quarta-feira, 2 de julho de 2025

Os Bondosos do Colonialismo -- Artur Queiroz

Artur Queiroz*, Luanda >

O império colonial português está a ressuscitar à força toda. A comissão das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril fez uma mega sondagem no jardim à beira mar plantado e nas colónias. Salazar tinha razão. A descolonização foi uma porcaria. E temos de pagar indemnizações aos retornados. Eu sabia que isto ia acabar mal. 

Os cabo-verdianos ainda deram um ar da sua graça mas angolanos, guineenses e moçambicanos foram arrasadores. Detestam o colonialismo. Paz. Compreensão. Diplomacia. Vamos ser amigos. Os retornados podem levar as fazendas, fábricas, prédios e casas. Mas pagam eles o frete do transporte. Também podem receber indemnizações em Kwanzas. Mas aí eles pagam um milhão de euros por cada dia que viveram em Angola. Esclavagistas e genocidas pagam a dobrar. E como pena acessória vão perpetuamente para o Bentiaba. Quem é amigo, quem é? Depois digam que sou contra os portugueses.

Mais uma prova de cooperação e amizade. As senhoras da comissão dos 50 anos do 25 de Abril, o Tio Celito e outros comissionistas ficam a saber que os portugueses chegaram à costa da Guiné no século XV, em 1446. A costa marítima passou a ser praça-forte do tráfico de escravos. Os guineenses foram vítimas do genocídio colonialista e do esclavagismo. Mas a colónia da Guiné Bissau só nasceu no final do século XIX.

As ilhas de Cabo Verde eram desabitadas quando lá chegaram os navegadores portugueses, em 1462, 16 anos depois de ocuparem a costa da Guiné, a partir do rio Gâmbia. Os portugueses fundaram a cidade de Ribeira Grande, hoje Cidade Velha. Povoaram as ilhas com portugueses condenados ao degredo, mouros, judeus e escravos da Guiné. 

As ilhas de São Tomé e Príncipe estavam desabitadas quando lá chegaram os portugueses no final do século XV, ano de 1470, 12 anos depois de aportarem à ilha de Santiago. Os navegadores portugueses João de Santarém e Pedro Escobar foram os primeiros a chegar às ilhas. Foram povoadas por portugueses condenados ao degredo, mouros, judeus (sobretudo crianças cujos pais morreram nas fogueiras da Inquisição) e escravos do Benim. Mais tarde também escravos de Angola.

Diogo Cão chegou à foz do rio Zaire (Congo) em  1482. Encontrou um reino próspero. A perfídia, a traição e o genocídio ajudaram à expansão e ocupação do colonialismo até ser desenhado o actual mapa de Angola em 1926. A ferro e fogo mas também com a cruz.

Os portugueses chegaram a Moçambique no final do século XV. O território estava na rota da Índia. A armada de Vasco da Gama aportou à Ilha de Moçambique em 1498. A ocupação efetiva do território só começou no século XVI, com a construção de feitorias, fortalezas e a criação de capitanias. Os nautas portugueses encontraram milhões de seres humanos. E um comércio florescente com todo o Oriente. O genocídio foi a principal arma para a ocupação colonial.

Na sondagem dos saudosos do colonialismo, cabo-verdianos, guineenses, santomenses, angolanos e moçambicanos foram tratados da mesma maneira. Não pode. As dez ilhas da Cabo Verde existem há 150 milhões de anos. O mapa de Angola como existe hoje, foi acabado de desenhar em 1926. A ilha do Príncipe tem 31 milhões de anos. A ilha de São Tomé 16 milhões de anos. A Guiné Bissau com o actual mapa nasceu no final de século XIX. As primeiras fortalezas e feitorias dos portugueses foram erguidas em Sofala e Ilha de Moçambique no final do século XV. Mas a administração colonial só se consolidou no final do século XIX. 

Finalmente. Os movimentos independentistas angolanos nasceram no último quartel do século XIX. Explodiram nos anos 50. A Luta Armada de Libertação Nacional começou no dia 4 de Fevereiro 1961 sob a bandeira do MPLA. A Grande Insurreição no dia 15 de Março, comandada pela UPA/FNLA. A luta Armada na Guiné Bissau começou em Janeiro de 1963, sob a bandeira do PAIGC. Em Moçambique começou em 25 de Setembro 1964, sob a bandeira da FRELIMO. Nesse ano a Zâmbia acedeu à independência e o MPLA iniciou os preparativos para abrir a Frente Leste. Cabo Verde não teve luta armada. São Tomé e Príncipe também não. Realidades muito, muito, diferentes. Só os colonialistas eram os mesmos. 

Os colonialistas ressuscitados querem acabar com os acordos estabelecidos no seio da CPLP que beneficiam os cidadãos comunitários. Os africanos são quase todos pretos. Os brasileiros, além de pretos e mulatos pertencem a quadrilhas e traficam drogas. Vão mudar a Lei da Nacionalidade. Quem quiser ser português de lei tem de provar que conhece a cultura portuguesa. Se fizessem isso ao pessoal da Imprensa, Rádios e Televisões perdiam todas e todos a nacionalidade.

Já existe um modelo do teste e eu vou revelar em primeira mão. Foi rezar ao Santuário de Fátima? Se sim como se deslocou: a) a pé. B) no machimbombo c) de visto gold e limusine d)à bolei nas asas de um anjinho. Alguma vez foi seguidor a) do Islamismo b)do comunismo c) da Rússia d) de Deus. Qual destes pratos portugueses prefere a) toucinho fumado b) secretos de porco preto c) bifanas de porco bísaro d) chouriço assado no bagaço. Qual destes reis foi apanhar um tiro no Rossio a) D. Marcelo b) D. Montenegro c) D. Ventura d) D. Carlos. Qual foi o rei português que prendeu a mãe? a) D. Afono filho do Henrique b)D. Marcelo c)D. Bruno Gonçalves d) D. Mário Machado. 

No fim o candidato tem de escrever uma composição. Copiem esta. André Ventura encontrou um rapaz negro, seu íntimo no bairro pobre do Cacém. Se saudaram e o preto falou assim: Xé Carocho vais aonde? Charrar. Te peço mais. Mais o quê? Já sabes do que eu gosto mais. Aí o mocinho lhe sodomizou até à garganta. Ventura chorou. Ficou tão maluco coim a ganza e a penetração que chegou a casa e ordenou à esposa: Chama o Pedro Pinto! A senhora chamou. Salta para o membro do boi! E ela saltou. Estavam assim e chegou a Rita Matias. Estragou tudo, De castigo, foi obrigada a namorar com o guarda-costas desabonado e fazer concorrência à esposa de um major general na mata de Monsanto. Mais tarde foram todos para o governo e o Montenegro ficou dono do Casino de Espinho Vivo. Abaixo os pretos, os mulatos, os comunistas, os socialistas e os ciganos. Assim acaba a história da Maria Vitória.

A esta hora já encerraram as agências bancárias. A administração da s Edições Novembro não pagou o que me deve nem disse quando paga. Caloteiros e ladrões do pão alheio. O capataz que dá chicotadas no povo está por trás do crime. Vão pagar. Kinga ainda! 

*Jornalista

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