Martinho Júnior | Luanda
5- A Venezuela Bolivariana está
numa fase mais adiantada que Angola em relação à capacidade de vencer as
assimetrias, não só por que o processo histórico de sua independência e
soberania é mais longevo, mas também por que as lutas de libertação contra o colonialismo,
o “apartheid” e contra as suas sequelas em Angola, produziram um desgaste “fértil” para
os impactos de capitalismo neoliberal, factores conjugados que tiveram e
continuam a ter influência nas capacidades de luta contra o subdesenvolvimento.
Assim no que à economia diz
respeito, a Venezuela Bolivariana está a adiantar-se a Angola, colocando-se a
nível global como uma vanguarda para as emergências tricontinentais: começou a
incrementar o “arco de desenvolvimento mineiro do Orinoco”, , na transição
entre as regiões de de ocupação e de intervenção humana, criando atractivos
populacionais onde nunca houve, visivelmente em municipalidades como Ciudad
Bolivar (fundada a 22 de Maio de 1.764) e Ciudad Guayana (fundada a 2 de Julho
de 1.961), que constituem polos dessa abrangente iniciativa e ao mesmo tempo,
fortaleceu sua economia e agora as finanças, respondendo à agressão da
hegemonia unipolar, o império conforme à doutrina Monroe!
A Ciudad Bolivar, capital do
Estado de Bolivar e plantada à beira-rio (margem direita do Baixo Orinoco),
possui 380.00 habitantes, mas é a Ciudad Guayana, situada mais para leste e
ainda junto do Orinoco (imediatamente antes dos braços do seu delta), com cerca
de 1.200.000 habitantes que é estrutural e economicamente mais pujante.
As duas cidades estão a leste
desse poderoso “arco de desenvolvimento mineiro do Orinoco” que ocupa
com uma parte substancial do Baixo Orinoco (111.843,7 km 2), com as principais
instalações industriais na área de Ciudad Guayana, que tem, para ligação com o
exterior, Puerto Ordaz.
É em Ciudad Guayana que o
afluente da margem direita do Orinoco, o Caloní, mistura as suas águas azuis
(provenientes da velha meseta planáltica de Guiana), com as águas castanhas do
Orinoco (cor dos sedimentos transportados pelas correntes que escorrem dos
Andes)…
É também aí onde se encontram as
duas principais barragens hidroeléctricas da Venezuela, Macagua e Guri,
responsáveis por cerca de 70% da energia que o país consome.
As duas cidades do Estado de
Bolivar, um dos mais despovoados da Venezuela, ficam a nordeste do centro
geográfico do triângulo do espaço nacional, mas são reitoras de toda a riqueza
mineira que está a ser explorada, ao longo do Baixo Orinoco, decisiva para a
mobilização patriótica da Revolução Bolivariana em prol da Pátria Grande, desde
já nas questões económicas e financeiras (sua riqueza é base da concepção da
criptomoeda que é o Petro)!
A sul das cidades, o Parque
Nacional de Canaima, o 2º em extensão do país (30.000 km2), cobre a região mais
despovoada do Estado de Bolivar.
O 1º Parque Nacional em extensão
da Venezuela, situa-se por seu turno no sudeste do Estado de Amazonas (a
capital, Puerto Ayacucho, fica a oeste dele e na fronteira fluvial
com a Colômbia).
É também a partir das cidades
maiores do Estado de Bolivar que a Missão Piar, vocacionada para os cuidados
ambientais a ter nas áreas de mineração, mais se aplica, considerando que é na
bacia do Orinoco onde estão as maiores reservas de petróleo globais, sendo
também rica em ouro, diamantes, bauxite, coltan…
Numa projecção de desenvolvimento
sustentável para os próximos séculos, a Ciudad Bolivar, que fica a
relativamente poucos quilómetros a oeste da Ciudad Guayana, seria um lugar
propício à instalação duma futura capital bolivariana nos alicerces da Pátria Grande,
pois caso isso acontecesse, seria importante para enfrentar os enormes desafios
das imensas áreas de intervenção que se propiciam no corpo sul do país, nos
Estados de Apure, Bolivar e Amazonas, assim como para além fronteiras.
6- Em função do Orinoco, do seu
curso internacional (Médio Orinoco) e de suas riquezas, (o Orinoco possui uma
bacia com cerca de 880.000 km2), as Forças Armadas Nacionais Bolivarianas,
desenvolveram por via da Armada Nacional, um Corpo de Fuzileiros, com cerca de
17.500 efectivos, dos quais uma parte significativa cobre a imensa região de
intervenção onde se desenham todos os afluentes da margem direita do poderoso
rio e alguns da margem esquerda (uma parte dos quais tem curso na Colômbia).
O Comando das unidades fluviais
dos fuzileiros, já distribuídas por três bases fluviais, tem Caicara de Orinoco
como projectada base operacional principal, que comandará todos os actuais
dispositivos, assim distribuídos:
- Quinta Brigada de
Infantaria de Marinha Fluvial “CF. José Tomas Machado” – sedeada
no Orinoco, Ciudad Bolívar, Estado deBolívar;
Sexta Brigada de Infantaria de
Marinha Fluvial “Alm. Manuel Ezequiel Bruzual” – sedeada no rio Apure
(afluente da margen esquerda do Orinoco), em San Fernando, capital do Estado de Apure;
Séptima Brigada de Infantería de
Marina Fluvial “G/B Franz Risquez Iribarren” – sedeada em Puerto Ayacucho, capital do Estado de Amazonas, na fronteira fluvial com a
Colômbia.
A actuação das Forças Ermadas
Nacionais Bolivarianas têm sido um esteio para as amplas medidas de
intervenção, uma autêntica missão de vanguarda, e reconhecimento, de pesquisa e
de inteligência, abrindo canais para dentro das áreas até hoje inertes mas
ávidas de intervenção humana!
As Unidades de Fuzileiros
Fluviais têm já uma vasta experiência pelo que a Armada Nacional Venezuelana
possui capacidades que os países africanos e latino-americanos podem equacionar
para o desenvolvimento interior de suas unidades militares de Fuzileiros,
integrando-os nos dispositivos internos das geoestratégias para um
desenvolvimento sustentável, num horizonte de séculos!
No caso angolano, é uma
recomendação que faço, até por que à água interior dum vital valor, se juntam
tal como na Venezuela enormes riquezas mineiras.
Tudo isso é algo que não está a
deixar indiferente a vizinha África do Sul, que se fará representar os seus
intereses no “arco mineiro do Orinoco” e apresentou recentemente um
seu Embaixador em Caracas!...
7- O rio Cuanza, comparativamente
ao Orinoco, é menor, todavía, tendo nascente no fulcro geográfico do país, sua
bacia está próxima de todas as mais importantes bacias existentes em territorio
nacional, pelo que podem-se formar sistemas de transvases para um Corpo de
Fuzileiros Fluviais das Forças Armadas Angolanas, integrado numa geoestratégia
para um desenvolvimento sustentável a muito longo prazo:
Em relação aos ríos da bacia do
Congo equatorial, o segundo rio mais caudaloso do mundo (em especial o Cuango e
o Cassai, ricos em depósitos aluviais de diamantes e com cursos internacionais
antes de penetrarem na RDC), a norte;
- Em relação aos rios que
integram a poderosa bacia do Zambeze (Luena, Lungué Bungo e Cuando), a leste;
- Em relação à bacia do Cubango,
a sudeste (e aos maiores Parques Nacionais e Reservas Naturais angolanas e
internacionais, englobando a Namíbia, a Zâmbia, o Zimbabwe e o Botswana);
- Em relação ao sistema
subterrâneo do Cuvelai, a sul, que desemboca no Etosha Pan, na Namíbia, pérola
que anima o Parque Natural do Etosha;
- Em relação à bacia do Cunene
(que possui um troço final de curso internacional), a sudoeste, o rio que a
seguir ao Cuanza mais aproveitamentos de barragens para produção hidroeléctrica
e irrigação possui;
- Em relação a todas as pequenas
bacias de rios que em território angolano desaguam no Atlântico (oeste).
As experiências desse Corpo de
Fuzileiros Fluviais que proponho desde já criar bebendo da experiencia da
Venezuela Bolivariana, seriam importantes para controlar os cursos iniciais,
médios e terminais dos ríos, algo essencial para se lançarem as bases para uma
geoestratégia para um desenvolvimento sustentável, pois as suas abordagens,
tendo em conta o grau de mobilização da juventude, integraria os procesos
próprios da gestação dum cultura nacional de segurança e inteligência
vocacionada para o futuro, sendo desde logo um manancial para as Universidades,
Institutos Superiores e de Pesquisa, que se venham a mobilizar para um projecto
tão decisivo quanto esse!
O esforço patriótico a
desenvolver-se numa tal projecção, similar ao que a Revolução Bolivariana está
já a fazer no outro lado do Atlântico, integrando desde logo os esforços das
FAA e dos organismos do Interior, é um processo incontornável, pois seria também
importante para melhor asseguramento em relação às riquezas nacionais,
contrariando a tendência para processos anárquicos que podem ser um dia
reutilizados por um qualquer quadro de subversão, como hoje têm sido tão mal
aproveitados em função dos processos de terapia neoliberal que tanta corrupção
tem trazido à amada Pátria de Agostinho Neto!
Martinho Júnior - Luanda, 24 de Março de 2018
Mapas e foto:
- Localização do “arco de
desenvolvimento mineiro do Orinoco” no mapa da Venezuela;
- Definição do quadrado angolano e
dos quatro triângulos que integram o espaço nacional;
- As riquezas do “arco de
desenvolvimento mineiro do Orinoco”;
- Evidências orográficas e
hidrográficas, distribuídas nos quatro triângulos do quadrado angolano;
- Confluência do fluente de águas
azuis, o Caloní, no barrento Orinoco, um “V” de - -- Vitória para a Venezuela
Bolivariana – os rios esperam pela garantia de futuro, a partir do empenho dos
melhores filhos das pátrias angolana e venezuelana.
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