Jerónimo
de Sousa não gostou dos modos com que Passos Coelho se referiu à Grécia, a
repetir "os estereótipos e as opiniões preconceituosas das elites
económicas e políticas de alguns países do norte da Europa, a começar pela
Alemanha."
O secretário-geral do PCP considerou hoje que a Grécia "tem sido objeto de escárnio do Governo português" e defendeu a realização de uma conferência intergovernamental europeia para discutir a dívida, não apenas a grega, mas a "de todos".
O secretário-geral do PCP considerou hoje que a Grécia "tem sido objeto de escárnio do Governo português" e defendeu a realização de uma conferência intergovernamental europeia para discutir a dívida, não apenas a grega, mas a "de todos".
Portugal,
disse Jerónimo de Sousa, num comício em Évora, tem um serviço de dívida anual
que "é maior, em percentagem do Produto Interno Bruto [PIB], ao da
Grécia", país que "tem sido objeto de escárnio do Governo
português".
"Um
comportamento inaceitável" e que "nos envergonha quando, despido de
qualquer brio patriótico, repete os estereótipos e as opiniões preconceituosas
das elites económicas e políticas de alguns países do norte da Europa, a
começar pela Alemanha, contra os países do sul, onde se inclui o nosso", frisou.
A
cigarra e a formiga
A analogia à história da cigarra e da formiga é exemplo dessas opiniões do norte contra o sul, sublinhou o líder comunista, acrescentando: "Nem a Grécia é a cigarra, nem Portugal o é ou foi, como o têm insinuado".
Para
Jerónimo de Sousa, que discursava no Teatro Garcia de Resende, em Évora,
durante um comício comemorativo dos 40 anos da Reforma Agrária, a
"insofismável verdade" é que a dívida pública de Portugal "é
cada vez mais insustentável". A dívida pública, argumentou, ronda os
"130% do PIB", ou seja, "excede em muito qualquer limiar de
sustentabilidade".
A
renegociação da dívida é, assim, "uma necessidade e um imperativo
nacional", pois o país "não pode estar hipotecado a uma dívida que
consome os rendimentos das famílias, os recursos do país e que impede o
crescimento económico e o desenvolvimento da produção", alegou.
"Guardiães
do templo e da ortodoxia neoliberal e monetarista e das regras da
'troika'"
Esta semana, o grupo parlamentar do PCP decidiu propor um projeto de resolução a recomendar a realização de uma conferência intergovernamental sobre a renegociação da dívida pública e a revogação do tratado orçamental, depois de o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, ter já recusado a ideia.
Na
intervenção, no comício de hoje, que encheu o Teatro Garcia de Resende,
Jerónimo de Sousa insistiu na necessidade desta conferência e acusou Passos
Coelho e o vice-primeiro-ministro, Paulo Portas, de agirem "ao arrepio do
que são os verdadeiros interesses do país".
"Assumindo-se
como guardiães do templo e da ortodoxia neoliberal e monetarista e das regras
da 'troika', repisando os argumentos germânicos, vieram bradar 'aqui d'el-rei'
contra a possibilidade de uma conferência para a reestruturação da
dívida", acusou.
Mas
a conferência proposta, defendeu, "não é para discutir a dívida de um só
país, como maldosamente se insinua, mas de todos. A dívida dos gregos, dos
irlandeses, dos cipriotas, dos espanhóis, dos italianos, dos belgas e a nossa
dívida, a dos portugueses. É para resolver os problemas dos povos e não o
contrário".
"Eles
não querem a conferência, nem renegociar a dívida e discutir o tratamento
orçamental, porque querem continuar a ter pretexto para chantagear os povos,
para continuar a política de sufoco popular, de exploração do trabalho e de
rapina nacional do futuro. Falam de viragem e de recuperação, mas é até às
eleições", argumentou.
Lusa,
em Expresso (ontem)
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