Ricardo Marques, jornalista | Expresso (curto)
Noventa e cinco mortos, um dezenas de desaparecidos. Mais de cem mil pessoas sem luz. Estradas cortadas, comboios parados. Lama por todo o lado, montanhas feitas de carros amolgados, pontes destruídas, casas arrasadas. A chuva veio e em duas noites levou quase tudo.
Aos poucos, a região de Valência
– ciclicamente castigadas por chuvas torrenciais – vai fazendo as contas à
tragédia mais recente. Uma ponte do século XVII que cruzava o rio Magro
reduzida a nada. Os nomes das zonas e aldeias alagadas estão por todo o lado:
Aldaia, Paiporta, Liria, Chiva, Buño… Na pior das noites deste século, uma estação meteorológica de Valência, a de Torís – Canyapar,
registou uma precipitação acumulada de 630 litros por metro quadrado –
muito mais do que aquilo que costuma chover num ano inteiro. Mais do que
aquilo que choveu em
E voltou, como sempre volta, a memória da grande tragédia de 1957. Tal como agora, a região foi atingida por um fenómeno meteorológico designado por “gota fria” – uma depressão isolada nos níveis altos (que em Espanha se designa por DANA) que tem, no seu núcleo, um ar mais frio, gerando assim muita severidade na instabilidade associada a essa depressão. Em 57 foram três dias seguidos de chuva, o que levou a um aumento brutal do caudal do rio Turia, que transbordou e inundou várias zonas da cidade. O balanço oficial à época foi de 81 mortos. Nos anos seguintes, Valência mudou o curso do Turia.
Tudo aconteceu muito depressa. “Ninguém estava à espera de tanta água. Não se via nada ali, era um mar inteiro”, contou ao Expresso um morador É provável que o número de vítimas suba durante o dia de hoje, à medida que as equipas de socorro – que já incluem mais de mil militares - vão avançando no terreno em direção às zonas mais afetadas de Valência, mas também de Castela La-Mancha e da Andaluzia.
Foram decretados três dias de luto nacional e o Governo já garantiu que “todas as ajudas” estatais e europeias para mitigar o impacto das inundações - e tanto a Organização das Nações Unidas como a Comissão Europeia já se disponibilizaram a ajudar.
O mau tempo está a caminho de outras regiões de Espanha e, por cá, é provável que chova de norte a sul nos próximos dias.
OUTRAS NOTÍCIAS
Generalidades Como um jogo com resultado definido à partida, a discussão sobre o Orçamento do Estado arrasta-se, sem grande entusiasmo, na Assembleia da República. O primeiro dia do debate na generalidade foi morno, sem surpresas, e para história fica uma frase do primeiro-ministro: “O equilíbrio das contas não é o fim da nossa política”. Segunda parte, e votação, marcada para hoje, às 10h00.
Dificuldades É com um computador
bloqueado por um ficheiro de Excel e uma ligação que não funciona que se
vai fazendo um dos maiores julgamentos do século
Energia A caminho de um
tribunal perto de si, o processo EDP vai crescendo
Incerteza Está marcado para hoje o primeiro dia de uma greve geral de uma semana em Moçambique, convocada pelo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que ficou em segundo lugar nas eleições de 9 de outubro. Mondlane ainda não reconheceu os resultados, que tem sido contestados um pouco por todo o pais, com registo de várias situações de violência. O candidato apelou a manifestações junto das estruturas locais da comissão de eleições e das sedes da Frelimo para quem não tem capacidade para se movimentar, pedindo aos restantes, de todo o país, para iniciarem a viagem para Maputo até 7 de novembro.
Manchester Depois da ‘Ruben Tuesday’ , uma verdadeira pedra rolante de emoções leoninas, e de uma posição de força por parte da direção do Sporting,tudo indica que Ruben Amorim ainda vai fazer mais três jogos de verde e branco, incluindo a partida contra o seu futuro rival de Manchester, o City, para a Liga dos Campeões. Ontem à noite, depois de o Manchester United ter goleado o Leicester por 5-2, em jogo para a Taça da Liga, o CEO do clube, Dave Brailsford, parou à porta para tirar selfies com alguns adeptos e a um pergunta sobre o novo treinador respondeu com duas palavras: ”Está fechado". O Sporting diz que não.
FRASES
"É obvio que eu não quero que um criminoso que tenha participado nestes acontecimentos, se for ele o titular do contrato de arrendamento é para acabar e é para despejar, ponto final parágrafo", Ricardo Leão, presidente da Câmara Municipal de Loures eleito pelo PS, sobre a participação de inquilinos de habitações municipais nos distúrbios que têm ocorrido na Área Metropolitana de Lisboa;
“A agenda de trabalho é a mesma de Hassan Nasrallah. Continuamos com o mesmo plano de guerra”, Naim Qassem, novo líder do Hezbollah num discurso transmitido pela televisãoem que apareceu ao lado das bandeiras do Líbano, do Hezbollah e de uma foto emoldurada do seu antecessor;
OS NOSSOS PODCASTS
Como evoluiu a economia nacional no terceiro trimestre. Portugal registou um crescimento acima do dobro da Zona Euro e da União Europeia. Estamos no bom caminho? Ouça o novo episódio do Economia dia a dia, podcast diário do Expresso, conduzido por Juliana Simões
Eleições no Leste-Europeu. As urnas foram abertas tanto na Moldávia, como na Geórgia. Sendo ambas nações sob uma forte influência de Vladimir Putin e, consequentemente, da Rússia, de que forma é que os resultados das eleições espelham esta relação? Ouça a análise no podcast Guerra Fria
O QUE ANDO A LER
Elon Musk e Jeff Bezos andam por todo o lado nas notícias.
O primeiro, dono da rede social X, além de muitas outras coisas, assumiu-se como um fervoroso apoiante de Donald Trump e, à boa maneira americana, ajudou a transformar a campanha eleitoral num programa de televisão em que distribui cheques a quem votar no candidato republicano. O segundo, que além de muitas outras coisas é dono do “Washington Post”, escreveu há dias um editorial a defender que o seu jornal não vai apoiar qualquer candidato.
Musk e Bezos andam também há muitos anos com a cabeça na Lua. E em Marte, e um pouco por todo o universo. São tidos como visionários, corajosos exploradores que passo a passo vão garantir o futuro da humanidade fora da Terra. O mundo espanta-se com os foguetões que vão e voltam, descolam e aterram outra vez. E já imagina a construção de bases na Lua, a exploração dos minérios que se encontram nos asteroides, as enormes cidades espaciais…
Um dos problemas de passar tanto tempo a olhar para cima é que se torna difícil reparar num pequeno livro de capa roxa como este que tenho aqui na secretária. Chama-se “Astrotopia – A Perigosa Religião da Corrida ao Espaço” (Zigurate), de Mary-Jane Rubenstein, professora de Religião e Ciência na Wesleyan University, no Connecticut.
“Tal como no passado, o espaço sideral é hoje lugar de sonhos utópicos, salvações dramáticas, complexos de redenção, fantasias apocalípticas, deuses, deusas, heróis e vilões. Tal como np passado, há algo de estranhamente religioso no espaço”, escreve Rubenstein.
O espaço, como foi o Oeste americano, como foi a América para Colombo e a Índia para os portugueses, é a nova fronteira, o novo mundo onde tudo será possível para todos, onde as riquezas são tão infinitas como as possibilidades.
E onde, mais cedo mais tarde, nada será assim.
Seja como for, na Terra ou algures numa nave espacial, “Astrotopia” será sempre um livro imprescindível para perceber o mundo em que vivemos e o que nos reservam os próximos anos.
Desejo-lhe uma excelente quinta-feira.
Amanhã haverá Expresso nas bancas.
Ate lá, estamos sempre consigo no site do Expresso
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