segunda-feira, 25 de abril de 2022

O QUE SE DISPUTA NA UCRÂNIA E O QUE VIRÁ DEPOIS

# Publicado em português do Brasil

Dois projetos, a União Eurasiática e a Nova Rota da Seda, podem construir as bases de um mundo multipolar. Mas os EUA não vão ceder a primazia imperial. O povo ucraniano é o sacrificado da vez em conflito que não se resolverá com esta guerra

Gerson Almeida* | Outras Palavras

Seja qual for o acordo político feito após o desfecho da guerra entre a Rússia e a Ucrânia, não haverá estabilidade na região até que o conflito fundamental seja resolvido: a disputa do império americano para ampliar sua posição de poder na Eurásia. Para alcançar isto, os EUA parecem estar decididos a impedir que a Rússia volte a se consolidar como potência regional, que segundo Gao Cheng – pesquisadora do Instituto Ásia-Pacífico e Estratégia Global, Academia Chinesa de Ciências Sociais – “é uma promessa chave do terceiro mandado de Putin e materializada na União Eurasiática, cujo objetivo é integrar os mercados e recursos dos países da CEI”;1 e, também, conter a crescente liderança econômica, comercial e cultural da China, cujo projeto estratégico é a Nova Rota da Seda, uma ampla rede de relações nos cinco continentes, com fabulosos investimentos em infraestrutura. A União Eurasiática e a Nova Rota da Seda são projetos capazes de alçar a presença da China no mundo e da Rússia na Eurásia, numa escala grande o suficiente para conviver com o unilateralismo americano, consolidado depois da Guerra Fria.

A União Europeia, por sua vez, apesar de ter crescido para o Leste, incorporando uma dezena de países da antiga zona de influência russa, desde o início demonstra estar acomodada numa posição subalterna aos interesses americanos, tal a sua dificuldade em construir uma posição independente. A falta de uma liderança autônoma na UE confirma a posição do então presidente Charles de Gaulle, que retirou a França, em 1966, do comando integrado da Otan – instância que decide as operações militares e sempre sob controle americano –, em nome da soberania do país. Posição que só foi revertida em 2009, com Sarkozy.

Esse alinhamento automático da União Europeia com os EUA e o avanço acelerado da Otan para o Leste, além de ser um explícito descumprimento dos acordos feitos quando da dissolução da União Soviética, não podem ser justificados como do interesse defensivo de povos ameaçados pelo “desejo imperial russo”. Ao contrário, esse avanço começou em meio à imensa crise vivida pela Rússia, cuja economia sofreu uma retração de cerca de 40% na década de 1990, período no qual Polônia, Hungria e a República Tcheca ingressaram na Otan.

SE A UCRÂNIA OS PREOCUPA DESMANTELEM A NATO

Sara Flounders [*]

Muito antes da intervenção russa de 24 de Fevereiro, o regime golpista-fascista de 2014 apoiado pelos Estados Unidos havia reduzido a Ucrânia ao país mais pobre da Europa e com a maior taxa de migração. O Fundo Monetário Internacional reestruturou a economia e exigiu medidas de austeridade que destruíram as pensões e cortaram o gasto social. As privatizações maciça de bens de propriedade social levaram à ruína económica.

Agora o tráfico de pessoas com fins de exploração sexual comercial e trabalhos forçados, juntamente com a compra de crianças em orfanatos, está mais estendido na Ucrânia do que em qualquer outro país europeu. A maior indústria de barrigas de aluguer do mundo está na Ucrânia; as mães de aluguer recebem 15 mil dólares por criança. (borgenproject.org/...)

A Ucrânia, apesar de estar inundada de armas da NATO, carece tanto de serviços sociais básicos que tem as taxas de vacinação mais baixas da Europa. As taxas de vacinação contra a pólio, o sarampo e a difteria são de 53%. E só um em cada cinco ucranianos recebeu uma dose completa da vacina Covid-19, o que coloca preocupações sobre a aparição de novas variantes de Covid-19 nas condições de promiscuidade dos refugiados fora da Ucrânia. (www.wilsoncenter.org/...)

Ucrânia: um peão da NATO

Ainda que não seja oficialmente membro da aliança militar da NATO sob o comando dos Estados Unidos, a Ucrânia recebeu centenas de milhões de dólares em equipamento militar letal dos Estados Unidos. As tropas ucranianas serviram sob o comando dos EUA e da NATO no Iraque e Afeganistão. Como “Sócio de oportunidade melhorada”, a Ucrânia acolheu exercícios de treino militar conjunto com tropas estado-unidenses, britânicas e canadianas.

No leste da Ucrânia e países da NATO estão a ser instaladas armas com capacidade nuclear táctica, que poderiam alcançar cidades russas em questão de minutos.

A guerra na Ucrânia poderia terminar hoje se os Estados Unidos deixassem de bombear milhares de milhões de dólares em armas letais e milhares de “assessores” militares estado-unidenses e contratistas militares privados – mercenários – na Ucrânia. Esta guerra devastadora nunca teria começado se estas forças treinadas e equipadas pelos Estados Unidos não tivessem estado a bombardear os 2000 quilómetros de fronteira entre a Ucrânia e a Rússia durante os últimos oito ano, tudo isso enquanto os Estados Unidos e a NATO estavam a cercar a Rússia com bases militares nos países vizinhos.

A Ucrânia é um peão nesta estratégia dos Estados Unidos contra a Rússia. O único caminho para a paz e a dissolução da NATO. A NATO fora da Ucrânia!

23/Abril/2022

[*] Jornalista

O original encontra-se em www.workers.org/2022/03/62651/

Este artigo encontra-se em resistir.info

Portugal | FULOS DA VIDA

Joana Amaral Dias* | Diário de Notícias | opinião

No Luxemburgo, uma garrafa de óleo Fula custa 2,29 euros. Em Portugal, o preço está acima dos 4 euros. O primeiro é o país com o salário mínimo mais alto da UE (para trabalhador não qualificado 2313.38 e para Qualificado: 2776.05). No nosso aufere-se dos mais baixos. O óleo custa quase o dobro nesta ponta ocidental, ainda que o custo de vida seja bem mais elevado no grão-ducado e mesmo que a empresa que produz esse bem labore em território luso (o Fula é feito pela portuguesa Sovena). Ou seja, num país onde o cabaz é por norma mais caro, bem como a capacidade de o pagar é mais elevada, a milhares de quilómetros de distância do centro de produção (o transporte não é de borla), adquirir um óleo alimentar básico é muitíssimo mais barato. Porquê, é a questão que se impõe. Em primeiro lugar, todo este esbulho faz fé na crónica passividade moribunda do lusitano. Enquanto, por exemplo, aqui ao lado em Espanha, perante a inflação, o povo logo foi para a rua protestar e reivindicar, o português parece a bela adormecida nos braços de Morfeu. Anos de ditadura, pobreza e apneia constante, pouca educação formal, educação cívica residual. Ao fim de mais de dois anos de medo e resignação, nem se fala.

Mas há mais mensagens na garrafa. Constatando que esse insuflado nas etiquetas é mal geral, torna-se evidente que há cartelização nas grandes superfícies. Pois, realmente não é apenas nos valores dos combustíveis ou da energia que se nota que os reguladores não fazem o seu papel. Gigantes do retalho também combinam preços, especulam e lucram à tripa forra, canibalizando o sofrimento inerente à guerra sem engulhos. Até dizem que estes 4 euros da fome se devem à baixa produção de óleo de girassol na Ucrânia (ainda que poupe o Luxemburgo). Estes arranjinhos entre competidores são proibidos, as normas da concorrência no espaço europeu não permitem, mas tudo passa. Portugal não tem reguladores fortes nem independentes, são vezes demais poluídos por um poder político prostituído. É uma pescadinha de rabo na boca (mas melhor que não seja frita - como nós): a elite político-partidária corrompe-se ao poderio económico (muito associado às tais grandes superfícies) -- até por via do jamais escrutinado financiamento dos partidos -- abdicando assim de reguladores robustos e, em geral, de defender o interesse dos cidadãos. E não apenas do cidadão-consumidor, como também do cidadão-produtor. Afinal, os agricultores estão igualmente à mercê desse grande retalho que lhes compra os produtos praticamente ao custo da sua produção, com margens mínimas no meio rural, para depois os vender com margens máximas na faixa urbana/litoral. Tudo à vontadinha.

Já bem mais pechincha que o Fula é a hipocrisia, posto que são justamente esses agiotas e estes governantes comprados a granel que agitam as bandeirinhas da Ucrânia, pedem donativos para a paz, dizem que o liberalismo funciona, que arriscado-arriscado é subir os salários e que isso é que nos levaria à inflação e ao descontrolo dos preços. Pois é. Ponha isso também na sua próxima lista de super mercado. É como aquela velha canção dos queridos GNR: "Nas dunas, roendo maçãs. A ver garrafas de óleo boiando vazias nas ondas da manhã." É o que temos.

*Psicóloga clínica

*Escreve de acordo com a antiga ortografia

25 de Abril | REVOLUÇÃO É BEM VISTA, ESTADO DO PAÍS NÃO TANTO

25 de abril é relevante ou muito relevante para 83% dos portugueses. Satisfação com democracia atual fica-se pelos 57%. Maioria pede mais igualdade salarial.

Os portugueses mantêm uma perceção muito positiva do 25 de Abril, 48 anos após a Revolução: segundo uma sondagem da Aximage para o DN, JN e TSF, 83% consideram que esse acontecimento foi importante ou muito importante para o país, contra 5% que o veem como irrelevante. Há ainda 78% de inquiridos que o consideram importante ou muito importante para a democracia atual. Já a situação do país oferece mais reservas: a percentagem de satisfeitos não passa dos 57% e há 21% de descontentes.

Metade dos portugueses que responderam à sondagem refere que reduzir o fosso salarial seria a melhor forma de reforçar a democracia, com apenas 2% a apontarem que a prioridade deveria ser o combate à corrupção. Há mais mulheres do que homens a dar prioridade à igualdade salarial (60% contra 40%), sendo que, no que toca a classes sociais, a mais alta (A/B) é a única em que o maior equilíbrio dos vencimentos é defendido por menos de metade das pessoas (33%).

No que toca à importância do 25 de Abril para o país, os mais novos (18-34 anos) são os que atribuem maior relevância a esse acontecimento. Só 6% afirmam que ele tem importância neutra, baixa ou muito baixa, ao passo que, nas restantes faixas etárias, esses valores sobem para entre 18% e 19%. A classe social D (a mais baixa) é a mais indiferente à Revolução: 19% veem-na como "nem muito nem pouco importante", com a classe A/B no extremo oposto (só 6% têm essa opinião).

25 de Abril | OS PORTUGUESES ESTÃO FARTOS DE FALSÁRIOS NOS PODERES


MARCHA DO MFA - Som que em 25 de Abril de 1974 antecedia os comunicados emanados do Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas com inicio na madrugada desse dia, transmitido inicialmente através do Rádio Clube Português, primeira estação emissora a ser ocupada pelo referido movimento, só horas depois a Emissora Nacional - atual Antena 1 - e a RTP seriam ocupadas, assim como muitos outros órgãos de comunicação social da época, já lá vão 48 anos.

Diz-se que desde há dias atrás, em Portugal, os tempos de democracia ultrapassaram a vivência dos quase 48 anos de ditadura. Registe-se exatamente isso e tome-se como exata afirmação matemática, mas também com a certeza de que cada vez mais Portugal vive numa democraciazinha de radicalismo neoliberal que branqueia o quase meio século de ditadura de direita, fascista, salazarista e marcelista. Registe-se que os ideais de Abril, motores da revolução e objetivo da libertação do país e do povo português, dos militares na guerra colonial e respetivos novos países e povos gerados com a descolonização, estão por cumprir e que não é o povo quem mais ordena. Em Portugal, como no ocidente neoliberal, o povo é visto como eleitor a quem as falsidades, as promessas mentirosas dos políticos servem para iludir. Portugal sobrevive numa democracia minimalista falsa e ilusória. Abunda a pobreza, a muita miséria, a enorme desigualdade, a justiça dos ricos (alguns desses ricos por gigantescas corrupções e conluios). A segurança social é mínima e cada dia que passa demonstra ser muito mais mínima. Há portugueses que morrem por falta do tratamento atempado, adequado e isso acontece a muitos jovens como aos de muito mais idade. Jovens que morrem por falta de tratamento atempado a cancros, por exemplo, (porque não fazem quimioterapia em tempo útil, não há vagas). Portugal não é o que dizem certos e incertos políticos e gente dos 'poleiros'. A maioria dos que detêm os poderes (eleitos ou nomeados) mentem com todos os dentes que têm. O que viola descaradamente o espírito de Abril que eles próprios falsamente apregoam. Os Capitães de Abril, as Forças Armadas, o povo português, não participaram naquela revolução para este estado de injustiças a quase todos os níveis.

Há momentos, poucos minutos atrás, terminou a chamada sessão solene e comemorativa da Revolução de Abril na Assembleia da República... Os portugueses já só olham para aquilo como um grande teatro. Uma cegada das antigas na atualidade. Ouvimos os sinceros e os vigaristas, infelizmente que aqueles últimos em grande número. Políticos do piorio que por assim agirem abrem as portas à extrema direita já representada naquela Assembleia Parlamentar. Eleitos por via do seu uso do populismo. Ainda mais vigaristas que os outros agora nos poderes, mais mentirosos, que não revelam com honestidade ao que vêm, procurando agradar e caçarem incautos eleitores. Tal como Hitler até conseguir o poder. Depois vimos quão nazi-fascista foi. Quão assassino da humanidade foi. Temos aí o Chega (p.ex.), e outros que estão por se revelar radicais do neoliberalismo que é antecâmara do nazi-fascismo.

25 de Abril Sempre. Sim, mas não assim. Sem Justiça nunca existe democracia. Por isso sobrevivemos miseravelmente na atual democraciazinha. A exploração é facto. Muito mais factos demonstram que o 25 de Abril está inquinado. Prova-o a realidade.

Que em alguns aspetos estamos melhor que antes. Sim, é verdade. Podemos falar, podemos escrever... Atenção porque cada vez mais não é tão verdade tudo isso. A censura existe e é evidente. A exclusão devido à liberdade de expressão que usarmos já é evidente... E mais, muito mais. Já temos de refrear as nossas opiniões aqui e ali ou habilitamos a sofrer as consequências agravantes. Democracia? Acrescentemos-lhe o "zinha". E assim vamos na marcha "levados, levados sim" (enganados sim) - como era cantado no hino da mocidade portuguesa nazi-fascista do salazarismo.

Na prática, na realidade, é urgente novo 25 de Abril para derrubar este estado de ladrões, de corruptos, de oportunistas, de vigaristas que se aproveitam a eito da vigente e crescente "zinha" da real democracia. Os portugueses estão fartos, saturados, de tantas décadas de abusos dos poderosos em que não votaram mas também naqueles em que votaram e votam e que se revelam uns falsários.

AS LABAREDAS DA INQUISIÇÃO

Sob a retórica de muitos opinadores profissionais de renome, já apareceram comparações entre o duvidar de informações dadas pelos jornais e a crença de que a terra é plana.  

Júlio F. R. Costa* | AbrilAbril | opinião

Vivemos tempos nos quais as mínimas dúvidas ou pedidos de esclarecimentos são vistos como ataques à honra. Quando devia ser o inverso. A honra deveria residir no apuramento dos factos. Mas quem questiona, e o pensamento crítico parece estar reservado a uma minoria, é automaticamente rotulado com adjectivos no domínio do desumano. Como se não fosse a capacidade de questionar que, bem ou mal, nos trouxe até aqui.

Porém, parece opróbrio ainda maior, quando se pede para as questões, porque duvidosas, serem averiguadas pelas autoridades que supostamente detêm a competência para tal. Competência essa atribuída pelas legislações e tratados forjados por boas vontades e maltratados pela falta de vontade de cumprimento. Num parênteses onde ninguém nos ouve (verdade seja dita que é normal que a crença nas entidades que poderiam intervir para o apuramento e julgamento se tenha esvaído. As instituições andam por aí a pairar nas vontades monopolistas como espeluncas metafísicas que se tornaram – a toques e chutes de má fé).

Mesmo assim, há quem prefira pôr um pé fora da praça pública e tentar (e)levar os julgamentos para os locais apropriados – tribunais cujo substantivo não é meramente metafórico, e o que lhes é de direito é realmente o Direito. Sardonicamente, alerte-se para o facto de que os jornais e outros média não são tribunais, tão-pouco deveriam ter a pretensão de tal – e de jornalista a magistrado ainda vai um passinho. Conquanto sejam todos esses pasquins as verdadeiras fábricas de votos. Nessas linhas de produção e montagem a «questão» e a «dúvida» não têm lugar. O direito à opinião é bom, mas se for contra a corrente, o ripostar, em jeitos de enxovalhar, ameaçar e até agredir, é justificado pelo «código deontológico». Sem apelo, mas com bastante agravo.

JULIAN ASSANGE, UM SÍMBOLO DE LIBERDADE

# Publicado em português do Brasil

Luis Varese* | A Terra é Redonda

A batalha pela liberdade de Assange é a batalha pela nossa própria liberdade de pensar, de expressar opiniões, de criticar, de divulgar, de discordar

Um juiz do Tribunal da Magistratura de Westminster enviou, para ser assinado pelo Ministro do Interior britânico, a ordem de extradição contra Julian Assange. Eles têm aproximadamente dois meses para decidir e sua defesa, liderada por Baltazar Garzon, para apelar. Assange enfrenta até 175 anos em prisões americanas pelo “crime” de denunciar crimes de guerra, assassinatos, prisões clandestinas, tortura e infiéis de embaixadores americanos contra seus aliados mais próximos ou países “amigos”. Wikileaks, a agência de notícias de Assange, coletou essas informações de colaboradores, alguns anônimos, alguns públicos, e as vendeu para jornais de prestígio ao redor do mundo, como The Guardian, The New York Times, The Washington Post, revista Der Spiegel, e muitos outros em todo o mundo.

Julian Assange foi preso e torturado em Londres, onde não cometeu nenhum crime. Ele está em prisão preventiva para extradição e está em uma prisão de alta segurança há três anos. Já vimos o que o judiciário significa a serviço dos poderosos, os casos Lula, Correa, Glass, Cristina.

Assange foi entregue às autoridades britânicas por Lenin Moreno, cujas ações já estão condenadas em todas as frentes nas quais ele interveio. Neste caso específico, ele ordenou a intervenção em território equatoriano, abrindo a porta da Embaixada e violando o direito soberano de Asilo, concedido pelo Governo do Presidente Rafael Correa.

“Quando a porta da Embaixada em Londres foi aberta e a polícia entrou para receber Julian Assange, às mãos de funcionários equatorianos, começou um dos episódios mais tristes e trágicos do Direito de Asilo e dos mais terríveis eventos contra o Direito Internacional e a Liberdade de Imprensa…”. (Luis Varese, Alai, 2020)

Boris Johnson e o Secretário do Interior, Priti Patel, têm em suas mãos a extradição e a condenação de Assange, mas não só isso, eles têm em suas mãos a decisão de gerar jurisprudência sobre a liberdade de imprensa, a espinha dorsal da democracia, da qual tanto se orgulham.

A União Europeia já demonstrou que não respeita este direito universal ao impedir a leitura, em seu território, da Rússia de hoje e do portal Sputnik, bem como de outros canais ou meios ligados à informação do ponto de vista do governo russo. De fato, foi graças à RT que pudemos ver a rendição de Assange à polícia britânica.

Continuar pensando que não nos diz respeito, que é algo distante, ou que Julian Assange vai para a prisão por ser um hacker, é colocar-nos nos grilhões do obscurantismo fascista que o grande capital quer nos impor. Estamos muito longe de entender o que está acontecendo e o nível de controle que os poderosos do mundo querem ter sobre nossas mentes. Os mil multimilionários.

A batalha pela liberdade de Julian Assange é a batalha pela nossa própria liberdade de pensar, de expressar nossas opiniões, de criticar, de divulgar, de discordar. É uma bandeira coletiva de mulheres e homens, jovens e velhos, que acreditam nos direitos do povo.

Hoje em dia, Julian Assange está enfrentando a liberdade ou a morte. Não é um slogan. É um fato. Estamos confrontando, hoje em dia, Liberdade e vida contra o obscurantismo e a morte. Tudo está intimamente e violentamente ligado. Desde a desinformação contra Cuba, Nicarágua e Venezuela, que são apresentados como nossos inimigos, até fazer-nos acreditar que dar armas ao governo ucraniano é lutar pela paz. Aqueles que foram e são apresentados como os campeões da democracia, da Europa e dos Estados Unidos, hoje seus governantes, querem avançar para o fascismo e até mesmo para o nazismo. Não há necessidade de temer, mas não há necessidade de hesitar em se organizar em defesa das liberdades conquistadas ao longo de décadas de luta.

Nossas vidas estão em perigo, não apenas por causa da guerra e do confronto sobre a nova ordem mundial e da reordenação geopolítica, “a resposta contra-hegemônica”, lançada pela Rússia, que causa tanta tragédia, mas também por causa da destruição da vida no Planeta e da restrição sistemática das liberdades que conquistamos.

Na Nossamérica, estamos fazendo progressos na reconquista das democracias populares, não permitamos que a direita cavernosa tome novamente as rédeas que levam à fome e à aniquilação de nossos povos.

*Luis Varese é jornalista e antropólogo.

França | MACRON VENCE LE PEN E PROMETE “ANOS HISTÓRICOS”

Como há cinco anos, o candidato centrista derrotou a extrema-direita, mas desta vez a vitória não foi tão clara, ao alcançar 58,55% dos votos -- resultados oficiais. No discurso de vitória, Macron teve uma palavra para todos os eleitores e prometeu mudanças profundas na gestão presidencial.

Chegou ao Champ de Mars ao som do Hino à Alegria, a composição de Beethoven que é também o hino europeu, e despediu-se ao som d'A Marselhesa interpretada por uma cantora lírica de origem egípcia da Ópera de Paris: nestas eleições estava em jogo mais do que os próximos cinco anos de França. "Fizeram a escolha de um projeto humanista, ambicioso pela independência do nosso país, pela Europa", disse o presidente reeleito com 58,55% (resultados oficiais divulgados ao início da madrugada) dos votos aos seus apoiantes. Aos eleitores de Marine Le Pen, que alcançou o seu melhor resultado de sempre (41,45%), disse que não os iria ignorar.

"Sei que para muitos dos nossos compatriotas que escolheram a extrema-direita, a revolta e o desacordo levou-os a votar a favor desse projeto, o que nos obriga a encontrar uma resposta. Temos de responder eficazmente à indignação que foi manifestada", prometeu Macron. Aos eleitores que não se sentem representados por si mas que ainda assim votaram nele "para impedir a extrema-direita" disse estar "consciente do que este voto obriga para os anos vindouros".

Deixou também uma mensagem aos abstencionistas, cujo "silêncio significou uma recusa em escolher", e que a estes também há que dar respostas. A todos prometeu cinco anos em que "ninguém será deixado pelo caminho" e que "não serão de continuidade", mas de uma "nova era" fundada num "método renovado", embora no discurso, curto, não se tenha detido sobre o que augura para a presidência. "Os próximos anos não serão certamente tranquilos, mas serão históricos."

A vitória de Emmanuel Macron foi celebrada pelos líderes europeus, de Portugal à Finlândia. Uma "grande notícia para a Europa", comentou o italiano Mario Draghi. O ministro das Finanças alemão, o liberal Christian Lindner, disse que os franceses fizeram uma opção em termos de valores e ao escolherem Macron fez "com que a Europa unida seja a maior vencedora desta eleição. Vive la France, vive l"Europe".

"Calorosas felicitações", reagiu o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel. "Nestes tempos conturbados, precisamos de uma Europa forte e de uma França plenamente empenhada numa União Europeia mais soberana e estratégica."

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