A
gestão que a primeira-ministra britânica tem feito da tragédia de Grenfell, com
perto de 60 mortos confirmados, é cada vez mais criticada. Há protestos na rua
e pedidos de demissão. “A liderança requer coragem, imaginação e empatia. Ela
não conseguiu mostrar nenhuma destas qualidades”
Centenas
de pessoas concentraram-se durante a tarde deste sábado junto à residência
oficial da primeira-ministra britânica, pedindo mais explicações sobre o
trágico incêndio que, na passada quarta-feira, destruiu por inteiro a Torre
Grenfell e causou, num balanço que todos admitem provisório, 58 mortos. A
incompreensão – como foi possível o fogo alastrar em poucas horas aos 24
andares? – e a revolta pela forma como está a ser gerido o acidente viram-se
contra Theresa May e são muitos os que pedem a sua saída do cargo.
Na
sexta-feira, Theresa May teve de sair à pressa de uma igreja que visitava e
onde voluntários organizavam os muitos donativos que têm sido recolhidos para
apoiar quem ficou sem nada, “exigimos justiça” eram algumas das palavras de
ordem gritadas por dezenas de pessoas furiosas com Theresa May.
Os
problemas não acabaram aí. Horas mais tarde, numa entrevista a um programa da
BBC2, a forma como (não) respondeu às perguntas da entrevistadora voltaram a
causar celeuma. Questionada sobre a angústia e o desespero das pessoas e tudo o
que correu mal e que poderia ter sido feito de forma diferente, limitou-se a
repetir a ideia de que se tratava de algo “absolutamente horrível”, sem dar
respostas concretas.
FALTAM
RESPOSTAS E COORDENAÇÃO
Para
aumentar a tensão, um jornalista da BBC conta como no local, em North
Kensigton, as pessoas têm imensa dificuldade em obter qualquer informação. “Não
parece haver aqui um centro onde as pessoas podem encontrar respostas e apoio.
Nenhum posto com a indicação 'centro de informações', nem agentes que guiem as
pessoas que estão as confusas e desesperadas a quem as pode ajudar”, descreve o
correspondente da BBC.
As
críticas de falta de coordenação estendem-se ao Governo e às autoridades
municipais de Kensington e Chelsea. “As pessoas dizem que é o caos absoluto. E
que a incapacidade das autoridades locais para responder às suas necessidades e
preocupações ajuda a explicar por que razão este desastre aconteceu.”
Além
dos muitos anónimos que desesperam com a falta de explicações para a tragédia
que vitimou familiares e amigos, comunicação social e artistas também apontam o
dedo à gestão de Theresa May. “A liderança requer coragem, imaginação e
empatia. Nos dois longos dias que se seguiram desde que as primeiras chamas
começaram a consumir o revestimento recentemente renovado da Torre Grenfell na
zona oeste de Londres, a primeira-ministra não conseguiu mostrar nenhuma destas
qualidades”, escreveu o The Guardian num dos seus editoriais, comparando a
tragédia de Londres com o furacão Katrina que destruiu grande parte de Nova
Orleães, demonstrando as mesmas falhas de liderança do então presidente Bush e
um “terrível desprezo pelas vidas dos pobres”.
A
cantora inglesa Lily Allen também criticou a resposta do Governo, dizendo que o
número de mortos foi minimizado ao início, numa tentativa de “gerir” o
sofrimento das pessoas. Na torre de apartamentos viviam entre 400 a 600 pessoas
e o primeiro balanço dava conta de uma dezena de pessoas. Este sábado, as
autoridades admitiram perto de 60 mortos, mas o número pode aumentar.
Isabel
Leiria | Expresso | Foto: Cal, in Twitter
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