segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

BOOMERANG GEOESTRATÉGICO



 Martinho Júnior, Luanda

1 – O derrube do bombardeiro SU-24 da Rússia no Iraque, obrigou finalmente a Rússia, na sua intervenção na Síria, a subir a fasquia dum ambiente táctico para um ambiente geo estratégico, de forma que toda a resposta da coligação norte-americana fosse esgrimida sem remissão contra a parede, com riscos de, com a força do impacto na parede, se esfarelar em todas as direcções, algo que não podiam esperar a qualquer nível de observação os “think tank” do “ocidente”.

O Presidente Putin, desequilibrou a balança a seu favor no Oriente Médio, com sua inteligente manobra política e diplomática a quente sobre os acontecimentos, uma manobra que foi acompanhada por provas objectivas contra o jogo de Erdogan, recolhidas dos ambientes operativos da região, onde a superioridade militar e de inteligência russa se foi evidenciando, pelo que os Estados Unidos dão sinais de não ter outra alternativa senão entender-se com a Rússia em relação à Síria, indiciando estarem tentados a abandonar à sua sorte Erdogan, também por causa de insustentáveis pressões europeias no quadro da NATO.

O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan cometeu o maior erro de avaliação geo estratégica de sua vida política ao decidir-se pelo derrube do bombardeiro russo que estava a operar contra o auto proclamado Estado Islâmico no noroeste da Síria e não possuía defesas para fazer face à ameaça de caças inimigos ao nível dos F-16.
  
2 – Todas as provas que a Rússia foi acumulando face à contínua decifragem dos acontecimentos, permitem concluir que a Turquia, ao aceitar tornar-se na base logística que permite a sustentação do EI, é na verdade, com o actual governo de Erdogan, a assumpção do próprio Estado Islâmico, comparável ao governo da Irmandade Muçulmana no Egipto, chegando ao extremo de trair a linha de orientação republicana do fundador da Turquia moderna, Mustafa Kemal Ataturk.

Assim sendo cai por terra toda a campanha visando derrubar o Presidente síro Bashar al-Assad, uma campanha que servia a Erdgan, como às monarquías arábicas (Arábia Saudita e Qatar) e ao Paquistão, para manipular a frente terrorista instalada no Médio Oriente, fundamentalmente o DAESH e a Al Nushra e para garantir a campanha de propaganda que encobria suas verdadeiras intenções.


Erdogan está desmascarado como um autêntico chefe-de-fila do DAESH e como tal toda a propaganda contra o Presidente sírio torna-se num “bluff”, deixando o “ocidente” a braços com o doloroso dilema de, ao sustentá-lo, continuar tácitamente na senda da perversa manipulação que constitui o DAESH e a Frente Al Nushra, quando todo o conluio já está desmascarado.


3 – A NATO está sob efeito traumático do “boomerang” da geo estratégia russa que está a tirar todo o partido do desmascaramento do clã do “infeliz” Erdogan.

Neste momento ele está a vegetar embaraçado na sua fulminada capacidade de decisão: a Turquia nestes termos torna-se incapaz de ser enquadrada na solução dos problemas porque é afinal uma peça fundamental do terrorismo jihadista, ou seja, nestes termos assume-se como factor vital do próprio Estado Islâmico.

O seu jogo operativo no Iraque fica também automáticamente desmascarado e inútil, não havendo mais argumentação que a salve, a não ser o da retirada imediata e incondicional de suas forças do territorio iraquiano.

Por outro lado, se a operação ao nível táctico da Rússia na Síria já eclipsara o efeito propagandístico do exercício “Trident Juncture 2015”, a passagem da resposta russa ao nível geo estratégico, inibindo os próprios Estados Unidos, obriga os estados europeus membros da NATO a rever todas as suas opções face aos riscos que se levantam (extensão do jihadismo a toda a Europa e invasão de refugiados “catapultados” propositadamente pela Turquia, que se escusa à filtragem dos jihadistas que devassam impunemente seu território).

As intervenções francesa e britânica só serão exequíveis se estiverem de acordó com a Rússia reconhecendo ao mesmo tempo que Bashar alAssad é parte da solução e não do problema, no ámbito do respeito de não ingerência que o “ocidente” tanto deve à Síria como deveu antes ao Iraque, à Líbia e a um sem número de outros…

Ou procuram com a Rússia uma opção honrosa e airosa (com o reconhecimento de Bashar al-Assad), ou estão perdidos com Erdogan que os está a “afundá-los” face à carga negativa do Estado Islâmico.

4 – No que diz respeto ao golpe que o projecto do oleoducto “Turkish Stream” sofreu, a União Europeia pode finalmente ser conduzida a rever outras opções, para além das que foram construídas entre a Rússia e a Alemanha no Báltico.

A hipótese do “South Stream” vir a ser reequacionado (circundando a sul a Ucrânia via Mar Negro) é agora maior, dependendo do grau de “acertos” dos Estados Unidos com a Rússia, que com uma economía muito mais diversificada que o “ocidente” supunha, faz com que o Presidente Putin“espere sentado” no rescaldo do “efeito boomerang” provocado por Erdogan num momento tão crítico para a União Europeia.

É sintomático que os aviões británicos tenham tanta dificuldade em operar contra o Estado Islâmico a partir de Chipre, é sintomático que a força-tarefa que a França deslocou com o porta-aviões Charles de Gaulle se viu obrigada a trocar o Mediterrâneo Oriental pelo Golfo Pérsico para poder actuar, como é sintomática a preferência do Iraque pela aviação russa, ao invés da aviação norte-americana…

O “boomerang” geo estratégico que Erdogan provocou, faz ruir como um baralho de cartas toda a geo estratégia “occidental” e por isso não seria de admirar que em nome da moderna Turquia republicana fundada por Mustafa Kemal Ataturk, as Forças Armadas Turcas se vissem compelidas mais que nunca a apear um Erdogan terrorista, como aconteceu com o Morsi da Irmandade Muçulmana no Egipto!

Os Estados Unidos, ao afirmarem agora a sua reaproximação à Rússia ao mesmo tempo que consideram que Bashar al-Assad é parte da solução e não do problema, podem favorecer mais um golpe militar desta feita na Turquia, à imagem e semelhança do jogo que fez no Egipto.

A cabeça terrorista de Erdogan está a prémio e pode ser servida de bandeja, vítima do “efeito boomerang” que o próprio criou… aceitam-se apostas em relação ao seu tempo de vida enquanto entidade política activa e ele como o seu clã começam a correr o risco de resvalar por seu próprio pé para um triste fim.

Fotos: O desmascaramento do terrorista Erdogan enquanto parte do “efeito boomerang” por si próprio criado: quem semeia ventos, corre sempre o risco de colher tempestades. (CLICAR NAS FOTOS PARA AMPLIAR)


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