Paulo Baldaia* | Jornal de Notícias
| opinião
O populismo, que se alimenta de
gente que leva décadas a ser esquecida, é que pode ser de Esquerda ou de
Direita. Mas o perigo nunca é real por vir da Esquerda ou da Direita, é real
porque os populismos crescem dividindo os mais frágeis, colocando uns contra os
outros. Desempregados contra imigrantes ou brancos pobres contra pretos pobres
são o conflito mais comum, num discurso que acaba sempre por apelar aos
eleitores para se revoltarem contra os eleitos, todos corruptos.
Em Portugal não temos ainda
terreno fértil para semear e colher rapidamente conflitos anti-imigração ou
conflitos raciais, mas o potencial existe. O que garantidamente seria um êxito
eleitoral era um partido anticorrupção, liderado, por exemplo, pelo juiz Carlos
Alexandre. Sem outra agenda que não fosse o combate a esta chaga, que os
portugueses acreditam ser generalizada na elite política e económica, um
partido com Carlos Alexandre como cabeça de cartaz estaria em condições de
ganhar as eleições. Se não já em 2019, na seguinte. Sem uma liderança forte,
podem ambicionar, ainda assim, eleger vários deputados e formar um grupo
parlamentar.
E sabem porque é que os pobres
acabam sempre por dar a mão aos populistas de Direita, ou aos populistas de
Esquerda? Porque os políticos "sérios" nunca se preocupam em resolver
estruturalmente os problemas dos mais pobres. Os que são verdadeiramente pobres
demoram décadas para ver uma pequena parte do seu exército entrar no elevador
social, mas estão sempre a vê-lo avariar-se e a ter que voltar para baixo, quando
há uma crise. Em Portugal, o salário dos gestores não desceu com a última crise
e a Função Pública não perdeu emprego, perdeu salário que já recuperou, mas os
milhões que vivem com menos de 800 euros por mês são sempre precários no acesso
ao direito de ganhar a vida com trabalho. Se a política gosta de brincar com os
mais frágeis, é da mais elementar justiça que os mais frágeis gostem de brincar
com a política. Foi assim nos Estados Unidos, no Brasil, na Europa... e haverá
de ser assim em Portugal.
*Jornalista
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