Assistimos
aos atos de "salvamento" de populações, casas e cultivos, por
bombeiros voluntários com a ajuda de populares que enfrentam todos os riscos,
inclusive de morte, e o que mais sobressai é o desespero de quem perde o fruto
do seu trabalho e das suas poupanças, que resultaram de sacrifícios da família.
E maior indignação provoca, a impotência de quem confiava na gestão
governamental do país para alcançar o desenvolvimento e algum conforto social.
Este
tema, o da gestão e administração da vida de um povo, tem muito que se diga e
merece ser pensado com grande responsabilidade. Não se trata de atirar pedras
em uma ou outra força partidária que se sucedem nos altos cargos do Governo. É
mais. É saber qual o objetivo dos programas elaborados para o funcionamento do
Estado: defender os direitos humanos da população ou a acumulação de riquezas
para a promoção e enriquecimento de uma elite que ditará as regras da gestão e
da administração dos serviços públicos.
Ouvindo,
nos noticiário televisivos desta trágica semana de incêndios que destroem
Portugal em Agosto de 2016, os depoimentos de engenheiros florestais e de chefes
da corporação de bombeiros revelam que estudos de grande valor têm sido
produzidos para prevenir incêndios desde a Revolução dos Cravos, mas que os
relatórios circulam por mesas e gavetas de responsáveis políticos que deveriam
criar as condições para a sua execução urgente. Quais serão os obstáculos? Os
orçamentos para habilitar os serviços de apoio do Estado aos bombeiros
voluntários que contam sempre com a solidariedade dos demais voluntários da
população além de aperfeiçoarem sempre o seu treinamento e organização do
trabalho.
Então
vamos descobrir que a distribuição de verbas orçamentais vão primeiro para as
instituições financeiras para que possam oferecer empréstimos, mediante juros,
para agentes intermediários comprarem aviões e demais equipamentos de combate
às chamas, destinados a diferentes instituições do Estado. E o dinheiro vai
escasseando de mão em mão e se divide entre administradores especialistas em
burocracias que distribuem fartos relatórios para aprovação de políticos que
defendem as suas cores partidárias e não a população lá em baixo.
Sem
entrar em muitos esclarecimentos, vamos á origem dos erros (ou dos crimes)
devido à incompetência de governantes e gestores a nível superior da hierarquia
no Estado. O programa de desenvolvimento nacional não considera o fator social
à frente do financeiro, e mais, desvia a favor do interesse de uma elite
privilegiada grande parte do orçamento devido ao povo.
Um
defensor do ambiente explicou a importância dos guardas florestais para prevenir
os incêndios: durante todo o ano os guardas florestais conhecem as localidades
rurais, ensinam a manter a limpeza do terreno de material combustível, ajudam
os habitantes idosos com recursos do poder local e de associações de moradores
que contam com jovens voluntários solidàrios, conhecem os casos de debilidade
mental de possíveis incendiàrios recorrendo ao apoio de instituições de
tratamento adequadas, chamam a atençatenção dos serviços competentes sobre a
falta de acesso ou de limpeza das florestas, da proximidade com casas, controla
a prática de uso do fogo para limpeza dos terrenos ou alimentação, fogueiras
festivas, desatenção de fumantes, promovendo uma constante campanha de
prevenção ligada às escolas, associações locais, serviços públicos ou privados
da localidade.
Em
Portugal há pouco mais de 30 para todo o território nacional e deveria ter
centenas. O custo deste serviço é bem menor que o de apagar incêndios. Mas tem
mais, além da vantagem financeira que o gestor incompetente aprecia, o guarda
florestal estabelece um contato permanente com a população rural recolhendo
ensinamentos práticos e levando critérios de base científica para que organizem
a comunidade com recursos modernos, solidariedade, responsabilidade social, em
defesa da produção, da saúde, do convívio, da educação, do interesse por
matérias profissionalizantes que abrem novos caminhos de desenvolvimento pessoal
e nacional.
Não
é fácil mudar as mentalidades de políticos que se subordinam ao comando externo
que, por meio da pressão financeira, midiática, da indústria turística (que
reivindica em Portugal as casas dos guardas florestais para equipamento turístico)
e de uma visão contabilistica do desenvolvimento nacional que nada tem de
humano e social. O caminho é eleger para os cargos políticos apenas os que se
comprometerem a não defender os interesses conservadores da elite dominante no
sistema capitalista e, ao contrário, privilegiar o atendimento social como base
do desenvolvimento nacional.
*Zillah
Branco - Cientista social, consultora do Cebrapaz. Tem experiência de
vida e trabalho no Brasil, Chile, Portugal e Cabo Verde
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