domingo, 12 de janeiro de 2025

MENTIRA COMPARADA II

Administradores da Sanzala Sem Palavras

J. Bazeza, Luanda

A Sanzala é independente há meio século. O partido que sustenta o governo está a perder popularidade. Tenho muita sorte, a minha namorada só me bate em sítios que não partem. Nunca perco a popularidade nem vou à urgência do hospital. Os administradores municipais e das empresas públicas desconseguem cobrir as falhas e incoerências dos chefes.

O Boca Azul, numa conversa amena com o seu amidaco Mafioso, disse que os povos do Muceque vivem bem. Há muito trabalho e grandes aumentos salariais para os administradores municipais e das empresas públicas.

 Ao contrário dos funcionários públicos da Sanzala cujos salários são diminuídos. O Mafioso pretendeu saber porquê. O Boca explicou. Na Sanzala há muitas obras de âmbito nacional e provincial. Em frente ao hospital há um buraco. Só o Estado pode tapá-lo. Os buracos são questões de estado. Tapá-los, só as mãos autorizadas. Os administradores municipais não são eleitos. Não sabem garantir uma circulação de trânsito paliativa.

O Mafioso é que sabe com boa sabedoria. Logo ali contrariou o Boca lembrando-lhe que os administradores municipais têm o seu Livro do Administrador com todas as lições de administrar. Todas a administrações municipais têm verbas para enfrentarem os inimigos que sempre surgem de surpresa como buracos, lama, lixo e nuvens de mosquitos.  Os coitados do governo têm de nomear comissões multissectoriais. Não têm Livro do Ministro. E mesmo que tivessem, não sabem ler dois mais dois.

O Boca Azul saltou em defesa do governo. Um administrador diz, numa entrevista aos órgãos públicos da comunicação social, que a responsabilidade de tapar buracos é do Governo Provincial e do Ministério da tutela. Tem de ser corrido por falta de solidariedade com os camaradas, já derrotados pelas estradas esburacadas, os hospitais sem médicos e enfermeiros, os cofres sem kwanzas. Governar não é só ir à capoeira pôr os galos em ordem. Também é preciso fazer a limpeza e distribuir o milho. Mesmo com todos os cuidados, as aves chegam sempre gripadas às eleições. É preciso garantir dignidade à pessoa desumana.

O Boca não desarmou e disparou mais. O órgão de comunicação social que der destaque à lama e aos buracos, por isso ser de interesse público, o repórter e o administrador correm o risco de saltar. Recentemente, um jornal publicou uma notícia que era mesmo verdade. A cabeça do PCA ficou a prémio por não se demarcar da matéria. Teve de pedir perdão ao ministro de Estado, que não pode vir a público, como vem o gatinho do beco.

Mafioso ao ouvir os clamores do amigável Boca questionou: Com essas atitudes, os administradores municipais e das empresas públicas, ao não fazerem bem, ao não administrarem bem os interesses dos povos soberanos, sentem-se úteis?

Boca sabiamente respondeu: A pergunta é pertinente ma têm de ser eles a responder. Eu sou um intelectual das elites suburbanas, como o ministro da Cultura.

Mafioso não se intimidou. Vive num país democrático, onde os governados exigem trabalho digno dos servidores públicos. 

Abastecido de sabedoria popular num contrabandista de combustíveis, disse imperativamente: Na Sanzala não se pode encontrar um beco com saída para resolver a situação do povo. O país é riquíssimo e não merece viver como vive.

Boca respondeu e bem. Disse que o povo da Sanzala está cansado de guerra. Já não pensa em pegar em armas. Mas é preciso endireitar a desorganização partidária que sustenta o governo ou executivo. Uma sondagem encomendada pelo ministro da Comunicação Social revelou um facto surpreendente. Entre tantos ministros, ministras, secretários e secretárias de Estado ninguém sabe cantar o hino do partido. Só cantam as palavras de ordem do Poder Popular entrelaçadas numa espécie de hino nacional.

A conversa terminou com o Mafioso a garantir que os povos da Sanzala, que têm uma só Nação, tarde ou cedo, mais cedo do que tarde, vão ter dias melhores. 

O Boca Azul concordou mas avisou: Primeiro, pelas vias legais, temos de despachar os arrogantes e incompetentes do partido que sustenta o governo. Segundo, formar um Executivo com pessoas humildes, com espírito de trabalhar e deixar trabalhar, cada um no seu posto. E nunca mais enganar os povos de que essa obra é da responsabilidade do Governo Provincial e aquela é do Ministério. Passam os anos e nada é feito. Mas o dinheiro sai dos cofres públicos, com todos os documentos e assinaturas que dão credibilidade aos documentos. Os biliões voam e nós cá em baixo na lama. 

Muceque é sofrimento. Eis a mentira comparada.

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