quinta-feira, 5 de novembro de 2020

Vergonhosa e Minúscula América...

A América, como tantos dizem ao referirem-se aos EUA (como se aquela parte nortenha do continente fosse dona da parte central e do sul) mostra o que para as elites político-partidárias e financeiras significa a democracia, as eleições, os votos e os interesses pessoais e de grupos afetos ao grande capital e aos lobies. Os EUA democráticos há muito que se extinguiram. A grande democracia exauriu-se perante a máfia que há décadas a governa governando-se. A bandidagem perdeu as estribeiras e proporciona ao mundo inteiro o triste espetáculo da pouca vergonha de uns quantos. O caráter de Al Capone e as suas práticas ressuscitam todos os dias da Casa Branca ao Congresso encarnado nos pseudo altos dignitários da nação, a começar pelo Presidente. Na atualidade um tal Trump, mas há mais daquele quilate, uns armados como no faroeste, outros nem por isso. Todos esses a pavonearem-se sem dignidade, sem o devido respeito pelos eleitores, pelos cidadãos dos EUA, pelo próprio país que querem e dizem ser grande - uma falácia. Assistimos em todo o mundo á maior ausência de vergonha no decorrer do apuramento do resultado das eleições. Todos vimos isso fora daqueles fronteiras, assim como todos os cidadãos dos EUA com dignidade também vêem. Vêem o que não merecem. Povo nenhum merece ver os seus líderes a personalizarem o triste espetáculo a que temos assistido. A refrega eleitoral pode vir a complicar-se muito mais. De um lado e de outro, democratas e republicanos, andam armados. É o dividirem para reinarem um povo alienado, fraccionado, que está a exibir os antagonismos que as duas formações partidárias têm semeado. A Grande América já não o é. Quem não sabe?! Pelo menos que se salve o grande povo naquela América Vergonhosa e Minúscula.

A seguir o Curto do Expresso. Para si. Bom dia.

MM | PG

Bom dia este é o seu Expresso Curto

Vitória de Biden é quase certa mas Trump ameaça impugnar resultados

Miguel Cadete | Expresso

A vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais dos Estados Unidos da América está muito próxima e pode mesmo ser anunciada hoje. Segundo o “New York Times”, o ex-vice de Barack Obama já assegurou 253 grandes eleitores dos 270 que são necessários para chegar a Chefe de Estado contra apenas 214 para Donald Trump. Siga aqui a contagem dos votos em direto.

A conquista por parte de Biden dos estados do Wisconsin e Michigan, anunciada ontem à noite, pode ser decisiva, havendo mesmo quem, como a Associated Press, coloque as contas num 264 contra 214, tornando a disputa no Nevada (que vale seis eleitores) decisiva para Biden chegar a Presidente. Nesse caso, a contagem de votos na Pensilvânia, Carolina do Norte ou Geórgia já seria irrelevante.

A diferença entre as várias contagens acontece ora por ainda não terem sido contabilizados muitos dos votos enviados pelo correio, um processo que ganhou muito destaque nestas eleições devido à pandemia, ora porque Donald Trump está a utilizar processos judiciais para pedir a recontagem de votos ou impedir o regular funcionamento do processo eleitoral.

Depois de se ter declarado vencedor prematuramente, o atual Presidente dos EUA, encontra-se perante um cada vez mais provável cenário de derrota, e então pediu a recontagem de votos no Wisconsin, exigiu a sua paragem no Michigan, suspeitou dos prazos de fecho das urnas na Pensillvânia e quer impedir que sejam válidos os votos mais tardios na Geórgia. Além de uma vitória na secretaria, dependente de regulamentação diversa de estado para estado, Trump pretende prolongar o anúncio do vencedor destas eleições. A ameaça de recorrer ao Supremo Tribunal, onde há uma maioria de conservadores, de forma a parar a contagem dos votos foi outro sinal dado por Trump nesse sentido.

Os menos crentes na democracia americana acreditam que os EUA podem ser, neste momento, um barril de pólvora. Sobretudo se Trump insistir na tese da fraude eleitoral e apelar a milícias e grupos armados, abandonando o recurso às instituições judiciais para contestar a contagem de votos. Na rede social Twitter, alguns dos seus posts foram mesmo censurados.

O populismo – que é anterior à investidura de Trump como Presidente - será contudo a grande marca destas eleições na América, até pelo contágio que o fez alastrar a outros continentes. E esse poderá permanecer bem vivo na sociedade americana. David Dinis, enviado especial do Expresso a estas eleições, encontrou já nove obstáculos para normalizar esta América pós-Trump.

Em Portugal, uma provável mudança de Presidente dos EUA poderá ter repercussões muito relevantes, basta lembrar o recente ultimato do Embaixador de Washington m Lisboa no que respeita à relação com a China. Para o ministro dos Negócios Estrangeiros, “uma administração Biden será uma mudança”, disse ontem em declarações à RTP.

Joe Biden também falou ontem, 20 horas depois do fecho das urnas, mas não se anunciou vencedor ainda que tenha dito acreditar na vitória final. “Meus amigos americanos, provaram de novo que a democracia é o coração deste país. Mais de 150 milhões votaram e isso é extraordinário. O governo do povo e para o povo está vivo”, disse.

Estas foram as eleições presidenciais mais concorridas nos EUA nos últimos cem anos. Tanto o candidato democrata como o candidato republicano terão somado cinco milhões de votos ao resultado que obtiveram em 2016. Foram esse dez milhões de votantes adicionais que também ajudaram à derrota das sondagens nesta eleição. Joe Biden terá conseguido o desempenho bem acima daquele obtido por Hillary Clinton nas áreas urbanas. Já Donald Trump terá alcançado mais votos nas áreas rurais e menos povoadas. Não foram reportados, até agora, distúrbios nas urnas nem problemas na contagem electrónica dos votos.

A disputa promete, contudo, passar das urnas para os tribunais. E dos tribunais para as ruas. Oiça a edição de hoje do podcast Expresso da Manhã, conduzido por Paulo Baldaia, com participação especial neste episódio dos enviados do Expresso Pedro Cordeiro (em Washington) e David Dinis (em Nova Iorque). Quinze minutos por dia em que fica a saber tudo o que se passa em Portugal e no mundo.

OUTRAS NOTÍCIAS

Em Portugal foi ontem registado um novo máximo de mortos em 24 horas atribuídos à pandemia do novo coronavírus. Além dos 3570 novos casos confirmados, a DGS anunciou a morte de 59 infetados com covid-19. A boa notícia, ainda que surpreendente face a estes dados, é a queda do indicador de transmissão (Rt), de 1,27 a 10 de outubro para 1,14; o que significaria um claro desacelerar da pandemia.

Rui Rio ainda não aceitou exigências do Chega e chumba geringonça açoriana. A recusa da revisão da Constituição, como pretende o partido de André Ventura, não foi aceite o que leva a acreditar que não existirá uma coligação entre PSD, CDS, PPM, IL e Chega. José Manuel Bolieiro, o líder do PSD Açores, tem até sábado para apresentar uma solução governativa.

Parlamento quer votar Estado de emergência esta sexta-feira. A data só ainda não é definitiva porque o decreto ainda não chegou da Presidência da República.

O Presidente da CIP está contra o Estado de Emergência devido ao impacto que tem nas empresas. Segundo António Saraiva, está demonstrado “desde março, que há outras soluções”. Também a Confederação do Comércio tem dúvidas e alerta “para o impacto nas empresas”. O PCP está, neste caso com os patrões, “estado de emergência ou recolher obrigatório nada resolvem”, disse a Direção da Organização Regional do Porto do PCP.

CUF assina acordo com SNS. O Hospital CUF do Porto vai receber doentes oriundos do Serviço Nacional de Saúde, tal como está previsto no acordo ontem assinado com a ARS do Norte. Ficou determinado o pagamento de 1962 euros por cada episódio de internamento sem ventilação ou com ventilação até 96 horas e de 12.861 euros nos casos mais graves e que permanecem além de quatro dias no hospital com recurso a ventilação. Já no Hospital de Penafiel, a Ordem dos Enfermeiros diz que se vive um autêntico clima de guerra.

Na manchete do “Público” lê-se que um milhão e meio de consultas ficaram por fazer devido à pandemia. O Ministério da Saúde também alertou para o facto de 150 mil cirurgias terem sido canceladas.

Na capa da revista “Sábado” noticia-se que o Ministério Público está a investigar o ministro da Economia, Siza Vieira, e o secretário de Estado João Galamba devido aos negócios do hidrogénio em Sines. Ainda segundo aquela publicação, António Mexia e Manso Neto, ex-administradores da EDP e REN, também são alvo, bem como Costa Pina, da Galp.

Prossegue o julgamento do hacker Rui Pinto. Ontem esteve no tribunal Nélio Lucas, fundador da Doyen, que assumiu que a empresa nunca perdia dinheiro. No entanto, foi encontrado um buraco de 31 milhões de euros nas contas da Doyen em Malta.

“Idiot Prayer”, o concerto a solo que Nick Cave deu durante o período de quarentena vai ser exibido em Portugal esta quinta-feira, 5 de novembro. O espectáculo foi transmitido em streaming, a partir da sala londrina Alexandra Palace sem qualquer público a assistir. Saiba em que salas pode ver o filme aqui.

FRASES (Especial Eleições EUA)

“O pobre Biden é um embaraço mantido em bom recato. No fundo é um adereço anacrónico, uma promessa desvitalizada de regresso a um business as usual passado, a uma era pré-Trump, mas também pré-Obama”. Sérgio Sousa Pinto, colunista do Expresso

“Não sei quando se cansará Trump da sua obsessiva narrativa segundo a qual foi roubado e o vencedor foi ele”. Henrique Monteiro, colunista do Expresso

“Se Trump perder, serão, até 20 de janeiro, dois meses e meio de inferno. Não estou otimista, mas esperemos que seja a provação mais rápida. O mundo precisa de se ver livre deste incendiário”. Daniel Oliveira, colunista do Expresso

“Como dizia há dias Fareed Zakaria, há que ter esperança no lado solar da América”. Henrique Raposo, colunista do Expresso

O QUE ANDO A LER

Em tempo de renhidas eleições nos Estados Unidos da América não é descabido recuar a um dos mais lendários debates na televisão portuguesa. Para a história ficou aquele que opôs Mário Soares e Álvaro Cunhal, então líderes do PS e do PCP, capaz de prender o país ao pequeno ecrã, numa época em que apenas existiam dois canais de televisão, ambos da RTP.

A refrega teve lugar a 6 de novembro de 1975, entre as eleições para a Assembleia Constituinte e as eleições legislativas de 1976. Dias antes tinha sido assaltada a Embaixada de Espanha em Lisboa. E semanas depois teria lugar o cerco aos deputados da Constituinte que ficariam sitiados no Parlamento. Era também o tempo em que os moderadores, Joaquim Letria e José Carlos Megre, soltavam fartas baforadas dos seus cigarros, logo a abrir a contenda, como aliás é possível atestar nas várias reproduções do debate que hoje se encontram no YouTube ou noutras plataformas.

Para a história ficou também a tirada de Álvaro Cunha, repetida meia dúzia de vezes, em resposta às provocações de Mário Soares, empenhado em conter o totalitarismo comunista: “Olhe que não, olhe que não!”. Estas visões antagónicas do mundo ou da democracia deram origem a muito mais do que um debate. Dividiram o país até há bem pouco tempo e marcaram decisivamente a sociedade portuguesa desde o 25 de Abril de 1974.

Agora deram também origem a um livro, que leva por título o famoso dito de Cunhal. “Olhe que Não, Olhe que Não” é uma edição da Tinta-da-China que chega amanhã às livrarias, da autoria de José Pedro Castanheira e José Maria Brandão de Brito. Ao todo são 312 páginas que passam a pente fino um país em convulsão, saído do Estado Novo e a aprender a lidar com a democracia. A promoção do livro aponta a data como o “ato fundador da democracia mediática” portuguesa, apesar de meses antes os mesmos oponentes terem ensaiado este histórico debate aos microfones da Antenne 2 francesa.

E se a televisão então foi fundamental para a discussão livre e plural, que dizer hoje, passados 45 anos, da utilização das redes sociais e da sua perversão no que respeita ao debate político. Éramos mais inocentes em 1975?

Por hoje é tudo. Acompanhe toda atualidade no site do Expresso.

Sugira o Expresso Curto a um/a amigo/a

Sem comentários:

Mais lidas da semana