domingo, 25 de março de 2018

VENCER ASSIMETRIAS – II (Continuação)

Martinho Júnior | Luanda 

5- A Venezuela Bolivariana está numa fase mais adiantada que Angola em relação à capacidade de vencer as assimetrias, não só por que o processo histórico de sua independência e soberania é mais longevo, mas também por que as lutas de libertação contra o colonialismo, o “apartheid” e contra as suas sequelas em Angola, produziram um desgaste “fértil” para os impactos de capitalismo neoliberal, factores conjugados que tiveram e continuam a ter influência nas capacidades de luta contra o subdesenvolvimento.

Assim no que à economia diz respeito, a Venezuela Bolivariana está a adiantar-se a Angola, colocando-se a nível global como uma vanguarda para as emergências tricontinentais: começou a incrementar o “arco de desenvolvimento mineiro do Orinoco”, , na transição entre as regiões de de ocupação e de intervenção humana, criando atractivos populacionais onde nunca houve, visivelmente em municipalidades como Ciudad Bolivar (fundada a 22 de Maio de 1.764) e Ciudad Guayana (fundada a 2 de Julho de 1.961), que constituem polos dessa abrangente iniciativa e ao mesmo tempo, fortaleceu sua economia e agora as finanças, respondendo à agressão da hegemonia unipolar, o império conforme à doutrina Monroe!

A Ciudad Bolivar, capital do Estado de Bolivar e plantada à beira-rio (margem direita do Baixo Orinoco), possui 380.00 habitantes, mas é a Ciudad Guayana, situada mais para leste e ainda junto do Orinoco (imediatamente antes dos braços do seu delta), com cerca de 1.200.000 habitantes que é estrutural e economicamente mais pujante.

As duas cidades estão a leste desse poderoso “arco de desenvolvimento mineiro do Orinoco” que ocupa com uma parte substancial do Baixo Orinoco (111.843,7 km 2), com as principais instalações industriais na área de Ciudad Guayana, que tem, para ligação com o exterior, Puerto Ordaz.

É em Ciudad Guayana que o afluente da margem direita do Orinoco, o Caloní, mistura as suas águas azuis (provenientes da velha meseta planáltica de Guiana), com as águas castanhas do Orinoco (cor dos sedimentos transportados pelas correntes que escorrem dos Andes)…

É também aí onde se encontram as duas principais barragens hidroeléctricas da Venezuela, Macagua e Guri, responsáveis por cerca de 70% da energia que o país consome.

As duas cidades do Estado de Bolivar, um dos mais despovoados da Venezuela, ficam a nordeste do centro geográfico do triângulo do espaço nacional, mas são reitoras de toda a riqueza mineira que está a ser explorada, ao longo do Baixo Orinoco, decisiva para a mobilização patriótica da Revolução Bolivariana em prol da Pátria Grande, desde já nas questões económicas e financeiras (sua riqueza é base da concepção da criptomoeda que é o Petro)!

A sul das cidades, o Parque Nacional de Canaima, o 2º em extensão do país (30.000 km2), cobre a região mais despovoada do Estado de Bolivar.

O 1º Parque Nacional em extensão da Venezuela, situa-se por seu turno no sudeste do Estado de Amazonas (a capital, Puerto Ayacucho,  fica a oeste dele e na fronteira fluvial com a Colômbia).

É também a partir das cidades maiores do Estado de Bolivar que a Missão Piar, vocacionada para os cuidados ambientais a ter nas áreas de mineração, mais se aplica, considerando que é na bacia do Orinoco onde estão as maiores reservas de petróleo globais, sendo também rica em ouro, diamantes, bauxite, coltan…

Numa projecção de desenvolvimento sustentável para os próximos séculos, a Ciudad Bolivar, que fica a relativamente poucos quilómetros a oeste da Ciudad Guayana, seria um lugar propício à instalação duma futura capital bolivariana nos alicerces da Pátria Grande, pois caso isso acontecesse, seria importante para enfrentar os enormes desafios das imensas áreas de intervenção que se propiciam no corpo sul do país, nos Estados de Apure, Bolivar e Amazonas, assim como para além fronteiras.

6- Em função do Orinoco, do seu curso internacional (Médio Orinoco) e de suas riquezas, (o Orinoco possui uma bacia com cerca de 880.000 km2), as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas, desenvolveram por via da Armada Nacional, um Corpo de Fuzileiros, com cerca de 17.500 efectivos, dos quais uma parte significativa cobre a imensa região de intervenção onde se desenham todos os afluentes da margem direita do poderoso rio e alguns da margem esquerda (uma parte dos quais tem curso na Colômbia).

O Comando das unidades fluviais dos fuzileiros, já distribuídas por três bases fluviais, tem Caicara de Orinoco como projectada base operacional principal, que comandará todos os actuais dispositivos, assim distribuídos:

- Quinta Brigada de Infantaria de Marinha Fluvial “CF. José Tomas Machado” –  sedeada no Orinoco, Ciudad Bolívar, Estado deBolívar;

Sexta Brigada de Infantaria de Marinha Fluvial “Alm. Manuel Ezequiel Bruzual” – sedeada no rio Apure (afluente da margen esquerda do Orinoco), em San Fernando, capital do Estado de Apure;

Séptima Brigada de Infantería de Marina Fluvial “G/B Franz Risquez Iribarren” – sedeada em Puerto Ayacucho, capital do Estado de Amazonas, na fronteira fluvial com a Colômbia.

A actuação das Forças Ermadas Nacionais Bolivarianas têm sido um esteio para as amplas medidas de intervenção, uma autêntica missão de vanguarda, e reconhecimento, de pesquisa e de inteligência, abrindo canais para dentro das áreas até hoje inertes mas ávidas de intervenção humana!
  
As Unidades de Fuzileiros Fluviais têm já uma vasta experiência pelo que a Armada Nacional Venezuelana possui capacidades que os países africanos e latino-americanos podem equacionar para o desenvolvimento interior de suas unidades militares de Fuzileiros, integrando-os nos dispositivos internos das geoestratégias para um desenvolvimento sustentável, num horizonte de séculos!

No caso angolano, é uma recomendação que faço, até por que à água interior dum vital valor, se juntam tal como na Venezuela enormes riquezas mineiras.

Tudo isso é algo que não está a deixar indiferente a vizinha África do Sul, que se fará representar os seus intereses no “arco mineiro do Orinoco” e apresentou recentemente um seu Embaixador em Caracas!...

7- O rio Cuanza, comparativamente ao Orinoco, é menor, todavía, tendo nascente no fulcro geográfico do país, sua bacia está próxima de todas as mais importantes bacias existentes em territorio nacional, pelo que podem-se formar sistemas de transvases para um Corpo de Fuzileiros Fluviais das Forças Armadas Angolanas, integrado numa geoestratégia para um desenvolvimento sustentável a muito longo prazo:

Em relação aos ríos da bacia do Congo equatorial, o segundo rio mais caudaloso do mundo (em especial o Cuango e o Cassai, ricos em depósitos aluviais de diamantes e com cursos internacionais antes de penetrarem na RDC), a norte;

- Em relação aos rios que integram a poderosa bacia do Zambeze (Luena, Lungué Bungo e Cuando), a leste;

- Em relação à bacia do Cubango, a sudeste (e aos maiores Parques Nacionais e Reservas Naturais angolanas e internacionais, englobando a Namíbia, a Zâmbia, o Zimbabwe e o Botswana);

- Em relação ao sistema subterrâneo do Cuvelai, a sul, que desemboca no Etosha Pan, na Namíbia, pérola que anima o Parque Natural do Etosha;

- Em relação à bacia do Cunene (que possui um troço final de curso internacional), a sudoeste, o rio que a seguir ao Cuanza mais aproveitamentos de barragens para produção hidroeléctrica e irrigação possui;

- Em relação a todas as pequenas bacias de rios que em território angolano desaguam no Atlântico (oeste).

As experiências desse Corpo de Fuzileiros Fluviais que proponho desde já criar bebendo da experiencia da Venezuela Bolivariana, seriam importantes para controlar os cursos iniciais, médios e terminais dos ríos, algo essencial para se lançarem as bases para uma geoestratégia para um desenvolvimento sustentável, pois as suas abordagens, tendo em conta o grau de mobilização da juventude, integraria os procesos próprios da gestação dum cultura nacional de segurança e inteligência vocacionada para o futuro, sendo desde logo um manancial para as Universidades, Institutos Superiores e de Pesquisa, que se venham a mobilizar para um projecto tão decisivo quanto esse!

O esforço patriótico a desenvolver-se numa tal projecção, similar ao que a Revolução Bolivariana está já a fazer no outro lado do Atlântico, integrando desde logo os esforços das FAA e dos organismos do Interior, é um processo incontornável, pois seria também importante para melhor asseguramento em relação às riquezas nacionais, contrariando a tendência para processos anárquicos que podem ser um dia reutilizados por um qualquer quadro de subversão, como hoje têm sido tão mal aproveitados em função dos processos de terapia neoliberal que tanta corrupção tem trazido à amada Pátria de Agostinho Neto!

Martinho Júnior - Luanda, 24 de Março de 2018

Mapas e foto:
- Localização do “arco de desenvolvimento mineiro do Orinoco” no mapa da Venezuela;
- Definição do quadrado angolano e dos quatro triângulos que integram o espaço nacional;
- As riquezas do “arco de desenvolvimento mineiro do Orinoco”;
- Evidências orográficas e hidrográficas, distribuídas nos quatro triângulos do quadrado angolano;
- Confluência do fluente de águas azuis, o Caloní, no barrento Orinoco, um “V” de - -- Vitória para a Venezuela Bolivariana – os rios esperam pela garantia de futuro, a partir do empenho dos melhores filhos das pátrias angolana e venezuelana.

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