Já
nada é o que era. O poder a qualquer preço está em marcha. Em França o poder
chama-se Macron, um “revolucionário” ao serviço da alta finança e dos mercados.
As populações já andam a votar à toa, como sejam náufragos que de tão
extenuados de nadar para parte incerta se agarram a qualquer tábua podre. E é
isso mesmo que Macron representa, uma enorme tábua que os eleitores julgam de
salvação (o mal menor) mas que é somente uma tábua podre. Mais à frente no
tempo assim se verá.
Sem pudor, o partido de Macron, “Em Marcha”, considera
legitimamente que foi o mais votado e por isso vencedor, apesar de cerca de 60% dos eleitores
franceses se terem abstido nas eleições de ontem, a chamada e definitiva
segunda volta. Na primeira volta, realizada há semanas, também mais de 50% dos
eleitores franceses se abstiveram. Tal significa que venceu a ausência de
representatividade nestas últimas eleições em França.
Com o rigor da verdade
também sabemos que os atuais políticos, em França ou em outra qualquer parte do
mundo neoliberal (não só) representa os interesses avessos à maioria dos
eleitores, numa venda mais que evidente dos interesses pessoais de qualquer
político e dos interesses da alta finança que eles representam. Já nada é o que
era. Antes faziam-no mais ou menos à socapa, atualmente perderam a vergonha e
transbordam à vista de corrupção e de mau caráter. Os políticos, esses pantomineiros
cujo descrédito afasta os eleitores das urnas de voto e está a matar a
democracia. A evidência até aos cegos, surdos e mudos se mostra. Serem
detentores do poder sem representatividade, tal qual como numa ditadura. Já nada é o que era. Adeus democracia. Para bom entendedor assim é mostrado nas prosas do Público de ontem, se continuar a ler.
MM
/ PG
Macron
consegue maioria absoluta nas legislativas em França
A
República em Marcha e aliados do MoDem devem eleger 355 dos 577 deputados. Le
Pen eleita deputada. Líder dos socialistas demitiu-se.
Emmanuel
Macron, como se previa, vai governar a França com uma grande maioria de
deputados no Parlamento de Paris. Segundo as projecções da IPSOS para o jornal Le
Monde, o seu partido, A República em Marcha, e os aliados do MoDem elegeram 355
dos 577 deputados da Assembleia.
Seguem-se Os
Republicanos, com 125 deputados, o Partido Socialista (49), a França Insubmissa
(esquerda radical, de Jean-Luc Mélenchon) com 19 deputados e a Frente Nacional
(FN) com oito.
A
líder da extrema-direita, Marine Le Pen, foi eleita para o Parlamento de Paris.
O seu companheiro, Louis Aliot, também foi eleito. Mas Le Pen perdeu um apoio
de peso: Florian Philippot, considerado o ideólogo da FN, foi batido pelo
candidato da República em Marcha.
A
abstenção pode atingir 58%, um recorde em legislativas. Para
o primeiro-ministro, a elevada taxa de abstenção é nefasta para a
democracia. Édouard Philippe disse que é um motivo para o Governo Macron, com
"humildade e determinação", trabalhar para que o seu
programa tenha sucesso.
Após
a divulgação destas projecções, surgiram as primeiras reacções. François
Baroin, de Os Republicanos, posicionou o seu partido na oposição ao dizer que
vai mostrar a diferença entre os conservadores e Macron, sobretudo em matéria
de impostos.
Sustentando-se
na abstenção, Le Pen disse que Macron conseguiu a maioria no Parlamento mas que
as suas ideias estão "em minoria" no país.
Líder
socialista demite-se
Eliminado
na primeira volta, o secretário-geral do Partido Socialista demitiu-se perante
a confirmação do mau resultado do partido no total das duas voltas.
"Tomo
esta decisão sem amargura nem cólera, consciente do meu dever e do momento
crucial que a esquerda atravessa", disse Jean-Christophe Cambadélis.
"A
esquerda deve mudar, na forma e no conteúdo, as suas ideias e os seus
organizadores, deve abrir um novo ciclo", afirmou, após serem divulgadas
as primeiras projecções. Falou na sede do PS na rua Solférino, em Paris.
Os
jornais franceses especulavam que o PS podia vender a sede, num dos bairros
mais caros de Paris, para cobrir os gastos da campanha eleitoral. Os
partidos recebem subsídios de acordo com o número de votos que recebem e os
desaires eleitorais dos socialistas (presidenciais e legislativas) deixaram o
partido com graves problemas financeiros.
Ana Gomes Ferreira | Público
Maioria
absoluta de Macron abre um novo ciclo político
A
maioria presidencial será menos ampla do que previsto mas subverte o quadro
partidário. A segunda volta foi marcada por uma abstenção recorde
Segundo
as primeiras e provisórias projecções eleitorais, o movimento A República em
Marcha (LRM), do Presidente Emmanuel Macron, e os seus aliados centristas do
MoDem conquistaram hoje a maioria absoluta com 361 deputados entre os 577
na Assembleia Nacional francesa. Desse total, 319 pertencem ao LRM, que tem por
si só maioria absoluta. Depois da vitória de Macron nas presidenciais, este
resultado confirma uma mudança radical do tabuleiro partidário e assinala o fim
de um ciclo político. Mas a jornada foi também marcada por uma abstenção
recorde de 56,6%.
A
direita foi quem melhor resistiu ao ciclone do "macronismo". Os
Republicanos (LR, direita) e aliados obtêm 126 mandatos, enquanto o Partido
Socialista e afins, maioritários na legislatura anterior, sofrem uma hecatombe:
elegem um total de 46 deputados, dos quais apenas 32 do PS. A oposição de
extrema-esquerda, a França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, com 16 eleitos, e
o Partido Comunista, com 10, conseguem constituir um grupo parlamentar. Marine Le
Pen entra pela primeira vez no parlamento. O seu partido, a Frente Nacional
(FN), fez eleger oito deputados, o que é insuficiente para formar um grupo
parlamentar mas marca uma data: a FN tinha apenas dois parlamentares. Se Le Pen
e Mélenchon foram eleitos, a elite do "antigo" PS, a começar pelos
ministros de François Hollande, sofreu uma razia. Entre as figuras novas na
política, destaca-se o matemático Cédric Villani, candidato pelo LRM e que
venceu folgadamente no seu círculo.
Estes
dados são os fornecidos pela projecção IPSOS-Sopra Steria. Outras projecções
apresentam dados ligeiramente diferentes, mas na mesma ordem de grandeza. Uma
das novidades será a dimensão "normal" da vitória do LRM, ao qual as
sondagens pré-eleitorais chegaram a atribuir a possibilidade de 450 lugares, o
que deixaria escassa margem de manobra às oposições.
"O
fim de uma época"
Logo
a seguir ao anúncio dos resultados, Jean-Christophe Cambadélis apresentou a sua
demissão de secretário nacional do PS. Reconheceu: "Esta noite, apesar de
uma abstenção alarmante, o triunfo de Emmanuel Macron é incontestável; o PS
sofre uma derrota sem apelo; a direita enfrenta um verdadeiro fracasso; enfim,
os populistas de todas as bandas ficam contidos. (...) A esquerda deve mudar em
tudo, no fundo como na forma, nas ideias como na organização, deve abrir um
novo ciclo e repensar as origens do progressismo."
A
mesma necessidade de mudança radical foi expressa na televisão por Valérie
Pécresse, uma das líderes do LR: "É o fim de uma época. É absolutamente
necessário lançar um movimento de recuperação, uma dinâmica colectiva, para que
a direita e o centro se reconstruam do chão ao tecto. Penso que não se poderá
construir o novo com o velho."
O
principal efeito da vitória de Macron foi exactamente pôr em causa um sistema
partidário exangue que perdeu a credibilidade, incapaz de promover reformas e
acusado de favorecer a ascensão dos populismos de esquerda e de
extrema-direita. Ou seja, trata-se de forçar uma recomposição geral do sistema
partidário. Poderá vir a constituir uma viragem apenas comparável com a imposta
em 1958 por De Gaulle. Com a diferença de que Macron não quer mudar o regime
mas "reinventar" a V República.
Macron
dispõe agora dos meios para governar. Seguem-se as reformas. Mélenchon subiu o
tom da sua retórica e anunciou uma oposição frontal na rua, apelando à
"resistência popular" e invocando a abstenção — "O nosso povo
está numa forma de greve geral cívica" — para negar "a legitimidade
de perpetrar o golpe de estado social preparado pelo governo".
O
problema da abstenção não é linear. Servirá para atacar a representatividade do
parlamento. Note-se que os franceses participaram nas presidenciais (quase 80%)
mas menosprezaram as legislativas como se, uma vez eleito um Presidente, não
valesse a pena votar. Este reflexo é sobretudo forte entre os jovens e nas
classes populares, em que é maior a descrença no sistema político. Não há uma
causa única mas uma pluralidade de factores.
Jorge
Almeida Fernandes | Público | Foto: CHRISTOPHE ARCHAMBAULT/EPA
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