quarta-feira, 24 de maio de 2023

Guiné-Bissau | Sissoco recusa nomear Simões Pereira como primeiro-ministro

Sissococrata

Presidente guineense diz que é uma questão de coerência. Para líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, as declarações de Sissoco Embaló são uma "afronta ao povo guineense".

O Presidente guineense, Umaro Sissoco Embaló, anunciou hoje que não irá nomear Domingos Simões Pereira para o cargo de primeiro-ministro em caso de vitória da coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI) - Terra Ranka nas eleições legislativas de 4 de junho. 

Falando na inauguração do porto de pesca artesanal, construído pela China, no bairro de Bandim, em Bissau, Sissoco disse que não colocará entrave a um primeiro-ministro proposto pela coligação, desde que não seja o nome do antigo chefe do executivo Domingos Simões Pereira, líder do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

No passado, "eu disse 'Domingos Simões Pereira nunca o vou nomear' [como primeiro-ministro]. Tem de ir à Justiça e esclarecer as questões que pendem sobre si. Isso também é válido para o Geraldo [Martins]. É claro e repito, mas isso não significa que, se a coligação do PAIGC vencer, vou dizer que não" deve formar Governo, afirmou Embaló. 

O Presidente guineense referiu que não tem nada contra o PAIGC, que lidera a coligação PAI - Terra Ranca. 

"Afronta ao povo"

Por sua vez, Domingos Simões Pereira, afirma que as declarações de Umaro Sissoco Embaló são uma "afronta ao povo guineense".

"É importante que todo o mundo compreenda que não é uma afronta ao Domingos Simões Pereira, à Plataforma da Aliança Inclusiva, nem às alianças que se possam estabelecer, é uma afronta ao povo guineense, porque essa afirmação só pode significar uma coisa, que o Presidente está a afirmar que não está disposto a aceitar e respeitar a escolha livre do povo guineense", afirmou Simões Pereira.

O também líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) falava no final da assinatura de um acordo de coligação com um grupo de 18 partidos políticos, que não se candidataram às legislativas de 4 de junho.

"Compete ao povo guineense responder ao Presidente da República e eu conto que é o que vai acontecer no dia 4 de junho. Quando o povo soberanamente afirmar a sua escolha, Deus vai dar-nos saúde para estarmos aqui todos a testemunhar quem é que vai impedir o povo guineense de fazer a escolha livre e transversal no dia 4 de junho", disse Domingos Simões Pereira. 

O líder da PAI -Terra Ranka disse também que o chefe de Estado devia ser o primeiro a compreender que a "partir do início da campanha eleitoral, os órgãos não envolvidos na campanha eleitoral devem retirar-se do debate político". 

"O Presidente da República devia manter-se equidistante, neutral, respeitador das normas constitucionais, porque esse é o pressuposto para que todos o possam aceitar também como primeiro magistrado da Nação e não é o que está a acontecer", disse Simões Pereira.

Pós-eleições

Domingos Simões Pereira foi o candidato que disputou a segunda volta das presidenciais guineenses contra Umaro Sissoco Embaló em 2019 e Geraldo Martins, antigo ministro das Finanças, é o atual vice-presidente do PAIGC.

O Presidente guineense referiu ainda ser possível que o Movimento da Alternância Democrática (MADEM-G15) venha a propor uma coligação pós-eleitoral ao PAIGC ou vice-versa, caso um dos partidos esteja na frente nos resultados eleitorais. 

"As pessoas estão a cometer um erro de avaliação. Os dois partidos são próximos um do outro porque um nasceu do outro", disse Sissoco Embaló, numa referência ao MADEM-G15, fundado por dissidentes do PAIGC, entre os quais o próprio chefe de Estado.

Sem citar o nome de uma formação política, quando falava do erro de avaliação, Embaló estava a referir-se ao Partido da Renovação Social (PRS) que faz parte do atual Governo de iniciativa presidencial, mas que tem atacado as ações do Executivo durante a campanha eleitoral. 

Vários analistas políticos guineenses admitem ser provável que o PRS e a coligação PAI - Terra Ranca venham a estabelecer um entendimento pós-eleitoral para viabilizar o próximo Governo. 

Deutsche Welle | Lusa

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