Comemora-se
hoje o 25 de Abril, o dia da Liberdade. Já lá vão 43 anos desde que o regime
salazarista foi derrubado. Volvidas mais de quatro décadas, muita coisa mudou.
Portugal, até então “orgulhosamente só” e pouco ou nada desenvolvido, começou a
ganhar terreno no que à modernização diz respeito. Foi, a par disso,
consolidando a democracia.
E
hoje o que se pensa do 25 de Abril? O Notícias ao Minuto foi tentar
perceber, no dia em que celebramos a Liberdade, qual o sentimento dos
portugueses em relação a este marco histórico. Se, por um lado, há quem prefira
realçar o que de bom a Revolução nos trouxe - a liberdade de expressão -, por
outro, permanece o sentimento de algo que não foi plenamente atingido, algo que
tem sido "adiado" ao longo das décadas.
“Isto
agora só se vê má educação por aí”, diz-nos Marco Semedo, de 51 anos, sentado
num dos bancos dos Jardins do Império. Pelo sotaque, vemos que é alentejano,
ele e o colega, Carlos Baião. São ambos do distrito de Portalegre e ambos
motoristas. “Olhe para ali”, aponta Marco para um grande grupo de jovens. “Quem
é que daquele grupo lhe diria bom dia, boa tarde ou obrigado? Ninguém”. Mas não
só os jovens, ressalva. “Os doutores, os formados, são os piores”.
Na
ótica de Marco, o que o 25 de Abril trouxe de bom, trouxe também em demasia.
Liberdade em demasia tem levado a que nos tenhamos tornado mal educados,
defende, e individualistas. O seu colega vai abanando com a cabeça, assentindo.
Na mesma linha, atira: “O que o 25 de Abril trouxe foi liberdade total. Agora
pode fazer-se tudo, embora haja depois consequências. Agora já não é o 'não
pode fazer-se' mas sim 'o não deve fazer-se”.
Mais
adiante, a regar o jardim, uma funcionária da Câmara. Pede para não ser
fotografada e nós respeitamos. Está a trabalhar e não quer "arranjar
sarilhos". Mas conversar pode. Para esta mulher, dos seus 50 anos, a
democracia e a liberdade de expressão, ganharam com o 25 de Abril, mas agora,
nestes últimos anos, "está tudo muito mau”. "As coisas têm piorado,
em termos de trabalho", marca a sua posição, assinalando que de política
nada percebe e pouco se interessa.
O
nosso percurso leva-nos a Hugo Vieira, de 28 anos, condutor de Tuk Tuk. Espera
tranquilamente por clientes à frente do Mosteiro dos Jerónimos. Escolhe a
palavra bom senso para resumir aquilo que para si simboliza o 25 de Abril. Para
os valores de Abril serem plenamente concretizados, opina, é preciso o bom
senso de todos.
Já
para Luís Vilas, de 59 anos, vivemos numa "pseudo democracia" e tudo
por culpa da "ditadura dos bancos". "Repare que todos os
portugueses têm alguma coisa a pagar ao banco, uma casa, um carro, etc. Para
conseguirem pagar, trabalham, trabalham", explica-se, ao mesmo tempo que
cose a pele de um cadeirão. "A mim pessoalmente o 25 de Abril não me
trouxe benefício nenhum, mas não ignoro que, em geral, teve coisas positivas, e
que valeu a pena. Mas também lhe digo, se não fosse o 25 de Abril era outra
data qualquer, aquilo tinha de acontecer, já estávamos a ficar muito
atrasados", completa.
Guilherme
Figueiredo tem apenas 21 anos, mas daquilo que vai percebendo do 25 de Abril é
que se ganhou o orgulho por termos derrubado a ditadura, mas que se perdeu todo
o brio naquilo que fazemos, tendo a posição de Portugal, enquanto potência
internacional, ficado quase reduzida a cinzas.
Notícias
ao Minuto
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