Cresce a insatisfação com medidas do Governo para atenuar a crise. Maioria pede limites aos aumentos nos bens essenciais e na energia.
Não há praticamente nenhum português imune aos efeitos do aumento do custo de vida. E já soam os alarmes: quase dois terços foram obrigados a mudar de hábitos por causa da fatura dos combustíveis; pior ainda, mais de dois terços começaram a cortar na alimentação, ao ponto de reduzirem ou eliminarem produtos que faziam parte do seu cabaz de compras no supermercado. São os dados da mais recente sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, que também apresenta uma fatura política: a popularidade do Governo afunda-se, com 46% a dizerem que a resposta à crise é "má" e apenas 14% que é "boa".
António Costa vai ter de fazer bastante melhor do que prometer aumentos "históricos" de pensões para o próximo ano. É agora que o aumento do custo de vida se está a fazer sentir (97%), em particular na ida ao supermercado (39%) e à bomba de gasolina (39%). E é também no imediato que nove em cada dez portugueses (89%), incluindo os eleitores socialistas, pedem novas medidas que atenuem o efeito da crise.
Saldo negativo
Entre os meses de maio e junho, e perante o avanço da inflação (8%, segundo o Instituto Nacional de Estatística), a satisfação com as medidas adotadas pelo Governo para atenuar a crise caiu 12 pontos percentuais, enquanto a insatisfação subiu 17 pontos (com destaque para os que dizem que é "muito má", que passaram dos 9% para 23%).
O saldo (diferença entre os que
acham que a resposta do Governo à crise é "boa" e os que acham que é
"má") é negativo em todos os segmentos da amostra, incluindo entre os
que deram a maioria absoluta ao PS
Travão aos alimentos
Bem pior do que o castigo
político ao Governo é o castigo que as famílias estão a sentir na pele. A
sondagem da Aximage não deixa margem para dúvidas sobre a gravidade da
situação. Mais de dois terços (68%) dos portugueses já se viram obrigados a
alterar o seu padrão de consumo de alimentos (com destaque para os que vivem na
região do Porto, para as mulheres, e para os que têm
Estes cortes na alimentação podem ser menos graves, quando o que está em causa é a necessidade de optar por um produto com um preço mais baixo (40%); mas tornam-se preocupantes quando é assumido que foi preciso reduzir o consumo (34%), em particular entre as mulheres e os que têm 65 ou mais anos; ou quando há produtos que, por causa da subida dos preços, foram banidos da cesta de compras (25%). Como desabafou um dos inquiridos na sondagem, "alguns produtos agora só compro quando estão com uma boa promoção".
Também no caso dos combustíveis a percentagem de portugueses que se viu obrigada a fazer adaptações é muito elevada (60%). A grande maioria cortou nos passeios ao fim de semana (em particular os que vivem na Região Norte), cerca de um quarto passou a andar mais a pé (com destaque para quem vive nas áreas metropolitanas), e uma fatia mais pequena passou a utilizar transportes públicos. Com os custos que isso representa: "Deixei de usar o carro para ir de casa à estação de comboio e perco o dobro do tempo", desabafou um dos inquiridos.
Limitar subida de preços
Com percentagens tão elevadas de
cortes na alimentação e nos combustíveis não surpreende que, quando inquiridos
sobre quais as medidas que o Governo deveria tomar para atenuar os efeitos da
crise, as duas mais citadas (67%) se prendam com a limitação ao aumento dos
preços dos bens essenciais e da energia (destacando-se os que vivem no Porto e
no Norte e os que têm
Segue-se, no terceiro lugar do
ranking (cada inquirido podia apontar até três prioridades), uma baixa de
impostos (60%), com destaque para os portugueses de
Mulheres e habitantes do Norte e Centro perdem rendimentos
Há um outro indício de que o país se afunda numa crise: 47% dos portugueses assinalam uma quebra de rendimento nos últimos 12 meses. E são ainda mais (57%) os que já adiaram despesas ou compras significativas.
As quebras no rendimento não
afetam todos por igual. Há segmentos da população em que o empobrecimento é
maior. Entre os mais afetados estão as mulheres (52%), os habitantes das
regiões Norte (53%) e Centro (52%) e os que têm
Despesas adiadas
Com ou sem quebras de rendimentos, uma grande maioria de portugueses já adiou ou vai adiar despesas de valor significativo (57%), de novo com destaque para as mulheres (60%) e para quem vive no Porto (67%). Entre os que ainda não sentiram necessidade de adiar despesas (43%), destacam-se os homens (47%) e os que vivem em Lisboa (50%).
Sem surpresa, a primeira despesa
a ser cortada em tempos de crise é a viagem de férias: 30% já decidiram que
assim será, de novo com destaque para as mulheres (34%) e para os que têm 65 ou
mais anos (52%). Segue-se a poupança nos equipamentos para o lar (23%), que
afeta sobretudo os mais pobres (57%). A compra de carro fica para outra altura
para 21%, com os homens (25%) e os habitantes do Norte (27%)
Calculadora na mão
No decorrer do inquérito percebeu-se que, para muitos portugueses, uma pequena despesa também pode ter um impacto significativo. Leia-se o desabafo de um dos inquiridos à pergunta sobre qual a despesa que iria adiar: "Para um vencimento de 867 euros? Basta um simples medicamento na farmácia. E usar a calculadora sempre que acrescento um produto alimentar ao carrinho de compras. Portanto, coisas básicas. É mais grave do que se julga!"
Através de uma última pergunta percebe-se que a maioria está pessimista quanto à duração da crise: apenas 24% admitem que seja possível avançar para a tal despesa significativa ainda este ano. Os restantes 76% ou acham que não será (40%) ou não sabem se será ou não (36%).
Rafael Barbosa | Diário de Notícias
Ficha Técnica
A sondagem foi realizada pela
Aximage para o DN, TSF e JN, com o objetivo de avaliar a opinião dos
portugueses sobre a atualidade. O trabalho de campo decorreu entre os dias 14 e
19 de junho de 2022 e foram recolhidas 804 entrevistas entre maiores de 18 anos
residentes
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