Os
casos sucedem-se e deixam marcas que os contribuintes dificilmente esquecem
pois é sempre a eles que cabe pagar a «festa» que os grandes senhores do
capital fazem mas não pagam.
AbrilAbril, editorial
A fuga
de 26 mil milhões de euros para paraísos fiscais, a que se juntam mais umas
dezenas de milhar de milhões injectados na banca ao longo dos últimos anos,
dão-nos a justa medida de quem realmente viveu e vive acima das suas
possibilidades, e do posicionamento dos governos que não hesitaram em desviar
verbas colossais dos bolsos de quem trabalha e trabalhou para acudir ao
regabofe do capital.
Os
casos sucedem-se e deixam marcas que os contribuintes dificilmente esquecem
pois é sempre a eles que cabe pagar a «festa» que os grandes senhores do
capital fazem mas não pagam. A conta é invariavelmente astronómica e
representa, além de um crime, a falta de políticas ao serviço do País e do
povo, capazes de travar o saque que impede o desenvolvimento e a coesão.
Estamos
perante a lógica dos dois pesos e das duas medidas, com a qual fomos
confrontados mais uma vez pelo governo de Passos e de Portas. Fracos com os
fortes e fortes com os fracos, enquanto exigiam sacrifícios e chamavam o povo
de piegas, o PSD e o CDS-PP deixaram passar 10 mil milhões sem fiscalização da
Autoridade Tributária, do bolo de 26 mil milhões de euros que saiu para os
ditos paraísos, entre 2011 e 2015.
A
estas «fugas» juntam-se as perdas registadas pela banca em crédito mal parado,
que revelam o abuso dos senhores do capital. Trata-se, conforme recordou o Expresso este
fim-de-semana, de uma lógica de lucros privados e prejuízos públicos.
No
artigo que o semanário dedica a este tema cita-se uma afirmação de Jean Paul
Getty, fundador da Getty Oil Company, hoje Texaco: «Se ficar a dever 100
dólares a um banco, o problema é seu. Se ficar a dever um milhão, o problema é
do banco». A frase resume bem a opção de classe e a diferença de tratamento
dado, conforme se trata do grande capital ou das massas trabalhadoras.
Desde
2008, foram injectados mais de 6 mil milhões no BPN e a conta pode não ficar
por aí. A estes juntam-se os 3 mil milhões drenados para o Banif, mais uns
milhares de milhões de previsível prejuízo com o BES e ainda os 5 mil milhões
de recapitalização da CGD, valor próximo ao crédito mal parado do banco
público, usado vezes sem conta para amparar os desvarios do sector financeiro
privado.
A
cada novo escândalo, perante os contornos, volume e impacto que a situação
assume, aparecem sempre umas vozes que clamam por maior regulação, por outras
regras, pela penalização dos infractores.
Tal
posicionamento passa ao lado do essencial e contribui para a perpetuação da
lógica «lucros privados, prejuízos públicos», que só pode ser alterada com o
controlo do sector financeiro por parte do Estado e a introdução de uma lógica
de funcionamento que o liberte das negociatas e da especulação, e o coloque ao
serviço do povo e do País.
AbrilAbril
– Foto: A ex-ministra das finanças, Maria Luís Albuquerque / Agência Lusa
Sem comentários:
Enviar um comentário