Singular
armadilha: quanto mais o governo semeia políticas neoliberais, mais colhe recessão,
desemprego e… impopularidade. Quem mandou acreditar na Pós-verdade?
Laura
Carvalho – Outras Palavras
O
Senado aprovou na terça-feira (29), em primeiro turno, a PEC 55, que tem sido
vendida desde o início do governo Temer como uma verdadeira panaceia para os
graves problemas enfrentados pela economia brasileira. Com a provável aprovação
da proposta em segundo turno no próximo dia 12, o governo terá de encarar a
realidade.
Se
a retomada do crescimento econômico, a criação de postos de trabalho e o
reequilíbrio das contas públicas dependessem apenas de uma base de 3/5 dos
senadores e de uma alteração retrógrada na Constituição, o governo Temer
estaria salvo. O que os números mostram, no entanto, é que a macroeconomia
existe.
O
desemprego em alta, o alto grau de endividamento de empresas e famílias, o
aumento da capacidade ociosa da indústria e as sucessivas frustrações de
arrecadação das várias esferas de governo são apenas alguns dos elementos que
vêm transformando a economia brasileira em um deserto. Sem perspectiva de
retomada do consumo, das exportações e da capacidade de investimento do Estado,
o investimento privado não tem razões concretas para reagir. Diante de tal
cenário e de uma recessão que já chega a 10% do PIB, o governo Temer, se
sobreviver até lá, terá alguns caminhos possíveis.
O
primeiro é tentar suprir a síndrome de abstinência deixada pela PEC 55 com a
“reforma” da Previdência, iniciando mais uma rodada de negociações difíceis com
a base parlamentar. Assim como a PEC, a reforma não tem efeitos imediatos e não
ajudará a resolver a situação fiscal de curto prazo ou a crise econômica no
país. Mas, ao contrário da PEC, que disfarçou seus impactos futuros sobre
direitos conquistados sob o véu da responsabilidade fiscal, a Previdência é
assunto que a maior parte dos brasileiros entende.
A
tolerância da população, que, após os sucessivos escândalos de corrupção
envolvendo membros do alto escalão do governo e as manobras do sistema político
para salvar-se da Operação Lava Jato, já está próxima de zero, não deve
facilitar em nada a vida do governo.
A
alternativa seria descontentar sua base “patista” de apoio e propor a elevação
de impostos para resolver o problema fiscal de curto prazo. O fim das
desonerações fiscais concedidas ao longo do primeiro governo Dilma e o fim da
isenção de IRPF sobre dividendos, que já dura mais de 20 anos, seriam
suficientes para reduzir o deficit fiscal pela metade no ano de 2017.
O
problema é que um reequilíbrio das contas públicas não serviria mais ao
propósito de ampliar a capacidade de investimento do Estado – o único capaz de
agir em meio à crise para puxar uma retomada. Mesmo em caso de aumento de
receitas, a PEC 55 inviabiliza, na prática, uma expansão dos investimentos.
Se
o governo conseguir, em meio a tanta incerteza, atrair investidores para as
concessões do Plano de Parcerias de Investimentos (PPI), os efeitos concretos
sobre o investimento só viriam após 2018, na melhor das hipóteses. De mais
imediato, sobra apenas a renovação das concessões de ferrovias e rodovias com
contrapartida em investimentos, se os órgãos de controle permitirem.
Após
dois anos de frustrações nas projeções, a ficha parece estar caindo até mesmo
entre os analistas mais ingênuos. Na era da pós-verdade, a economia ainda é
movida por fatos.
1 comentário:
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Eu não sabia que a crise começou com o Temer.
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