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Um louco fascista na presidência dos EUA |
Revolução, evolução, masturbação, flagelação, regulação, integrações, meditações, Nações Unidas, parabéns
Pedro Cordeiro, editor da secção internacional | Expresso (curto)
Bom dia!
Antes de mais um convite: hoje,
às 14h, “Junte-se à Conversa” com David Dinis, Eunice Lourenço e Raquel
Moleiro, para falar sobre “Nacionalidade e imigração: as restrições
justificam-se?”. Inscreva-se aqui.
Esta quarta-feira arranca com a notícia de que Israel terá aceitado um cessar-fogo de 60 dias na Faixa de Gaza. Foi o Presidente
dos Estados Unidos quem o anunciou, ele que há meses tenta surgir como o homem
que vai acabar com todas as guerras, mormente as do Médio Oriente e da Ucrânia.
Tem sido mais difícil do que Donald Trump antecipou, e antes de fazer a paz até
já envolveu o seu país no conflito entre o Estado hebraico e o Irão. Resta
saber se o grupo islamita Hamas aceita os termos da proposta.
É mais certo Trumpo poder celebrar na a frente interna. O Senado aprovou, esta
madrugada (hora portuguesa), a “Big Beautiful Bill” (proposta de lei grande e bela), que se
chegou a temer que estivesse em causa por oposição (três republicanos votaram
contra, tendo o vice-presidente de desempatar). O chefe de Estado queria a lei
aprovada até ao feriado da independência, que se celebra na sexta-feira, e
assim foi. Reduções de impostos compensadas por cortes na despesa pública são a
sua espinha dorsal.
Já na outra guerra arrastada a que o milionário quer pôr fim, não há paz à
vista. A Ana França escreve sobre a ofensiva de verão planeada pela Rússia, descrevendo um
combate de trincheiras “que lembra a Segunda Guerra Mundial” com “fortificações
pesadas para impedir a artilharia, tanques e outros blindados” e linhas “onde é
muito difícil penetrar” para ambos os lados. Embora sem grandes conquistas para
já, a dinâmica no terreno dá razões a Moscovo para acreditar que pode bater Kiev.
De volta ao Médio Oriente, dois trabalhos da Catarina Maldonado Vasconcelos
avaliam o estado da sociedade iraniana depois dos doze dias de guerra com
Israel e, no final, os Estados Unidos. Por um lado, há o choque de um país que não está acostumado a ataques sem tropas em terra, só
tecnologia. Por outro, a reação pouco surpreendente de um regime que aproveita
este verão sangrento para nova vaga repressiva, com prisões e execuções sob
acusações como “corrupção na Terra” e “inimizade contra Deus”.
Enquanto isso, prossegue em Sevilha a IV Conferência Internacional sobre
Financiamento para o Desenvolvimento das Nações Unidas, com que um conjunto de
estados procura compensar de alguma forma o recuo de Washington na ajuda
externa, com a extinção da USAID enquanto agência independente. Esta decisão de
Trump abala a parte mais pobre do planeta e que se calcula que possa causar 14
milhões de mortes. Não é só a guerra…
P.S.: Para título deste Curto fui buscar dois versos de “Give Peace a Chance”, de John Lennon e Plastic Ono Band
Outras notícias
Protelar Começa (ou talvez
deva escrever “está previsto que comece”) amanhã o julgamento de José Sócrates.
Ocasião para o Rui Gustavo recordar dez anos de avanços e recuos de um processo
que já envolveu 300 juízes e no qual o antigo primeiro-ministro já apresentou
50 recursos, seis deles com êxito.
Congestionar Augusto Santos Silva comunica hoje a sua decisão sobre as eleições presidenciais,
conta o João Pedro Henriques. O sociólogo, que foi presidente do Parlamento,
deputado e ministro, tem-se destacado no grupo de socialistas que fala com
inusitada acidez da candidatura de António José Seguro, sobre quem a Rita Dinis escreveu na edição semanal e o Henrique Monteiro opinava ontem no site.
Cortar Os bancos centrais cortaram mais de 60 vezes os juros nos primeiros
seis meses de 2025, escreve o Jorge Nascimento Rodrigues. Prossegue o ciclo de
descida acelerada na segunda metade do ano passado, mas China, México, Suécia,
Suíça e zona euro vão abrandar ou mesmo parar o alívio monetário.
Julgar O Expresso teve acesso aos documentos que sustentam o pedido do
ator Nuno Lopes de um julgamento sumário no caso em que a argumentista A. M.
Lukas o acusa de violação. O João Miguel Salvador explica, em oito perguntas e respostas, o que está em causa neste
mediático processo.
Despedir O F. C. Porto anda à caça de treinador, o terceiro do ano,
informa o Diogo Pombo. O argentino Martín Anselmi, que rendeu Vítor Bruno em
janeiro, conduziu a equipa em 21 jogos, dos quais só venceu 10. Tinha contrato
até 2027, pelo que os dragões podem ficar a pagar a dois técnicos mandados
embora.
Calar Uma plataforma que reúne associações e movimentos de moradores de
Lisboa exige ações da Câmara face ao ruído “constante”, “degradação” do espaço
público, “insegurança” e “falta de higiene e limpeza urbana”, escreve a Helena Bento. Apresentam-se hoje às 18h30
na Rua Dom Luís I, nº 21.
Frases
“O objetivo da UE não é competir
com os EUA ou a China, mas garantir que se pode tornar no melhor lugar para
fazer ciência.”
Maria Leptin, presidente do Conselho Europeu de Investigação, numa
interessante entrevista feita pelo jornalista Virgílio Azevedo, um
histórico do Expresso
“É uma liturgia sem céu. Só com um chão perdido, e a tentativa de o recuperar
através do culto.”
Maria Castello Branco, colunista do Expresso, sobre a evolução da direita, ou parte dela
Podcasts a não perder
“Interpretar à letra um
poema é fazer figura de parvo. E, portanto, interpretar à letra uma piada
também é fazer figura de parvo”, defende Ricardo Araújo Pereira, convidado de
José Maria Pimentel no 45 Graus. Uma reflexão sobre os limites éticos do
humor e a sua importância numa sociedade livre.
O Governo decidiu proibir
os ecrãs nas escolas para os alunos do primeiro e segundo ciclos. No Expresso da Manhã, Paulo Baldaia conversa com Mariana Reis
e Matilde Sobral, da Associação Mirabilis, criada para prestar informação às
famílias sobre o impacto do uso dos telemóveis.
Foi rei ou não? No mais
recente A História Repete-se, Henrique Monteiro e Lourenço Pereira
Coutinho conversam sobre a vida e a “causa” de D. António, prior do Crato, que
tentou em vão evitar que Filipe II de Espanha se tornasse Filipe I de Portugal,
na sequência do desaparecimento de D. Sebastião em África.
O que ando a ler, ouvir e ver
Nos livros, e como estamos
naquele mês em que pululam pelos ecrãs os memes com o maior galã da música espanhola, nada como
o delicioso “O espanhol que encantou o mundo” (Zigurate), de
Ignacio Peyró. O autor deste livro, que é muito mais do que uma biografia de
Julio Iglesias, falou com José Miguel Sardo na “Blitz”: “E em todos
estes momentos da história recente cruzamo-nos com Julio Iglesias. Já sem falar
do papel que desempenhou na imprensa cor-de-rosa e como, de alguma forma, vai
encarnar as mudanças sociais da época”.
Para yours truly, a obra tem apelo multifacetado. Leio-a como jornalista
de internacional que tem prestado especial atenção a Espanha (e lá estão o
franquismo, a transição, o terror da ETA e essa grande instituição que é a “¡Hola!”);
como miúdo dos anos 80 que lia essa revista cor de rosa em casa (e com ela
começou a aprender espanhol), por essa via tomando contacto com o clã Iglesias
Preysler, os desaires amorosos de cada descendente e as respetivas derivações,
que perduram, e a quem estas páginas trouxeram de volta nomes há muito
esquecidos, como Vaitiare Bandera; e como ouvinte que conhece pela rama a
música de Julio e a aprecia com talvez injusta condescendência.
Passando à poesia, saíram recentemente dois volumes de Nuno Júdice na Dom
Quixote. “Livro de Caligrafia” é um inédito que assenta num
caderno encontrado no espólio do poeta e ensaísta, falecido no ano passado. São
30 poemas escritos e 1994, com a reprodução da versão manuscrita do próprio…
uma preciosidade. No mesmo ano, Júdice lançava “Meditação sobre Ruínas”, que agora se reedita e que parte
de uma viagem do poeta às terras romenas onde o romano Ovídio esteve exilado no
dealbar da era cristã.
Nos palcos, uma longa temporada
de concertos e peças de teatro está quase a acabar, hoje com Deixem o Pimba em Paz, espetáculo de Manuela Azevedo e
Bruno Nogueira que até já foi disco. A iniciativa, que tem 12 anos, relê
clássicos do género musical epónimo, desta vez com uma dúzia de convidados.
Dura até dia 16, está esgotado (et pour cause), mas recomendo que atentem a
quem queira vender bilhetes. A 13 de julho, para amantes de musicais, vem ao
Fórum Lisboa uma glória da Broadway, Patti LuPone, na sua estreia nacional.
Encerrando com os auscultadores, dois registos. “Virgin”, de Lorde, que o Mário Rui Vieira autopsia, é pouco mais de meia hora em
que a neozelandesa deita tudo cá para fora, num bem-vindo regresso às origens
sem se repetir. “Caetano e Bethânia ao vivo” documenta a digressão
conjunta dos últimos meses pelo Brasil, que suplico aos manos Telles Veloso que
tragam para este lado do mar, onde atuaram soberbamente há 25 anos (Bethânia
tem novo show por estes dias, só nas terras de Vera Cruz, a assinalar
60 anos de música). E já só como rebuçado final, esta “Tahra” de Bombino e Great Big Warm House, que espero
prenuncie para breve um disco do artista tuaregue.
O Curto fica por aqui, a informação segue no Expresso. Até breve e até sempre!
* Título PG
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