudessem candidatar a deputados, os entraves à propaganda e eventuais manipulações faziam com que apenas fosse eleita a lista da União Nacional. Muito mais importante do que aquela estúpida censura e falta de liberdade de expressão de que, obviamente, também não gostava. Aos portugueses chega-lhes a liberdade de expressão (que inclui o “direito” de insultar e apedrejar) para se considerarem em democracia. Então, se se queixam do Governo que elegeram, só têm de se queixar de não ter eleito um melhor.

Em nada incomoda os portugueses só poderem candidatar-se a deputados se estiverem nos altos postos de um partido, ou se fizerem um novo partido. Nem se fala na alteração dos Artigos 149.º e 151.º da Constituição, como já propus, para haver eleições livres.

Ao que tudo indica, a grande maioria dos portugueses vai continuar a perder ainda mais o seu já baixo poder de compra. A excepção é a minoria de ricos, que vai continuar a engordar as suas fortunas, num escandaloso aumento do leque salarial.

*Destaque de parágrafo em Página Global

Harald Schumann: "O verdadeiro objectivo dos 'planos de resgate' foi salvar os bancos"




Entrevista

PAULO PENA - Público

Harald Schumann, jornalista alemão que está a realizar um documentário sobre a troika, explica ao PÚBLICO por que acusou o Governo português de "censura".

Há uma semana, na conferência de imprensa de rotina do Conselho de Ministros, Luís Marques Guedes, o ministro da Presidência, foi interpelado, em inglês, por um jornalista que se queixava do silêncio do Governo português perante as suas perguntas. A imagem passou nas televisões. Harald Schumann, editor do diário berlinense Tagesspiegel, e autor do livro A Armadilha da Globalização esteve em Portugal a filmar um documentário para o canal Arte, sobre o efeito da troika nos países intervencionados.

É o seu segundo documentário depois da crise financeira. O primeiro chamou-se “Quando a Europa salva os bancos quem paga?”. Vista por seis milhões de europeus, esta investigação de Schumann pode ter causado má impressão nos governantes portugueses. Foi, pelo menos, isso que lhe disseram, para justificar o silêncio de Carlos Moedas, Maria Luís Albuquerque e Pedro Mota Soares…

O que se passou na conferência de imprensa?

Nós estávamos há várias semanas a pedir entrevistas à ministra das Finanças e ao ministro do Emprego, e também ao coordenador do programa de ajustamento, o secretário de Estado Carlos Moedas. Mas os nossos pedidos ou eram adiados ou nem sequer recebiam resposta. Quando a equipa de filmagens chegou e iniciámos a rodagem, na semana passada, foi-nos transmitido, por porta-vozes, que os ministros e o secretário de Estado não queriam ser entrevistados para o documentário. Por isso perguntei ao ministro Marques Guedes a que se devia esta recusa peremptória de colaborar com um filme que será difundido em, pelo menos, seis países europeus. O senhor Guedes apenas disse que não lhe cabia comentar as recusas dos colegas e que devíamos continuar a tentar.

E que razões vos deram para manter a recusa?

Oficialmente, disseram-nos que os governantes não queriam participar num documentário que só será exibido em Janeiro próximo e que, até lá, muitas coisas poderiam acontecer, tornando os seus depoimentos desactualizados. Como o que queríamos deles era uma avaliação do que aconteceu ao longo do programa de ajustamento, creio que estas razões não são credíveis. Nos bastidores, mais tarde, fomos informados de que a minha “má reputação” teria sido a razão fundamental para que recusassem qualquer entrevista.

Como é que interpreta isso?

Bom, só pode querer dizer que o facto de eu ser conhecido como um jornalista crítico, independente, me causou má reputação neste Governo. Infelizmente, isso confirma o problema básico de toda a operação da troika de credores na crise da zona Euro: O chamado ajustamento está organizado de uma forma opaca, por vezes arbitrária ou até ilegal. Os seus responsáveis sabem-no, e pretendem evitar perguntas críticas.

O seu documentário é sobre o efeito da troika. Onde tem filmado, além de Portugal?

Até agora estivemos na Grécia e em Portugal. Na próxima semana filmaremos na sede do FMI, em Washington. Mais tarde iremos à Irlanda e ao Chipre e, é claro, a Bruxelas e a Frankfurt, para entrevistar os responsáveis da Comissão Europeia e do BCE. 

Até agora, o que vos foi possível observar?

A ideia de resolver o problema da dívida através da austeridade falhou completamente. A dívida é agora ainda mais insustentável do que era, há três anos. Os programas são, também, extremamente enviezados. Todo o fardo é assumido pelos trabalhadores e pelos contribuintes normais, enquanto as elites privilegiadas, que conseguem evadir a sua riqueza através dos offshores, e que são as maiores responsáveis pela crise, até conseguem lucrar com os programas de ajustamento. Por exemplo, quando conseguem comprar activos valiosos ao Estado a preços de saldo.

Essa é, até agora, a vossa principal conclusão?

O “resgate” errado, que apenas salvou os investidores estrangeiros, principalmente alemães, de perderem nos maus investimentos que fizeram, mina a confiança nas instituições democráticas dos países afectados. Os Governos e os Parlamentos desses países parecem ser apenas marionetas nas mãos de desconhecidos, e não eleitos, burocratas estrangeiros. E, ou, de investidores.

O que mais o surpreendeu na situação portuguesa?

O facto de terem tido - em proporção - a maior manifestação de todos os países em crise, mas que não teve qualquer impacto… Se, na Alemanha, 10% da população saísse à rua para protestar, o que significaria uma manifestação de 8 milhões de pessoas, nenhum Governo sobreviveria a isso intacto.

Os cidadãos alemães estão conscientes do que se passa nos países da periferia?

Infelizmente, não. De modo nenhum. A maioria dos alemães acredita realmente que o seu Governo está a “ajudar” os gregos e os portugueses com “dinheiro dos contribuintes”.

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