quarta-feira, 5 de janeiro de 2022

HOJE AINDA NÃO HÁ SIC MAS HÁ EXPRESSO ONLINE, AMANHÃ NÃO SABEMOS…

O ataque à democracia e há liberdade de informação - que ainda perdura – dirigido ao grupo Impresa, consequentemente ao Expresso e outras publicações online, privou-nos de os utilizarmos.

Praticamente na última hora de ontem (23 horas) o Expresso fez o que devia e surgiu em site provisório (aqui), fruto dos esforços de todos que laboram naquela casa. Isso quer dizer que já há Expresso online e, como poderão ler, já há Expresso Curto. É de ficarmos maravilhados e agradecidos pelo facto.

Hoje devido aos profissionais da Impresa que reagiram positivamente ao ataque de terroristas informáticos, a chamada “liberdade para pensar”, o Expresso e outros, aconchega-nos o hábito e o prazer de concordar ou discordar daquilo que apresentam. Bem vindos e lutem sempre. Muito obrigado.

Contamos que amanhã e dias seguintes reflitam melhorias na solução de normalizar as marcas da Impresa e que os terroristas ganhem juízo ou até um cantinho no chilindró. Pois.

Dito isto, vamos ao resto. E o resto é o Curto do Expresso em prosa de Vítor Matos. Vale.

Tenham um bom dia, se conseguirem. Eis o Curto, a seguir.

Redação PG


Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Costa sem confiança no fiável Jerónimo (e o regresso do Expresso)

Vítor Matos | Expresso

Bom dia!

Antes de mais, uma notícia com notícias para si. O Expresso voltou a poder ser lido online: uma equipa trabalhou arduamente para lhe disponibilizar este site provisório tão depressa quanto possível, com uma promessa: “Vamos dar tudo o que temos para não o deixar mal nestes dias importantes da nossa história”. Aqui, a SIC também já regressou ao modo digital. O jornal e a televisão da Impresa continuam sob ciberataque, mas nem os piratas informáticos com menos escrúpulos silenciarão o nosso jornalismo, que nasceu faz amanhã 49 anos com o lançamento do Expresso, quando ainda não havia liberdade - mas para ser exercido em liberdade. #liberdadeparainformar

O nosso site foi para o ar momentos depois de António Costa ter conseguido encurralar Jerónimo de Sousa num dos debates mais aguardados da pré-campanha, que não conseguiu eficazmente explicar o chumbo no Orçamento do Estado. O líder do PS fechou a cara ao comunista, o ex-parceiro que ele dizia ser fiável, cuja palavra bastava para um acordo, e resumiu que agora não há “condições de confiança” para garantir a reedição de uma ‘geringonça’ com uma “solução estável”. E consumou ali o divórcio, segundo este resumo da Rosa Pedroso Lima, enquanto “Jerónimo deu um tempo”, à espera da correlação de forças eleitoral. Costa conseguiu pôr argumentos suficientes na mesa para convencer os fiéis eleitores comunistas a votar PS? Não é possível para já perceber se funcionou, mas foi convincente quando explicou a inviabilidade de aumentar o salário mínimo em €95 defendido pelo PCP, quando o Governo estipulava um aumento de €40, que já era o maior de sempre. Para seis comentadores do Expresso, Costa ganhou o frente a frente com uma média de 6,5 valores contra 4,3 de Jerónimo. Pode ver aqui as notas e os comentários.  

Num serão de três debates, houve mais dois, mas só valeu a pena comer pipocas no segundo: Catarina Martins vs Rui Tavares e Francisco Rodrigues dos Santos vs Inês Sousa Real. No derby da esquerda, Bloco e Livre pescaram na mesma água, mas enquanto a coordenadora do BE aconselhou o fundador do Livre desconfiar de António Costa, este explorou as contradições das críticas bloquistas à União Europeia. Catarina continuou sem dizer em que circunstâncias viabilizaria (ou não) um Governo do PS, apesar de ambos procurarem um acordo com Costa (um obstáculo?) como escreve o João Diogo Correia. Os comentadores do Expresso deram uma média de 5,8 valores  a Rui Tavares e 5,4 a Catarina Martins.

No terceiro confronto da noite, o líder do CDS comportou-se como o mais exaltado de todos os que participaram nesta ronda, contra uma porta-voz do PAN que representa o contrário do que ele defende e vice-versa. Mas ambos podem negociar com o PSD, resume a Eunice Lourenço. Foi um ringue de boxe e, segundo a avaliação dos colunistas do Expresso, Chicão ganhou com a nota mais baixa até agora, de 3,2 valores, perante uma nota mais baixa ainda de Sousa Real, 2,8. “São dois líderes com um grande futuro atrás de si”, comentou a Cristina Figueiredo, editora de política da SIC.

Apesar de o debate de Rui Rio com André Ventura ter sido na terça-feira, o dia foi marcado pelos ecos do duelo mais aguardado à direita. Tendo Rio saído dos estúdios da SIC com buracos na narrativa, António Costa não perdeu tempo e gravou um vídeo a acusar o líder do PSD de admitir o que nem a ditadura fez, ao ter negociado em direto com Ventura diferentes modalidades de prisão perpétua. O PSD apressou-se a responder, conta-nos a Rita Dinis: primeiro foi Rui Rio no Twitter a acusar Costa de deturpar as suas palavras, depois foi José Silvano, diretor de campanha, em comunicado oficial, a dar mais gás a essa tese de “desinformação”. “Em política não pode valer tudo”.

Hoje à noite, teremos mais três duelos televisivos, com destaque pela competição dos votos à direita: como é que o líder do CDS vai lutar pela sobrevivência, na RTP3, contra João Cotrim de Figueiredo, presidente da Iniciativa Liberal, que lhe está a conquistar eleitores e a asfixiar o partido? Na CNN, veremos qual será a estratégia de Rui Tavares para defrontar André Ventura nos seus antípodas. Na SIC, uma originalidade: Rui Rio aparece frente a Catarina Martins, dois partidos sem pontos de contacto, embora ambos possam (teoricamente) viabilizar um eventual Governo do PS - hoje com maior probabilidade para o PSD… Amanhã há mais.

OUTRAS NOTÍCIAS

Ainda sem uma noção completa dos contágios das festas, mas longe dos números preocupantes e da pressão do ano passado, os líderes políticos voltam hoje às reuniões com os especialistas no Infarmed. Já há máximos de infeções, mas as medidas “são suficientes”, defende o investigador Miguel Castanho à Lusa, que acredita que ritmo vai descer com as atuais restrições.

No fim da reunião, os protagonistas voltam à luta e à campanha para um ato eleitoral em que o Governo vai duplicar as mesas de voto para quem quiser votar antecipadamente, face às presidenciais de há um ano: diz-se, no entanto, de mãos atadas quanto aos confinados que não se possam inscrever. O investigador e matemático Carlos Antunes estima ao Expresso que, na semana eleitoral, quase meio milhão de pessoas pode estar em isolamento. É impossível prever que impacto pode isso ter no resultado destas legislativas. 

Embora falemos de pandemia, a Covid-19 está a regredir para uma endemia? “É difícil achar isso com uma duplicação dos casos a cada semana”, explica ao Expresso, o epidemiologista Ricardo Mexia. Ontem, foram detetados mais 25.836 novos casos em Portugal e houve 15 mortes a lamentar, há 584 surtos ativos (353 em escolas, 51 em lares de idosos e 10 em instituições de saúde) e as baixas disparam 160% nos primeiros 21 dias de dezembro.

Neste momento, a Ómicron já é responsável por quase 90% das infeções em Portugal, mas há outra variante do vírus, “eventualmente mais perigosa” a surgir e a preocupar a OMS: a França identificou uma nova variante, designada IHU, com mais de 40 mutações genéticas. Representará um novo surto?

Entretanto, noutra epidemia, a da falta de transparência, o Tribunal de Contas apontou falhas nas medidas especiais de contratação pública: entre 20 de junho e 20 de novembro foi enviada informação sobre apenas 0,43% do número total de contratos públicos de valor inferior a 750 mil euros registados no portal BASE.

A falta de professores será acentuada pela descida na idade da reforma, avança hoje o “Público” em manchete. Segundo o diário, será preciso contratar perto de 3600 docentes em 2023/24, mais 800 do que o previsto no estudo apresentado pelo Ministério da Educação em Novembro. Mas com o fim da pandemia, a idade da aposentação deverá voltar aos valores habituais.

Na Operação Marquês, o Ministério Público arquivou as suspeitas na distribuição do processo: houve “erros” de uma escrivã, mas não “dolo” ou intencionalidade nas suspeitas que o juiz Ivo Rosa mandou investigar.

O mercado de energia está a mudar, como comprovam estes números avançados pela REN: as energias renováveis já cobriram 59% do consumo de eletricidade em Portugal em 2021. E o turismo português volta a recuperar, mas com mais irlandeses e menos chineses. Em paralelo, em plena crise, o mercado dos automóveis cresce no nicho das marcas de luxo: dispararam as vendas de marcas como Aston Martin, Bentley, Ferrari, Lamborghini e Maserati a somar 121 veículos comercializados em Portugal, um crescimento superior a 50% face às 80 unidades vendidas em 2020. 

Nos Estados Unidos, outra novidade na indústria automóvel: a Toyota, uma marca estrangeira, bateu pela primeira vez a General Motors em número de carros vendidos em território norte-americano, onde se está a assistir a um novo fenómeno: a chamada Grande Demissão. Nunca tantos americanos se despediram do emprego: as saídas atingiram um recorde de 4,5 milhões em novembro.

O encobrimento dos abusos sexuais na Igreja Católica continua a ser notícia: Bento XVI ajudou a esconder abusos sexuais contra menores quando era cardeal. Segundo um documento divulgado pela imprensa alemã, Joseph Ratzinger encobriu um capelão condenado por abusos sexuais na década de 1980, quando era cardeal e arcebispo de Munique.

Com as tendências inflacionistas a marcarem o início do ano, a Polónia estará prestes a ser o primeiro país do mundo a subir os juros em 2022. Economistas ouvidos pela agência Bloomberg esperam subida da taxa de juros de referência na Polónia para pelo menos 2,25%. Será um movimento contagioso?

Da mesma forma que o Expresso regressou às notícias, também a Blitz está de volta: Kanye West já estará a trabalhar no sucessor de “Donda” e há um mistério: os membros dos Pearl Jam e dos Nirvana estão juntos em estúdio, mas ainda não se sabe para quê.

No futebol a pandemia continua a fazer estragos: o Estoril tem quase 30 infetados e pediu à Liga o adiamento do jogo com o FC Porto. Taremi, o avançado do Dragão, está entre os três finalistas do prémio Puskás: o pontapé de bicicleta do iraniano frente ao Chelsea na edição passada da Champions concorre ao prémio de golo do ano no “The Best”, a 17 de janeiro.

No ténis, Djokovic continua a fazer polémica: o sérvio vai mesmo jogar no Open da Austrália. Apesar de, até hoje, não ter revelado se foi vacinado contra a covid-19, anunciou no seu Instagram que lhe foi concedida uma isenção médica para participar no Open da Austrália sem ter necessidade de cumprir um período de quarentena à chegada ao país.

FRASES

“Ontem vi o Dr. Rui Rio considerar em direto com André Ventura diferentes modalidades para restabelecer a pena perpétua. Em circunstância alguma nós podemos ceder nos princípios ou nos valores. O combate ao populismo exige linhas vermelhas inultrapassáveis.”
António Costa, secretário-geral do PS

“A continuar a deturpar desta forma o que eu digo, mais uma semana e o Dr. António Costa pode estar a acusar-me de defender que as mulheres devem andar de burca.”
Rui Rio, presidente do PSD

“Ao recusar um enfrentamento directo e uma rejeição liminar da ideologia do Chega e, pelo contrário, ao aceitar procurar um lado menos mau do seu discurso, Rui Rio promoveu Ventura por via da normalização.”
Manuel Carvalho, diretor do “Público”

O QUE ANDO A LER

Depois de ter lido “A Era da Inteligência Artificial - e o nosso futuro humano” (D. Quixote) - já lá vou - comecei outro livro muito original sobre o mesmo tema, talvez um dos aspetos mais fascinantes sobre o nosso futuro… ou melhor, do nosso presente, porque está aí a crescer sem darmos verdadeiramente por ela. “AI 2041 - ten visions for our future” (Currency), é uma obra híbrida, que mistura o ensaio com a ficção - um dos melhores livros de tecnologia do ano escolhidos pelo editor do Financial Times - e foi escrito a quatro mãos por dois chineses: Kai-Fu Lee, ex-presidente da Google China, que descreve o panorama científico atual e futuro da Inteligência Artificial (AI) e escreve as partes de não ficção; a cada um destes 10 capítulos, segue-se um conto, passado daqui a 20 anos (2041), com base no que será a nossa vida, da autoria de Chen Qiufan, outro chinês, presidente da World Chinese Science Fiction Association (cujo perfil pode ler aqui na “Wired”, que o classifica como “profeta”). Através de um género classificado como “ficção científica realista”, a primeira história passa-se na Índia onde Qiufan foca a vida de uma família sobre quem uma companhia de seguros sabe tudo… até que a filha adolescente conhece um rapaz de uma casta mais baixa. Espero que as editoras portuguesas descubram este livro.

Quanto à  “A Era da Inteligência Artificial”, que como autores juntou o decano da diplomacia norte-americana Henry Kissinger, Eric Schmidt, ex-CEO da Google, e Daniel Huttenlocher, fundador do College of Computing do MIT, dá-nos uma ideia assustadoramente clara sobre os riscos da IA. Escrevi um artigo na revista do Expresso sobre o livro, mas o link não está disponível por causa do ataque informático ao nosso jornal. Os perigos são tão evidentes, que Kissinger compara a IA a escalada nuclear e apela às potências para estabelecerem acordos para a limitação, ou não proliferação, da aplicação destas tecnologias na área militar. Estados Unidos, China e Rússia estão numa corrida à IA de uma forma de que ainda não temos um recorte nítido. No fim, fica-nos esta pergunta: conseguiremos compreender o conhecimento produzido pelas máquinas que a inteligência humana está a pôr a pensar? Não é certo que consigamos perceber tudo.

Pelo meio destas leituras, acabei “Deus Pátria Família” (Companhia das Letras), do Hugo Gonçalves, de que já falei aqui. Não é só um livro de História alternativa - se Salazar fosse assassinado em plena guerra mundial - desculpem o spoiler, é logo no início, mas também um policial negro e um retrato de Portugal nos anos 40. Para quem gosta destas coisas, o autor domina a técnica narrativa como um mestre, e o romance é feito de afluentes como um rio de histórias que vão confluindo num delta para uma foz onde as personagens desaguam mais densas e complexas. Embora por vezes nos interroguemos, “que raio, por onde é que ele vai?”, é um page-turner.

Fico por aqui, espero que tenha um bom dia, com o seu Expresso de novo online. #liberdadeparainformar

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