Alberto Castro*, Londres
No
"Tribunal de Inquisição" montado no Senado brasileiro para destituir
Dilma Rousseff, alguns senadores eles mesmo sem moral, ignorantes e
manipuladores de corações e mentes usaram do argumento de que os governos do PT
financiaram corruptas ditaduras e governos ideologicamente próximos à expensas
do contribuinte brasileiro. Uma falácia, se tivermos em conta que vem de
democratas no mínimo duvidosos, para confundir e desinformar mentes menos
informadas e críticas, sem contar que tal narrativa, com apoio de um setor da
mídia, acaba por enfraquecer, ou mesmo destruir, empresas brasileiras tanto
interna como externamente.
Financiamentos
externos de empresas nacionais são políticas de Estado e prática de governos de
todos países com capacidade financiadora, com a China no topo. Estando entre
estes países, o Brasil não poderia se colocar à margem, sob pena de tornar suas
empresas meras coadjuvantes em um mundo cada vez mais competitivo em razão da
globalização da economia. É o que fizeram os governos do PT e governos que o
antecederam.
Suas
excelências, mal informadas ou mal intencionadas, omitem que os financiamentos
não são para tais governos mas sim para empresas brasileiras que, em mundo cada
vez mais competitivo, buscam inserção no mercado internacional, gerando
milhares de empregos para brasileiros dentro e fora do Brasil. Omitem que o
retorno de tais financiamentos para o país é bem maior, às vezes imoral e
escandalosamente maior, e que os países receptores, particularmente os
africanos, acabam por ser os mais penalizados porque no final são os que pagam
a fatura mais elevada, tanto em dinheiro como na péssima qualidade de algumas
obras e serviços prestados por empresas brasileiras. Não por acaso em 2008 o
governo equatoriano do economista Rafael Correa expulsou a Odebretch por
superfaturamento e defeitos nas obras da hidrelétrica San Francisco, ameaçando
não pagar ao banco BNDES.
Omitem
que a porcentagem destinada por esse banco de desenvolvimento a essa modalidade
de financiamento beneficiadora de empresas brasileiras é praticamente
irrisória, cerca de 2% do total de seus empréstimos, segundo consta. Omitem que
tais financiamentos não se comparam ao de países desenvolvidos, ou mesmo de
alguns em vias de desenvolvimento, que seguem a mesma política estratégica de
Estado. Omitem que muitas das relações envolvendo países receptores, por eles
vistos com preconceito e desdém, se traduzem também em altos ganhos políticos
não contabilizados para o Brasil porque é de tais países que vem, ou pode vir,
apoio político e diplomático concertado para as aspirações do Brasil como ator
que se pretende global.
O
que deve sim ser monitorado e denunciado é a corrupção que existe nestes
negócios que grandes lucros dão aos países financiadores com a colaboração de
elites corruptas locais. Lembro, no entanto, que não há corruptos sem
corruptores. Se o Brasil quiser continuar como gigante de pés de barro ou anão
na política global, a escolha é sua. Mas passar a ideia do Brasil como país
caridoso para com outros quando as mesmas vozes combatem ferozmente um modelo
de inclusão social é de uma tamanha desonestidade política, de uma tacanhez e de
uma menoridade dignas apenas de políticos longe de estarem à altura de um país
que merecia melhores representantes.
*Alberto Castro é correspondente de Afropress em
Londres e colabora em Página Global
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Artigo datado de 17/5 que somente agora é publicado em Página Global devido a
interrupção do PG por duas semanas. O mesmo acontecendo com todos os artigos
publicados a partir de ontem e assinados ou selecionados pelos colaboradores deste coletivo PG.
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