sábado, 14 de setembro de 2024

Gordurosa e Papéis do Sérgio -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda

O meu amigo Gordurosa era bastante excêntrico. Um dia fomos beber e conviver a um sítio onde as meninas estão muito produzidas e parecem rainhas do Sabá ou da Pérsia. Uma beldade sentou-se a seu lado, apresentou-se, beijou-o e pediu uma bebida. Lá para o fim do convívio perguntou dengosa: Não tens nada para me oferecer? Gordurosa puxou da carteira, tirou uma fotografia e deu-a à menina da vida desprevenida com um sublinhado: Se quiseres escrevo por trás uma dedicatória. Conversa acabada e companhia desfeita. O Gordurosa ficou inconsolável.

Nas minhas andanças de repórter fui a Cuba fazer uma reportagem sobre o serviço nacional de saúde daquele país. Andei pelo grande lagarto verde mais de uma semana. Quando regressei, procurei o meu amigo Gordurosa e ele quis saber a razão de tão longa ausência. Expliquei que fui fazer reportagens a Cuba! E ele: “É um sítio fixe para aprender a matar brancos. Pedi ao camarada Lara formação lá, mas ele nunca me mandou”. Depois contou-me quantos foram e o que aprenderam ao nível da guerrilha. 

Aí fiquei a saber que em Cuba podemos aprender coisas importantíssimas mas pelo que vi dos Media locais, jornalismo não! O MPLA mandou jovens estudar jornalismo em Cuba. Coitados. Foi o mesmo que irem aprender a matar brancos no Vaticano. Isto sem ofensa para o meu amigo Mindo que foi lá Embaixador de Angola.

O senhor Militante do MPLA Joy Henriques Amélia das Pombas Pedro Cardoso Lima João Lourenço Esteves e Hilário (isto é nome de rei da Inglaterra!) publicou um texto onde me chama mercenário, parasita, racista e fundador do jornalismo de extorsão. Depois diz que “recebi” dos Generais Higino Carneiro e Zé Maria. João Lourenço Esteves e Hilário (é melhor simplificar o nome) desceu a um nível tão rasteiro que não merece resposta. Desses dois Generais recebi o que todas e todos os angolanos receberam. O seu empenho na Guerra de Transição e na Guerra pela Soberania Nacional. Até Lourenço e Hilário recebeu. 

Sim é verdade. Quando militantes do MPLA foram presos na sequência de uma peça de teatro e um quadro onde o Presidente José Eduardo era criticado, escrevi uma crónica no semanário “Expresso”. O título é verdadeiro: O Socialismo de Sanzala. Sim, manifestei o meu repúdio pelo domínio da direita na direcção do MPLA. É verdade, avisei que esse caminho ia desembocar em João Lourenço. Não escrevi esse nome porque ainda não sabia dos seus dotes de difamador, insultador e racista primário. Fui o único jornalista que defendeu os militantes reprimidos. Ninguém mais teve coragem para isso.

É verdade, escrevi a frase “Ndunduma foi preso porque o racismo e o tribalismo são armas poderosas dos dirigentes da ala direita do MPLA”. Nos anos 80 fui o único jornalista que enfrentou o lóbi da UNITA em Portugal. E como isso me saiu caro. Caiu-me em cima o ódio dos retornados e dos sequazes de Mário Soares. Vida difícil mas sempre ao lado do MPLA. O meu espaço era o Jornal de Notícias do Porto onde trabalhava e ninguém podia impedir de exprimir as minhas opiniões como agora acontece no Jornal de Angola.

O meu contrato com a Edições Novembro foi assinado livremente por ambas as partes. Eu era o trabalhador mais mal pago da empresa. O meu salário não era o que Lourenço Esteves e Hilário afirma. Mas devia ser. A empresa deve-me três meses de salários, um mês de férias e subsídio de férias respeitante a 2014 mais 7/12 avos de acertos legais de 2015. O cheque dos meus créditos foi emitido mas a administração de José Ribeiro não me pagou. As administrações seguintes também não. No dia 1 de Janeiro de 2018 a empresa devia pagar-me uma pensão mensal de 650 mil kwanzas. Até hoje não pagou nada. Sou credor. 

João Lourenço Esteves e Hilário escreve que a minha “malquerença com João Lourenço deriva do facto de o governo não aceitar sustentar a sua vida de parasita”. Inversão do ónus da prova. A malquerença de João Lourenço Esteves e Hilário para comigo deve-se ao facto de ser um jornalista que exerço a profissão numa lógica de contrapoder e não sustento parasitas. Não me submeto a ordens superiores ou inferiores. Exerço a Liberdade. Mas esta fúria passa-lhe em 2027. E se fizerem a João Lourenço o mesmo que ele fez a José Eduardo dos Santos, se eu ainda estiver vivo, bato-me contra os crápulas e bandidos que o molestarem. 

João Lourenço Esteves e Hilário diz que fui demitido do Jornal de Angola. A aldrabice tem limites, chefe! Fui eu que rescindi o contrato invocando grave incumprimento da entidade patronal. 

Nunca estudei jornalismo, João Lourenço Esteves e Hilário? Não faço outra coisa na vida. Infelizmente, depois da Independência Nacional sou o único a fazer esses estudos. Estudar dá trabalho. Quanto à Filosofia fui aluno de François Châtelet na Universidade de Paris VIII (Vincennes). Aquelas aulas valeram por dez licenciaturas de jornalismo. Aluno de Gilles Deleuze e Michel Foucault. Mais licenciaturas. Aluno de Nicos Poulantzas. Com ele aprendi a situar o Jornalismo nas superestruturas ideológicas. Aluno de Jacques Leenhardt na Sorbonne, Sociologia da Literatura. Direito da Comunicação na Universidade de Coimbra. É muito peso para um anarquista. 

Senhor João Lourenço Esteves e Hilário nunca jornalistas angolanos ou de outra nacionalidade me perguntaram nada sobre a minha formação académica. Se perguntassem eu respondia isto: Sou um repórter formado na escola da notícia. É o que sou e não quero ser mais nada.

Na Rádio Nacional de Angola deixei um Livro de Estilo e um Manual de Rádiojornalismo. No Jornal de Angola deixei um livro que era ao mesmo tempo Manuel de Técnicas Redactoriais e Editoriais, Glossário e Livro de Estilo. Duas edições. Deixei um livro de contos populares angolanos e um livro sobre Luanda (Arquivo Histórico). Criei nos dois órgãos de comunicação social gabinetes de formação permanente.

Senhor João Lourenço Esteves e Hilário! Se um editor do Jornal de Angola disser publicamente e assinar (isso de anónimos caluniadores já não se usa!) que o meu trabalho não valia nada, que era incompetente, perdoo a dívida à empresa. O Presidente João Lourenço promete demitir-se antes de 2027 se algum dirigente do MPLA considerar o seu desempenho negativo e incompetente? Recebe centenas de respostas escorraçando-o! É o fim da bajulação porque a já não pode fazer mal a ninguém. 

O alarido da matilha às ordens do Presidente João Lourenço tem como objectivo desviar as atenções de duas situações gravíssimas. A The Boston Consulting Group confessou ter praticado subornos no Ministério da Economia e no Banco Nacional de Angola entre 2011 e 2017. A Procuradoria-Geral da República fez-se de morta. Não viu nada, não ouviu nada. Vão ver quem estava no BNA e no ministério dos subornados nesse período. É o fim! Então fazem barulho contra Dino Matreoss, Nandó, Higino Carneiro e outros dirigentes do MPLA. Até me metram no pacote. Que honra! 

A matilha ladra desalmadamente para desviar as atenções da mais grave denúncia alguma vez feita por um membro do Executivo. O General Francisco Furtado, ministro de Estado e chefe da Casa Militar do Presidente da República disse no Soyo, que o contrabando de combustíveis envolve governantes e antigos governantes! Também altas patentes das Forças Armadas Angolanas e da Polícia Nacional.

Para esconder estes factos a matilha diz que Dino Matross é um malandro, quer candidaturas múltiplas à liderança do MPLA! Nandó igualmente. Higino Carneiro nem se fala! Ladram e mordem os calcanhares a quem não bajula nem alinha na prostituição política reinante.

João Gonçalves (Joãozinho Pezinhos na Água) escreveu o livro “Gastronomia Angolana e Internacional”. Pediu-me para fazer o copydesk do texto e eu fiz. O livro é dele. As memórias são dele. As receitas são dele. Eu tive o mesmo papel dos gráficos. 

Higino Carneiro escreveu as suas memórias. Fiz o copydesk do seu livro “Soldado da Pátria”. As memórias são dele. As ideias são dele. A narrativa é dele. As vivências são dele. As opiniões são dele. Eu tive o mesmo papel dos gráficos. Igualmente com o seu livro “Grandes Batalhas”. Esqueceram-se de Artur Neves. Fiz o copydesk do seu livro “Canto Amor”. Também se esqueceram da minha colaboração nos livros de Manuel Pedro Pacavira. Uma honra muito grande ter colaborado com amigos e camaradas. 

Os papéis do Sérgio! O revolucionário português Carlos Antunes usava o pseudónimo de Sérgio na luta armada contra o regime fascista. Em 1991 fez uma empresa mista com Angola. Colaborou activamente nas eleições. Um dia deu-me um monte de papéis. Estavam lá as provas do dinheiro comido pelos primeiros marimbondos! Muito dinheiro sacado da linha de crédito da Argentária. Milhões embolsados na compra do sistema de rádiotelefone, viaturas, três estações de rádio (LAC, Morena e 2000) propaganda eleitoral às toneladas.

Não, não vou descer ao nível da matilha. Mas sempre aviso o Presidente João Lourenço que o seu combate à corrupção está coxo e arrasta-se penosamente pelos becos da aldrabice e da calúnia. Os gangues rivais já espalham notícias sobre o seu estado de saúde. É o princípio do fim.

* Jornalista

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