Folha
8 Digital (ao), 10 dezembro 2015
Depois
de um tempo em obras ditas de reestruturação e a pedido daqueles que sempre
que ouvem falar de liberdade puxam da pistola, o Semanário Angolense foi
assassinado. Os donos disto tudo não brincam em serviço.
Como
revelou a Voz da América, o antigo director de Informação, Agostinho Rodrigues,
confirma o encerramento do Angolense, mas diz desconhecer quem são os novos
proprietários do espólio nem que destino terá.
Outro
jornalista que fica no desemprego com o encerramento do jornal é Makuta
Nkondo, que conta como soube da notícia: “Dois dias antes do Natal comunicaram-nos
o fecho definitivo do jornal, com o formato actual, e pagaram-nos três meses de
salários contra os demais que nos deviam e sem o décimo terceiro”.
Makuta
Nkondo disse à VOA que o salário base de um jornalista no jornal era de 48 mil
cuanzas, o equivalente a 480 dólares, e não houve qualquer negociação para
efeitos de indemnização.
O
jornalista acredita que esta é mais uma medida para silenciar a imprensa no
país. E é mesmo. Aliás, corresponde à suprema estratégia do regime, que pretende
uniformizar a forma de os angolanos pensarem. E como os jornalistas (não
confundir com os sipaios e mercenários que trabalham em meios de comunicação
social) pensam, a melhor forma de os reeducar é pelo desemprego ou, ainda, por
os levar a chocar com algumas balas perdidas.
Makuta
Nkondo diz: “Significa que neste momento o único jornal privado e independente
que sobrou é o Folha 8, de William Tonet. O MPLA pretende impor-nos o Jornal
de Angola, que eu considero de Pravda, a Radio Nacional de Angola, que é a
rádio Moscovo, e a TPA, autêntica televisão soviética”.
Segundo
Nkondo, “os ditos privados como a rádio Despertar, da UNITA, e rádio Eclésia,
da Igreja Católica, fazem a mesma coisa com listas de pessoas proibidas de
falar, como eu próprio que estou proibido de falar na Despertar e na Eclésia”.
Por
sua vez, Teixeira Cândido, porta-voz do Sindicato dos Jornalistas Angolanos,
diz que o foram apanhados de surpresa.
“Não
acredito que alguém compre um título para extingui-lo um ano depois, isto
deixa o Sindicato surpreso e estupefacto com isto de comprarem jornal e depois
guardar na gaveta, não é uma situação normal”, considera Teixeira Cândido,
para quem “de certo modo é um ambiente de intranquilidade para a classe jornalística
e para o próprio jornalismo”.
Um
dos directores do referido jornal, Joaquim Maciel, assegurou à VOA que não
conhece quem são os novos donos e nem sabe que futuro reserva a publicação
reestruturada.
A
verdade é que o regime gizou, nos últimos anos, uma estratégia para “assassinar”
a imprensa privada, cuja pujança assentava em títulos de vários proprietários.
Pensava-se então que Angola caminhava para a democracia e para ser um Estado de
Direito.
Preocupado
com a diversidade de opinião, muitas descomprometidas com as amarras do poder,
o governo/MPLA nada mais fez do que estabelecer uma OPAC (Oferta Pública de
Aquisição Coerciva) sobre os meios de comunicação sociais privados.
Ou
seja, Semanário Angolense (com uma cláusula, impedindo os seus jornalistas de
voltarem a escrever, durante um longo período); A Capital; Agora; Independente
e Factual (ambos ligados a agentes da Segurança de Estado); Angolense; Novo
Jornal; Continente.
Com
a aquisição destes órgãos e o controlo absoluto, total e inequívoco dos meios
de comunicação sociais públicos: Rádio Nacional, Jornal de Angola, Televisão de
Angola (canal II e TPA Internacional, entregues sem concurso público a dois
filhos do Presidente da República, Tchizé dos Santos, também deputada, e Zédu
dos Santos) e ANGOP – Agência de Notícias, o regime deixou de ter na imprensa
um elemento fiscalizador e de denúncia, porquanto agora tudo é a voz do dono.
Nesta
selva a única excepção é o Folha 8, alvo de todas as perseguições e chantagens,
destacando-se os 98 processos judiciais conhecidos contra o nosso director,
William Tonet. Conhecidos porque deverão haver muitos outros, assinados em
branco, prontos a saltarem da gaveta dos donos do país.
Com
esta estratégia que contraria a Lei de Imprensa e das sociedades comerciais,
que proíbem a existência de monopólios, foram criados, com um toque de mágica,
vários grupos empresariais de homens do poder, sem qualquer capital financeiro,
mas munidos apenas de capital partidocrata, como arma bastante para escancarar
as portas do Banco Espirito Santo e de lá tirarem os milhões de dólares para
corromper jornalistas e adquirir os seus jornais.
Milhões
esses que também se estenderam a Portugal, onde são cada vez mais as empresas
de comunicação social que estão nas mãos de homens do regime e que, como
outras, também ajudam a branquear o que for necessário.
Todos
nos recordamos que uma legião de gestores e jornalistas portugueses, foram
então desembarcando por cá para dirigir as novas pérolas dos dirigentes angolanos,
com salários chorudos, nunca antes praticados no mercado, tudo visando matar a
liberdade de imprensa e de expressão e assim amordaçar a incipiente
democracia.
Porquê
os Jornalistas? Porque a verdade é incómoda.
Em
Angola, mas não só, apesar da guerra que o Governo-regime move aos Jornalistas,
não faltam ministros, deputados e políticos em geral (todos de pistola no
bolso) a dizer que a liberdade de Imprensa é um valor sagrado. Sagrado sim
desde que não toque nos interesses instalados, desde que só diga a verdade
oficial.
No
tempo em que existiam Jornalistas, dizia-se que se o jornalistas não procura
saber o que se passa é um imbecil, e que se sabe o que se passa e se cala é um
criminoso.
Hoje,
o “jornalista” que não procura saber o que se passa é inteligente, e o que
sabe o que se passa e se cala é um óptimo assessor, deputado, administrador ou
até ministro.
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