Díli,
14 jan (Lusa) - O presidente do Parlamento Nacional de Timor-Leste (PNTL)
lamentou hoje a decisão da Assembleia da República (AR) de mandar regressar
cinco dos seis assessores que estavam em Díli, apelando a que, por questões
estratégicas, "reconsiderem" a medida.
"É
uma responsabilidade histórica, já não digo de Portugal, mas através de um
órgão de soberania tão importante como a AR, que já foi responsável pelo
nascimento e pelo crescimento deste parlamento, que tem de ter uma visão mais
estratégica", disse Vicente da Silva Guterres em entrevista à Lusa.
"Espero
que não vejam isso como uma simples questão técnica, mas sim como uma questão
estratégica de cooperação entre duas instituições de dois países. E temos
várias iniciativas legislativas importantes este ano e estamos um pouco aflitos
para poder responder a estes desafios e responder com qualidade", disse.
Em
causa estão cinco dos seis funcionários da AR que estavam a trabalhar em
Timor-Leste: dois juristas e quatro assessores, um financeiro, um informático
outro de protocolo e outro de arquivo e documentação.
Desse
grupo já regressaram a Portugal três assessores - informático, arquivo e
documentação e protocolo -, devendo até ao final de fevereiro regressar um dos
dois juristas e a assessora financeira.
Permanecerá
apenas em Timor-Leste uma funcionária da AR, que atualmente cumpre funções como
assessora do presidente do PN.
Os
funcionários que regressam a Portugal não representam um custo para Lisboa já
que a sua presença é financiada pela UE através do PNUD.
Vicente
da Silva Guterres disse que soube da decisão em "outubro ou novembro"
mas de forma definitiva numa carta enviada pelo secretário-geral da AR, Albino
de Azevedo Soares, ao seu congénere timorense, Mateus Ximenes Belo, a 28 de
novembro.
Apesar
da decisão coincidir no tempo com a polémica em torno à expulsão de Timor de
magistrados timorenses, Vicente Guterres disse esperar que esta decisão
"não tenha qualquer relação com essa questão".
Fonte
da AR disse à Lusa que a decisão foi justificada com a falta de quadros no
parlamento português, o que justifica a não permanência prolongada de quadros
fora de Portugal, mantendo-se porém a disponibilidade para cooperar,
pontualmente, com o PNTL.
Não
foi possível à Lusa, apesar de várias tentativas, obter um comentário da AR.
"Esse
apoio, tal como está o PN timorense, não pode ser um apoio pontual mas tem que
ser um apoio sistemático, continuado para que possa dar oportunidade a que
congéneres timorenses possam depois aprender. Isso não se faz de um ano para o
outro", argumentou o presidente do parlamento timorense.
Vicente
Guterres recordou que a AR está intimamente ligada à história do parlamento
timorense e que o acordo de cooperação é "estratégico" para o futuro
da instituição.
"Aposta
em reforçar e fortalecer, com uma visão estratégica, de maior cooperação do
parlamento com a AR, para através dos seus técnicos e assessores permita ao PN
um desenvolvimento mais sistemático e sustentável pelo menos neste mandato de
cinco anos", referiu.
"Só
outro parlamento pode compreender um parlamento em construção e
desenvolvimento. Em termos estratégicos só com uma cooperação mais estreita com
a AR teremos a médio e longo prazo um PN timorense que possa atingir níveis de
qualidade de qualquer outro parlamento moderno, democrático", acrescentou.
Os
funcionários estavam em Timor-Leste ao abrigo de um protocolo de cooperação parlamentar
de abril de 2013 e em vigor pelo menos quatro anos, assinado pelo presidente do
PNTL, Vicente da Silva Guterres e pela presidente da AR, Maria da Assunção
Esteves.
Esse
protocolo prevê a assistência técnica nas áreas de redação legislativa, transcrição,
relações internacionais, documentação e arquivo e informática, além do ensino
do português.
A
este protocolo soma-se o "programa de cooperação técnica parlamentar"
entre os dois parlamentos que define os aspetos da cooperação e que estará em
vigor pelo menos até final de 2016.
Entre
outros aspetos o texto reconhece que as missões dos funcionários da AR terão
sempre em consideração "as necessidades do PNTL e a disponibilidade
técnica, humana e financeira" da AR.
ASP
// FV
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