Martinho Júnior, Luanda
1-
Mais de dois séculos depois do içar das bandeiras independentistas, a América
Latina não se pode furtar em travar de facto e de jure, as batalhas de
independência no caminho da soberania de seus estados e em prol da emancipação
dos povos, da paz e do socialismo de que tanto carece a humanidade!
As
batalhas têm sido duras e posto à prova o modelo das democracias
representativas que tem sistematicamente servido os interesses das oligarquias
coligadas ao império da hegemonia unipolar, oligarquias ciosas de seu egoísmo
retrógrado, que como pintos se aninham ao quente aconchego da galinha que
chocou os ovos que lhes estão nos genes!
De
todos os países só Cuba, onde a revolução mais avançou em estreita unidade com
o povo, tem vindo a experimentar um modelo de democracia participativa
exemplar, intimamente identificado com as vitórias alcançadas sobretudo na
educação, na saúde, na habitação e, ultimamente, nas ciências!
Nessas
batalhas têm havido avanços e recuos sócio-políticos, mas a extensão das
medidas progressistas em benefício dos povos, vai deixando a sua marca, pondo
em causa o modelo caduco e procurando a criatividade constante a que se obriga
o progresso telúrico dos povos que têm vindo a fermentar vanguardas corajosas,
clarividentes e decididas.
Os movimentos sociais multiplicam-se, multiplicando por sua vez as frentes de enfrentamento e entre muitas metas que foram alcançadas há por exemplo a vitória sobre o analfabetismo em 4 dos maiores membros da ALBA-TCP, Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América – Tratado de Comércio para os Povos: Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua.
Os movimentos sociais multiplicam-se, multiplicando por sua vez as frentes de enfrentamento e entre muitas metas que foram alcançadas há por exemplo a vitória sobre o analfabetismo em 4 dos maiores membros da ALBA-TCP, Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América – Tratado de Comércio para os Povos: Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua.
Também
nesses países um novo modelo de saúde para todos tem dado passos irreversíveis.
América
Latina tem sede de cidadania, de independência, de soberania, de integridade,
de solidariedade, de sabedoria e de socialismo!
Por
isso a luta tem já uma trilha, a trilha dum corpo que até parece ter começado
por rastejar nas matrizes hostis da Organização de Estados Americanos e da ALCA
(Área de Livre Comércio das Américas), mas que vai ganhando pernas que coligem
vontade e determinação.
A
América Latina progressista vai erigindo, pela via da integração, a coesão
indispensável à mobilização, na dinâmica plataforma comum da imensidão de
tarefas que em conjunto há a realizar, quando o desafio maior é vencer o
subdesenvolvimento crónico a que têm sido secularmente votados os povos!
2-
Logo no primeiro trimestre deste ano a América Latina meteu-se em brios por via
da CELAC (Comunidades de Estados da América Latina e Caraíbas), da ALBA-TCP
(Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América – Tratado de Comércio dos
Povos), do Caricom (Comunidade das Caraíbas) e da AEC (Associação de Estados do
Caribe), que realizaram cimeiras visando reforçar as iniciativas, algumas delas
de carácter estratégico e já em curso.
As
organizações integradoras vão delineando as capacidades e as sinergias que se
complementam nos esforços comuns na luta contra o subdesenvolvimento e ali onde
houver uma desaceleração outras, numa aparente assimetria, procuram encontrar
forças para melhor avançar.
A
ALBA-TCP propõe-se à “cooperación para el avance económico y frente a
desafíos geopolíticos, complementariedad en materia energética,
financiamiento para el desarrollo de los países integrantes, y solidaridad entre
los pueblos”…
Se
na ALBA-TCP e CELAC, a Venezuela Bolivariana tem um papel dinamizador maior,
até por causa da charneira do seu espaço físico-geográfico entre a América do
Sul e o Mar das Caraíbas, Cuba, com directa implicação no Caribe e sendo a
maior ilha dessa região do Atlântico, tem vindo a assumir um papel reitor,
aglutinando os esforços em cada uma e em todas as pequenas nações insulares de
tal modo que até Porto Rico dá os primeiros sinais de associação.
No
Caribe há a presença de nações como a França e a Holanda, com vários
territórios insulares que preenchem na organização da Associação de Estados do
Caribe uma parte significativa do quadro de membros associados, o que permite
uma ampla atracção de observadores, actores sociais e até entidades
financiadoras de muitos projectos correntes.
Um
dos êxitos desta Organização, é o Mapa das rotas do Caribe, cuja Iª fase, já
concluída, foi financiada pela Coreia do Sul e a IIª fase, em execução, está s
ser financiada pela Turquia.
A
Organização tem as seguintes áreas focais: redução de riscos por causa das
intempéries e desastres naturais, turismo sustentável, comércio, transporte e
espaço da Comissão do Mar das Caraíbas.
3-
Muito embora a América latina e as Caraíbas tenha tanto a ver com a rota dos
escravos e com a vida de comunidades de afrodescendentes, a presença africana
nas organizações progressistas da América Latina e Caraíbas é muito pouco
significativa, ou mesmo nula.
A
União Africana que deveria primar pela proximidade, até por que à organização
continental africana muito interessa as questões de integração e solidariedade,
nem como observadora se faz constar.
Na
Associação dos Estados do Caribe, de África apenas estão presentes o Egipto e
Marrocos, quando toda a bacia da Caraíbas é habitáculo de comunidades de
afrodescendentes oriundos de toda a costa ocidental africana, comunidades
resultantes do tráfico de escravos, em 14 estados insulares, como por exemplo
nas Antígua e Barbuda, nas Bahamas, em Granada, na Jamaica, sendo mesmo maioria
da população!
Os
afrodescendentes que habitam as pequenas ilhas das Caraíbas e as costas dos
países latino-americanos (em especial as costas do Atlântico), resultam dos
depósitos de escravos e são uma continuidade dum passado de trevas nos dois
continentes, África e América.
O
decénio de 2015 a 2024 é dedicado pela ONU aos afrodescendentes da América,
existindo no CARICOM uma Comissão para solicitar uma reparação aos estados
europeus que foram esclavagistas, algo em relação ao qual África se tem mantido
no alheio…
É
evidente que quer Cuba, quer a Venezuela (e em menor escala outros países
latino americanos), têm motivos bastos para implementar os processos de
integração em socorro dos pequenos arquipélagos tornados pequenos estados
insulares nas Caraíbas, sem esperar que alguma vez os europeus se decidam a
qualquer gesto de reparação!
Se
na América Latina já se pode dizer que, apesar de tudo “vamos caminhando”,
África, em vastas regiões sujeita à barbárie do caos, do terrorismo e a uma “nova” onda
neocolonial, parece que nem sequer começou ainda a gatinhar!
Fotos: Ilustrações
das assembleias das organizações progressistas latino-americanas realizadas
desde o início deste ano de 2017 e mapa do tráfico negreiro no século XIX.
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