quarta-feira, 28 de maio de 2025

RDCongo: Joseph Kabila quer recuperar o poder pela via da força?

DW (Deutsche Welle) | com agências

Na RDC, a tensão entre o Governo de Félix Tshisekedi e o ex-Presidente Joseph Kabila volta a subir. Na semana passada, o Senado levantou a imunidade do ex-PR. As autoridades acusam Kabila de apoiar rebeldes do M23.

Em reação, o antigo chefe de Estado da República Democrática do Congo (RDC), Joseph Kabila, denunciou na sexta-feira, a "deriva autoritária" do país, rejeitando adecisão do Senado contra a sua imunidade.

"O regime no poder em Kinshasa tomou decisões arbitrárias com uma leviandade espantosa, que refletem o declínio espetacular da democracia”, acusou.

E a resposta não tardou. O partido do Presidente Félix Tshisekedi, a União para a Democracia e o Progresso Social, respondeu este domingo (25.05) às duras críticas Kabila.

Augustin Kabuya - secretário-geral do partido governamental - acusa Kabila de não ser congolês, por isso pede-lhe que não se intrometa nos assuntos internos: "Kabila não é congolês. É um ruandês cujo poder nos foi imposto. Deve deixar os congoleses em paz.”

Augustin Kabuya vai mais longe, acusando Kabila de liderar o Movimento 23 de Março (M23), grupo rebelde que desestabiliza o país, e de não ter legitimidade para falar de democracia.

"Ele recrutou o M23 e trouxe-o aqui para nos matar durante as manifestações, e não sabia que nós tínhamos essa informação. Temos aqui famílias cujos irmãos foram mortos por Kabila”.

O antigo Presidente Joseeph Kabila (2001-2019), criticou "o colapso das instituições" e do país, lamentando que "o Congo esteja gravemente doente", e acusa do Governo de ter "substituído" o Exército nacional "por bandos mercenários, milícias tribais e forças armadas estrangeiras", "abrindo assim a porta à regionalização do conflito", com o M23.

Kabila reúne-se com rebeldes em Goma

Entretanto, esta segunda-feira (26.05), Kabila terá sido recebido pelo M23, na cidade de Goma.

Nas redes sociais, Lawrence Kanyuka, porta-voz da Aliança Rio Congo (AFC), que inclui o M23 , declarou que "o antigo Presidente da República Democrática do Congo, Joseph Kabila, chegou à cidade de Goma", acrescentando: "Desejamos-lhe uma estadia agradável nas áreas libertadas".

Também o líder da AFC, Corneille Nangaa, escreveu nas redes sociais que Kabila "é bem-vindo na única parte do país onde não há arbitrariedade, perseguição política e sentenças de morte". 

A suposta ida de Kabila a Goma coloca incertezas no futuro político da RDCongo. Segundo Philippe Doudou Kaganda, diretor científico do Centro de Investigação e de Estudos sobre os Conflitos e a Paz na Região dos Grandes Lagos, o antigo estadista tem planos muito concretos: "Gostaria de recuperar o poder pela força. A unidade do Congo está agora em perigo".

"Com as forças que existem atualmente, às quais se juntarão as de Kabila, vamos mergulhar de novo no conflito, que vai assumir uma dimensão muito mais interna do que externa”, antevê.

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