Sílvia
de Oliveira – Dinheiro Vivo, editorial
O
clima gelou com a divulgação, pelo INE, dos últimos dados do desemprego em Portugal. Compreensível.
A taxa de janeiro passou de uns provisórios 13,3% para um
valor definitivo de 13,8%, em alta de cinco décimas; e o valor provisório do
desemprego em fevereiro, agora anunciado, fixou-se, também a subir, em 14,1%.
O
primeiro-ministro admitiu que se tratou de uma "revisão
sensível", mas acrescentou que estes dados "não são um embaraço para
o governo" e pediu ao INE que "apresente um fundamento sério"
para a revisão.
Merece
resposta, mas, admitindo que estes valores refletem apenas alterações
metodológicas, mais importante do que saber o que justifica os dados revistos
pelo INE é tentar perceber o que, realmente, se passa: o desemprego
em Portugal parou de cair?
Verifica-se
uma inversão da tendência, ou seja, o desemprego vai voltar a subir? E para
isso ainda é preciso esperar uns meses.
Para
já, os economistas antecipam uma estagnação, ou seja, admitem que os números
permaneçam entre os 13% e os 14% - valores bem mais baixos do que o
máximo de 16,9%, mas ainda assim inaceitáveis, como bem lembrou nesta semana
Angel Gurría, o secretário-geral da OCDE.
Nunca
se percebeu, aliás, a festa feita pelo governo a cada descida publicada pelo
INE. Bruxelas e o FMI têm avisado que os níveis de desemprego em Portugal vão
manter-se elevados.
As
previsões não são, de facto, "vacas sagradas", conforme
sublinhou Passos Coelho, mas se a economia vai crescer lentamente - mesmo os 2%
de Cavaco Silva não são nenhuma fartura -, se o investimento privado não vai
disparar e se não estão previstas políticas públicas reforçadas de criação de
emprego, onde está a surpresa?
As
previsões podem falhar, a realidade até pode superar as melhores estimativas,
mas a verdade é que falamos sempre de décimas.
O
desemprego continua e continuará a ser um problema grave da economia portuguesa,
e não se prevê que deixe de o ser tão cedo. O primeiro-ministro bem pode pedir
que as previsões de organismos internacionais se aproximem do país, mas o que
fazer se é este o que temos?
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