O
ministro das Relações Exteriores de Angola, Georges Chikoti, apontou hoje em
Maputo a via negocial como solução para a crise política e militar em
Moçambique, exortando a Renamo, principal partido de oposição moçambicana, a
aceitar o diálogo.
“O problema
que se vive em Moçambique preocupa todos, particularmente a nossa região
[África Austral]. Temos trocado impressões com o Governo moçambicano, que até
aqui nos parece ter apresentado uma boa via, que é a via negocial”, afirmou
Georges Chikoti, falando em conferência de imprensa, após um encontro com o seu
homólogo moçambicano, Oldemiro Baloi.
A
normalização da situação político-militar em Moçambique, insistiu o chefe da
diplomática angolana, passa pela aceitação do diálogo por parte do líder da
Resistência Nacional Moçambicana (Renamo), Afonso Dhlakama.
“Acho
que o Governo moçambicano indicou as bases para esta negociação, queremos
esperar que o senhor Dhlakama responda à proposta de formação de uma equipa
técnica que o Governo de Moçambique já indicou e a Renamo tem de indicar a sua
equipa técnica para essas negociações se iniciarem”, declarou Georges Chikoti.
Sobre
a possibilidade de Angola assumir algum papel numa eventual retomada do
processo negocial em Moçambique, o ministro das Relações Exteriores de Angola
fez depender essa acção de um pedido das autoridades moçambicanas.
“Angola
só pode consolidar, apoiar a iniciativa que o Governo de Moçambique já fez e
esperarmos que esta iniciativa produza resultados. Se houver mais algo a fazer,
certamente que o Governo de Moçambique, que tem boas relações connosco, irá nos
indicar qual é o caminho”, declarou Georges Chikoti.
Moçambique
tem conhecido nos últimos meses uma escalada de crise militar, no centro do
país, devido a confrontos entre as Forças de Defesa e Segurança e homens
armados da Renamo, assassínios políticos e ataques atribuídos ao maior partido
de oposição em vários troços da principal estrada do país.
A
Renamo recusa-se a aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, ameaçando
governar nas seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.
A
outra face dos factos
Recorde-se
que a Renamo acusou no dia 25 de Novembro de 2015 o Governo da Frelimo (no
poder desde a independência) de pretender “imitar a solução angolana”, por
tencionar eliminar o líder do movimento, Afonso Dhlakama, tal como aconteceu
com Jonas Savimbi, presidente da UNITA.
“Manter
a paz será através da imitação do modelo angolano, como o [Presidente
moçambicano] Filipe Nyusi fez saber, quando manifestou a sua admiração pela
solução angolana?”, questionou José Cruz, deputado e relator da bancada da
Renamo, numa pergunta do seu grupo parlamentar ao Governo.
Na
sua recente visita a Angola, Filipe Nyusi apontou Angola como exemplo pelo
facto de o principal partido do país não estar armado, uma situação que não se
verifica em Moçambique, dado que a Renamo mantém um contingente armado desde a
assinatura do Acordo Geral de Paz em 1992.
O
relator da bancada da Renamo repetiu as acusações anteriormente feitas pelo
principal partido de oposição moçambicana de que o Governo pretende eliminar o
líder do movimento, tal como aconteceu com Jonas Savimbi, líder da UNITA, que
morreu em combate em Fevereiro de 2002, num cerco montado por alguns dos seus
antigos generais.
“O
Governo declarou guerra ao anunciar o desarmamento da Renamo e tem vindo a
adquirir armamento numa estratégia que inclui a morte de Afonso Dhlakama”,
frisou o relator da bancada da Renamo.
Na
altura, o deputado e porta-voz da Renamo, António Muchanga, afirmou que o
Governo moçambicano viu-se obrigado a recuar na intenção de desarmar o
movimento devido ao que definiu como derrota que as forças de defesa e
segurança moçambicanas têm vindo a sofrer na perseguição aos homens armados da
oposição.
Na
sua resposta às perguntas dos deputados da oposição sobre a situação
político-militar no país, o primeiro-ministro moçambicano, Carlos Agostinho do
Rosário, afirmou que o chefe de Estado moçambicano pediu moderação às forças de
defesa e segurança, para dar espaço ao diálogo.
“Os
moçambicanos acompanharam com elevado interesse e satisfação a declaração do
Presidente da República de Moçambique, que expressa a sua vontade genuína de
alcançar a paz efectiva e estabilidade no nosso país”, afirmou Carlos Agostinho
do Rosário.
O
primeiro-ministro moçambicano disse nessa altura que o Governo espera que todos
os atores políticos e sociais do pais correspondam à vontade e abertura de
Filipe Nyusi para o diálogo.
Armando
Guebuza também tentou
Recorde-se
que também o anterior presidente moçambicano, Armando Guebuza, defendeu no dia
4 de Outubro de 2014 a desmilitarização urgente da Renamo e pediu às confissões
religiosas para ajudarem na “implementação efectiva” do acordo de paz. Ou seja,
fazer com o líder da Renamo o mesmo que, em Angola, o MPLA fez com o líder da
UNITA.
O
apelo de Armando Guebuza foi feito num comício realizado na Praça da Paz, em
Maputo, por ocasião do 22º Aniversário do Acordo de Roma, que pôs fim à guerra
civil de 16 anos entre o Governo e a Renamo.
Armando
Guebuza sublinhou que a sua aspiração é “um desafio que tem subjacente o
processo de desmilitarização, desmobilização e reintegração das forças
residuais da Renamo, por um lado, na vida civil, em actividades económicas e
sociais, e, por outro lado, nas Forças Armadas de Defesa de Moçambique e na
Polícia da República de Moçambique, para que este partido político se conforme
com os ditames da Constituição da República de Moçambique”.
“Temos
agora a grande responsabilidade de assegurar a implementação deste Acordo, no
seu espírito e letra, sem subterfúgios nem delongas. O nosso Governo tem estado
a fazer a sua parte neste sentido”, nomeadamente “incutindo o valor da paz e de
reconciliação nacional no seio do nosso povo, liderando e mobilizando mais vontades
e atores para a reflexão sobre o estabelecimento, estruturação, funcionamento e
financiamento de um Fundo da Paz e Reconciliação Nacional, e continuando com o
diálogo com a Renamo e facilitando o trabalho dos observadores militares
internacionais”.
Folha
8 com Lusa
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