quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

O LABORATÓRIO AFRICOM – XVII




1 – O surgimento oficial do AFRICOM ainda viria a demorar cerca de 5 anos desde os encontros promovidos pelo “Institute for Advanced Strategic and Political Studies” (“IASPS”) e do trabalho do“Africa Oil Policy Innitiative Group” (“AOPIG”).

Em Fevereiro de 2007 o Presidente George W. Bush, em segundo mandato, tinha já as condições para formalizar o acto do surgimento do Comando África do Pentágono, o AFRICOM e foi isso que fez, impondo um aparentemente tão persuasivo quão inteligentemente manipulador“imperialismo do petróleo”: guerra no Médio Oriente e paz manipulada no Golfo da Guiné!

Passava-se já cinco anos da altura da visita do Presidente José Eduardo dos Santos a Washington, numa viagem sensível, contemporânea aos expedientes do “IASPS” e à maturação do “AOPIG”, estava Angola a inaugurar o fim do conflito da “guerra dos diamantes de sangue”, o fim da “Iª Guerra Mundial Africana” e o AFRICOM em pleno laboratório…

O Pentágono teve de delinear uma abordagem “nova”, distinta de outros comandos regionais, integradora de articulações civis, incorporadora de novas tecnologias, assim como da panóplia dos serviços de inteligência disponíveis no aparelho de estado norte-americano (alguns ainda não disponíveis em África até 2007) e, ao mesmo tempo, trabalhar na aglutinação dos programas militares e de inteligência que estavam em curso.

Essa abordagem subordinava-se aos parâmetros decisivos de protecção e segurança “pacífica” e“periférica” dos interesses na exploração do petróleo e do gás por via das multinacionais anglo-saxónicas e francófonas, num quadro intimamente associado aos parâmetros decisivos de protecção e segurança “guerreiros” no Médio Oriente, tendo como fulcro numa primeira fase, as intervenções no Iraque e no Afeganistão-Paquistão, assim como no Sudão (um processo traumático com graves consequências humanas no Darfur e no Sul, que tem sido de forma deliberada, publicamente desligado da geoestratégia do Pentágono, mas que é uma de suas primeiras experiências perversas post 11 de Setembro de 2001 em África).

2 – Em 2007 não havia que assustar o alvo, ou seja África, do maquiavelismo de políticas cujos“fins justificavam os meios” e começavam com o chamariz do petróleo, a “cenoura”, como catapulta para o desenvolvimento!

A administração republicana de George W. Bush apostou com os falcões de Israel, na desestabilização contínua do Sudão, a partir de plataformas distintas (entre elas, a dos Grandes Lagos, Uganda e Ruanda), a fim de dar início ao projecto do redesenhar das fronteiras políticas do continente africano, em função dos interesses neocoloniais característicos da prioridade em torno dos programas definidos para a construção do “imperialismo do petróleo” no eixo dos processos de hegemonia unipolar, enquanto ensaiava a projecção do “jihadismo” no Médio Oriente e em África, a partir da introdução de “primaveras árabes” que não passavam de versões a sul das “revoluções coloridas”, num quadro de defesa e estímulo de aliados como as monarquias arábicas sunitas e dos reis a ela indexados como os de Marrocos e da Jordânia.

O Sudão do Sul foi para a administração republicana de George W. Bush, a vitória primeira do seu“imperialismo do petróleo”, uma forma de compensar o “Conservative Caucus” (uma ala religiosa ultra conservadora dos republicanos que sempre apoiou Jonas Savimbi, bem como John Garang e, após a sua morte, Salva Kiir Mayardit, ambos do “Sudanese People´s Liberation Army”) e um ensaio para a injecção futura de outros processos traumáticos e caóticos em África, como o destroçar de Kadafi na Líbia e, a partir do seu cadáver, a disseminação das “abelhas jihadistas”por todo o Sahara, Sahel e cada vez mais em direcção a sul (já no post-Bush e com a administração democrata de Barack Hussein Obama).

O Sudão do Sul (a sul do corte do Sahel ao Sudão), riquíssimo em petróleo com exploração de muito baixos custos, consumou a sua independência a 14 de Junho de 2011 e essa veio a ser uma das primeiras vitórias no âmbito do AFRICOM e de acordo com sua génese, filosofia e reais propósitos!

Com esse êxito procurou-se também afastar a concorrência da China em relação ao petróleo, algo que só não foi conseguido graças ao carácter dos relacionamentos da China para com África, um carácter que não questiona nem os acontecimentos, nem o perfil dos frágeis sistemas sócio-políticos e humanos dos poderes nacionais no continente.

3 – No Sudão do Sul encontram-se 75% das reservas de petróleo do antigo Sudão, localizadas sobretudo na região de Abyei, mas é no norte onde se encontram os oleodutos e os portos (Porto Sudão é o maior deles).

O petróleo corresponde hoje a 98% da receita do novo país, que está agora a ser atingido por um sangrento conflito entre clãs, na disputa do poder… fraccionando ainda mais e num processo de decadência que parece irreversível…

As iniciativas de 2002 (“IASPS” e “AOPIG”) permitiram estender a exploração de petróleo ao Chade, um “aliado incondicional” por via do “link” com a França, na guerra secreta contra Kadafi (contemporânea aos conflitos no Sudão) e um dos componentes do leste do Sahel, região transversal de África, que corta o Chade a meio…

Os dois conflitos, Sudão e Chade, misturaram-se e confundiram-se também com a guerra secreta contra Kadafi, que culminou com a retirada do exército líbio em 1987 (derrota no Ogaden)…

Essa guerra secreta contra Kadafi foi intensificada com a administração republicana de Ronald Reagan em estreita conexão com a França, Israel e a Grã-Bretanha, sendo um dos enredos que possibilitaram a mascarada da trajectória de agentes como Hissène Habré e Idriss Débry à frente dos destinos do Chade, eles próprios já um produto neo colonial do capitalismo neo liberal segundo a hegemonia unipolar…

4 – O Dr. Richard Keeble, investigador histórico revela sobre isso: “Seizing power in Libya by ousting King Idris in a 1969 coup, Gadafi (who intriguingly had undertaken a military training course in England in 1966) quickly became the target of massive covert operations by the French, US, Israeli and British. Stephen Dorril, in his recently published book on MI6, records how in 1971 a British plan to invade the country, release political prisoners and restore the monarchy ended in a complete flop. In 1980, the head of the French secret service, Col. Alain de Gaigneronde de Marolles, resigned after a French-led plan ended in disaster when a rebellion by Libyan troops in Tobruk was rapidly suppressed. 

Then in 1982, away from the glare of the media, Hissene Habre, with the backing of the CIA and French troops, overthrew the Chadian government of Goukouni Wedeye. Human Rights Watch records: Under President Reagan, the United States gave covert CIA paramilitary support to help install Habre in order, according to secretary of state Alexander Haig, to bloody Gadafi's nose. Bob Woodward, in his semi-official history of the CIA reveals that the Chad covert operation was the first undertaken by the new CIA chief William Casey and that throughout the decade Libya ranked almost as high as the Soviet Union as the bête noir of the administration.

A recent report from Amnesty, Chad: The Habre Legacy, records massive military and financial support for Habre by the US Congress. It adds: None of the documents presented to Congress and consulted by Amnesty International covering the period 1984 to 1989 make any reference to human rights violations.

US official records indicate that funding for the Chad-based secret war against Libya also came from Saudi Arabia, Egypt, Morocco, Israel and Iraq. The Saudis, for instance, donated $7m to an opposition group, the National Front for the Salvation of Libya (also backed by French intelligence and the CIA). But a plan to assassinate Gadafi and take over the government on 8 May 1984 was crushed. In the following year, the US asked Egypt to invade Libya and overthrow Gadafi but President Mubarak refused. By the end of 1985, the Washington Post had exposed the plan after congressional leaders opposing it wrote in protest to President Reagan.

Frustrated in their covert attempt to topple Gadafi, the US government's strategy suddenly shifted. For 11 minutes in the early morning of 14 April 1986, 30 US Air Force and Navy bombers struck Tripoli and Benghazi in a raid code-named El Dorado Canyon.

Backing Reagan came the ecstatic response of the major media in both the US and UK. Yet the main purpose of the raid was to kill the Libyan president. Middle East specialist David Yallop reported: Nine of 18 F111s that left from the UK were specifically briefed to bomb Gadafi's residence inside the barracks where he was living with his family. In the event, the first bomb to drop on Tripoli hit Gadafi's home. Hana, his adopted daughter aged 15 months, was killed while his eight other children and wife Safiya were all hospitalised, some with serious injuries. The president escaped.

Following the April 1986 attack, reports of US military action against Libya disappeared from the media. But away from the media glare, the CIA launched by far its most extensive effort yet to spark an anti-Gadafi coup. A secret army was recruited from among the many Libyans captured in border battles with Chad during the 1980s. And, as concern grew in MI6 over Gadafi's alleged plans to develop chemical weapons, Britain funded various opposition groups in Libya including the London-based Libyan National Movement.

Then in 1990, with the crisis in the Gulf developing, French troops helped oust Habre and install Idriss Deby as the new president in a secret operation. The French government had tired of Habre's genocidal policies while the Bush administration decided not to frustrate France's objectives in exchange for their co-operation in the war against Iraq. Yet even under Deby the abuses of civil rights by government forces have continued. 

David Shaylerís original allegations over the anti-Gadafi assassination plot were vigorously denied by the government. But within the broad historical context outlined here, they do, indeed, make sense.”

5 – Com a administração republicana de George W. Bush, os fantoches instalados no Chade ganhariam o prémio pela sua fidelidade, a “cereja em cima do bolo”:  a exploração “onshore” no âmbito do rótulo de “petróleo para o desenvolvimento” que implicaria a construção dum oleaduto até ao Atlântico, via Camarões.

Assim sendo, a administração republicana de George W. Bush iniciou um novo programa para com a Líbia, que dispensava a plataforma do Chade nas manobras que iriam provocar em 2011, o derrube de Kadafi e o seu assassinato, já depois da saída de George W. Bush do poder.

A administração democrata de Barack Hussein Obama trouxe para o norte de África e depois para o Sahel, a extensão do conflito no Médio Oriente, fazendo prevalecer a guerra disseminando o caos e confinando às ilhas de paz ao Golfo da Guiné e África Austral.

Essa manobra explorou os vínculos da NATO com o AFRICOM e sincronizou os dados de inteligência entre todos os principais centros da articulação contra Kadafi, sobretudo o Pentágono, a Grã-Bretanha e a França.
Para o Chade o programa era esclarecedor:

“A Exxon Mobil lidera um consórcio entre a Chevron e a Petronas, que investiram 3,7 milhões de dólares na exportação das reservas de petróleo no sul do Chade, estimadas em milhões de barris.

A produção de petróleo começou em 2003 com a realização de um oleoduto (financiado em parte pelo Banco Mundial), que une milhares de jazidas da região sul a terminais da costa atlântica de Camarões.

Como condição à sua assistência, o Banco Mundial insistiu que 80% dos investimentos de petróleo foram gastos em projectos de desenvolvimento humano.

Em Janeiro de 2006, o Banco Mundial suspendeu seu projecto de empréstimos quando o governo do Chade aprovou leis para reduzir os investimentos feitos por esses programas.
Em 14 de julho de 2006, Banco Mundial e Chade firmaram um estudo de entendimento em virtude do qual o governo chadiano se comprometeu a outorgar 70% de seus investimentos em programas que visam a redução a pobreza.”

É claro que os interesses do clã Bush nesses projectos seriam automaticamente integrados.

Os interesses franceses no “pré carré” foram sendo também integrados e uma parte da vigilância, controlo e fiscalização no Golfo da Guiné recaiu sobre os dispositivos franceses em terra como no mar, dispositivos ligados ainda ao ECHELON, tirando partido de Tratados que permitiam a criação de bases e intervenções de toda a ordem, accionados em função das conjunturas que foram sendo fabricadas, agora também já com o concurso do “Laboratório AFRICOM”!

Imagens:
- Foto nocturna de Bagdad sob a acção do bombardeio dos estados Unidos e durante a invasão ao Iraque;
- Mapa que representa a amplitude das acções no âmbito do AFRICOM;
- O Presidente dos Estados Unidos e um dos seus aliados mais geoestratégicos: o Rei da Arábia Saudita.

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