Lisboa,
20 nov (Lusa) -- O antigo embaixador do Brasil junto da Comunidade dos Países
de Língua Portuguesa (CPLP) Lauro Moreira considerou que a entrada da Guiné
Equatorial no bloco lusófono é uma questão que envergonha a organização.
"É
uma vergonha. Se não fossem suficientes os problemas que nós temos
internamente, agora temos um problema que é pavoroso, porque é uma questão que
envergonha a CPLP", afirmou à agência Lusa Lauro Moreira, que é presidente
do conselho diretivo do Observatório da Língua Portuguesa (OLP).
Para
o antigo embaixador brasileiro junto da CPLP (2006-2010), o bloco lusófono já
tem, por exemplo, "problemas seríssimos com a Guiné-Bissau, que é um país
maravilhoso, que ao mesmo tempo tem ótimos quadros superiores, mas que agora
está reduzido a um narco-Estado".
"Este
país (Guiné Equatorial) é pária na comunidade internacional", sublinhou
Lauro Moreira.
A
Guiné Equatorial - que é uma antiga colónia espanhola e também não tem laços
culturais com os países lusófonos -- aderiu formalmente ao bloco lusófono
durante a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da CPLP em Díli, em 2014.
O
Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, é um dos governantes mais
antigos à frente de um Governo em África, desde agosto de 1979 (a par com José
Eduardo dos Santos, Presidente de Angola), através de um golpe de Estado contra
o próprio tio, Francisco Macías, que foi posteriormente fuzilado.
Obiang
e membros da sua família (nomeadamente o seu filho 'Teodorin' Obiang) - que têm
uma das maiores fortunas em África segundo a revista Forbes - enfrentam
processos em alguns países por corrupção, fraude e branqueamento de capitais,
assim como o Presidente equato-guineense enfrenta acusações de violação dos
direitos humanos por várias organizações não-governamentais (ONG).
A
pena de morte na Guiné Equatorial está suspensa neste momento, medida que foi
tomada para poder entrar no bloco lusófono. Também segundo a ONG Transparency
International, é um dos países mais corruptos do mundo.
Segundo
Lauro Moreira, Teodoro Obiang "reina em absoluto sobre um país que flutua
hoje em petróleo e sobre uma população naufragada na maior miséria".
É,
de acordo com o diplomata, "um país desconsiderado pela comunidade
internacional, isolado pela língua (o único a falar espanhol em toda a África),
cuja história, cultura e comportamento nada tem a ver com os ideais que presidiram
a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em 1996".
Na
Cimeira da CPLP em Brasília, que decorreu em novembro, o Presidente português,
Marcelo Rebelo de Sousa afirmou estar, tal como o primeiro-ministro António
Costa, "muito à vontade" quanto à entrada da Guiné Equatorial na CPLP
porque ambos não participaram na cimeira que aprovou a adesão.
O
Presidente português assinalou que atualmente a pena de morte não é aplicada na
Guiné Equatorial, mas garantiu que Portugal estará "atento aos
passos" dados por este país para alterar o panorama dos direitos humanos antes
da próxima cimeira lusófona e destacou os passos "para a valorização da
língua portuguesa".
Lauro
Moreira afirmou que a CPLP ficou desfigurada com a estrada da Guiné Equatorial
para o bloco lusófono, pois é "um país que nada fez na prática para merecer
essa concessão a não ser introduzir às pressas o português como língua oficial,
ao lado do espanhol e do francês, e acenar com os seus petrodólares de
novo-rico".
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