Cena
de “O Lobo de Wall Street”, de Martin Scorcese
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“Nas condições atuais de desigualdade, concorrência e redução de tudo a dinheiro, todo indivíduo é incitado a ignorar a ideia de limite e se mostrar onipotente”
Claudine
Haroche* - Outras Palavras - Tradução Yolanda Vilela
O
texto de Claudine Haroche descreve a personalidade associada à arrogância que
“se inscreve numa relação social, psicológica e política que se define como uma
relação de dominação, de ascendência que supõe maneiras de se apropriar dos
bens ou das pessoas pela sedução, manipulação ou brutalidade.” Traduzida por
uma relação de desigualdade e que se situa entre a vontade de poder e a
servidão voluntária. Para a autora, “Todo indivíduo se vê, hoje, incitado,
para não dizer coagido, concretamente – considerando as condições de
desigualdade, de concorrência no mundo contemporâneo, nas práticas ao menos, e
pouco a pouco no valor exclusivo dado ao dinheiro – a ignorar a relação com o
limite, com a própria ideia de limite, e se mostrar, dessa forma, arrogante,
onipotente: a arrogância seria considerada doravante como
inevitável ou mesmo natural nas sociedades narcísicas”. (Myriam Bahia
Lopes).
Inicio
esse capítulo com a proposta de examinar os contextos e as condições – as
épocas, os regimes, os sistemas – que sustentam os processos que favorecem a
expressão e o desenvolvimento das maneiras de ser e de sentir que emanam de
personalidades que designaremos como arrogantes.
Esse
tipo de personalidade se inscreve numa relação social, psicológica e política
que se define como de dominação, de ascendência que supõe maneiras de se
apropriar dos bens ou das pessoas pela sedução, manipulação ou brutalidade.
Para
começar, eu gostaria de enfatizar – outros o fizeram antes de mim – que embora
seja muito difícil definir a arrogância, nem por isso ela é menos percebida,
vivida como muito real, assim como o assédio. Ela faz parte desses fatos
frequentemente insidiosos, imperceptíveis que podem se exprimir por uma
atitude, por um gesto, um olhar, uma palavra.
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