segunda-feira, 6 de março de 2017

Portugal. O REGABOFE DO CAPITAL


Os casos sucedem-se e deixam marcas que os contribuintes dificilmente esquecem pois é sempre a eles que cabe pagar a «festa» que os grandes senhores do capital fazem mas não pagam.

AbrilAbril, editorial

A fuga de 26 mil milhões de euros para paraísos fiscais, a que se juntam mais umas dezenas de milhar de milhões injectados na banca ao longo dos últimos anos, dão-nos a justa medida de quem realmente viveu e vive acima das suas possibilidades, e do posicionamento dos governos que não hesitaram em desviar verbas colossais dos bolsos de quem trabalha e trabalhou para acudir ao regabofe do capital.

Os casos sucedem-se e deixam marcas que os contribuintes dificilmente esquecem pois é sempre a eles que cabe pagar a «festa» que os grandes senhores do capital fazem mas não pagam. A conta é invariavelmente astronómica e representa, além de um crime, a falta de políticas ao serviço do País e do povo, capazes de travar o saque que impede o desenvolvimento e a coesão.

Estamos perante a lógica dos dois pesos e das duas medidas, com a qual fomos confrontados mais uma vez pelo governo de Passos e de Portas. Fracos com os fortes e fortes com os fracos, enquanto exigiam sacrifícios e chamavam o povo de piegas, o PSD e o CDS-PP deixaram passar 10 mil milhões sem fiscalização da Autoridade Tributária, do bolo de 26 mil milhões de euros que saiu para os ditos paraísos, entre 2011 e 2015.

A estas «fugas» juntam-se as perdas registadas pela banca em crédito mal parado, que revelam o abuso dos senhores do capital. Trata-se, conforme recordou o Expresso este fim-de-semana, de uma lógica de lucros privados e prejuízos públicos.

No artigo que o semanário dedica a este tema cita-se uma afirmação de Jean Paul Getty, fundador da Getty Oil Company, hoje Texaco: «Se ficar a dever 100 dólares a um banco, o problema é seu. Se ficar a dever um milhão, o problema é do banco». A frase resume bem a opção de classe e a diferença de tratamento dado, conforme se trata do grande capital ou das massas trabalhadoras.

Desde 2008, foram injectados mais de 6 mil milhões no BPN e a conta pode não ficar por aí. A estes juntam-se os 3 mil milhões drenados para o Banif, mais uns milhares de milhões de previsível prejuízo com o BES e ainda os 5 mil milhões de recapitalização da CGD, valor próximo ao crédito mal parado do banco público, usado vezes sem conta para amparar os desvarios do sector financeiro privado.

A cada novo escândalo, perante os contornos, volume e impacto que a situação assume, aparecem sempre umas vozes que clamam por maior regulação, por outras regras, pela penalização dos infractores.

Tal posicionamento passa ao lado do essencial e contribui para a perpetuação da lógica «lucros privados, prejuízos públicos», que só pode ser alterada com o controlo do sector financeiro por parte do Estado e a introdução de uma lógica de funcionamento que o liberte das negociatas e da especulação, e o coloque ao serviço do povo e do País.    

AbrilAbril – Foto: A ex-ministra das finanças, Maria Luís Albuquerque /  Agência Lusa

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