Os
Serviços Penitenciários angolanos confirmaram hoje à Lusa que o 'rapper'
luso-angolano Luaty Beirão voltou a alimentar-se e a receber visitas dos
familiares, terminando o protesto contra a sua transferência para o
Hospital-Prisão de São Paulo, em Luanda.
"No
sábado já recebeu alimentos, recebeu a visita da esposa Mónica e está a falar.
Em todo o caso, diz-nos a experiência que só ao fim de uma semana é que
podíamos falar de uma greve de fome", disse hoje à Lusa o porta-voz dos
Serviços Penitenciários de Angola, Menezes Kassoma.
O
protesto surgiu quinta-feira passada, depois de 12 dos 17 ativistas angolanos -
incluindo Luaty Beirão - condenados em março a penas de até oito anos e meio de
prisão terem sido transferidos para aquele estabelecimento prisional, alegando
que não queria ser tratado de forma diferente dos restantes reclusos da
sobrelotada cadeia de Viana.
Além
de não comer e permanecer em silêncio, sem receber visitas, Luaty Beirão
estaria nu no interior da cela.
A
Lusa tentou contactar os familiares de Luaty Beirão em Luanda para confirmar
esta versão, mas sem sucesso. Contudo, citada na página oficial do ativista na
rede social Facebook, a mulher de Luaty Beirão, confirmou o fim do protesto e
que só irá alimentar-se com comida fornecida pelos familiares.
Além
disso, segundo Mónica Almeida, Luaty Beirão mantém-se semi-nu na cadeia, em
protesto por ter sido transportado dessa forma desde a cadeia de Viana, nos
arredores de Luanda, e que insiste em dormir no chão da cela onde foi colocado.
O
porta-voz dos Serviços Penitenciários explicou anteriormente que as
transferências para a unidade no centro de Luanda ficaram dever-se "às
constantes reclamações que faziam sobre as condições" na anterior cadeia,
em Viana.
"A
do São Paulo [hospital-prisão] foi aquela por onde passaram onde menos queixas
apresentaram", disse à Lusa Menezes Kassoma.
Luaty
Beirão, um dos rostos mais visíveis na contestação ao regime do presidente
angolano, José Eduardo dos Santos, foi condenado a 28 de março a uma pena total
de cinco anos e meio de cadeia, que começou a cumprir no mesmo dia, por decisão
do tribunal, apesar dos recursos da defesa.
Ao
todo, dos 17 ativistas condenados neste processo por atos preparatórios para
uma rebelião e associação de malfeitores, e a cumprirem pena, 12 tinham sido
concentrados até quarta-feira naquele hospital-prisão. Outros três estavam na
cadeia de Caquila, Viana, "a seu pedido", explicou Menezes Kassoma.
Duas
jovens permanecem na cadeia feminina de Viana, arredores da capital. Neste
caso, conforme denunciou hoje à Lusa um familiar, as duas foram terão sido
vítimas, no domingo, de agressões físicas por parte de outras reclusas.
Neste
julgamento, que decorreu entre novembro e março, sob críticas da comunidade
internacional, o professor universitário Domingos da Cruz, autor do livro que o
grupo de ativistas utilizava nas suas reuniões semanais para discutir política,
viu o tribunal aplicar-lhe uma condenação de oito anos e meio, por também ser o
suposto líder da associação de malfeitores.
As
penas mais leves foram de dois anos e três meses de prisão efetiva.
Neste
processo, 15 dos ativistas estiveram em prisão preventiva entre junho e 18 de dezembro,
quando foi revista a medida de coação pelo tribunal, passando então a prisão
domiciliária.
Na
última sessão do julgamento, o Ministério Público deixou cair a acusação de
atos preparatórios para um atentado ao Presidente e outros governantes,
apresentando uma nova, de associação de malfeitores, sobre a qual os ativistas
não chegaram a apresentar defesa, um dos argumentos dos recursos.
Entre
outubro e novembro, já em prisão preventiva, Luaty Beirão realizou uma greve de
fome para contestar a morosidade do processo, então ainda sem julgamento
marcado, o que levou ao seu internamento numa clínica de Luanda, com família e médicos
a recearem pelo seu estado.
PVJ
// APN - Lusa
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