ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA
Passados oito anos, José Eduardo dos Santos voltou ao Huambo para cortar algumas fitas e fazer discursos já eleitorais e com algumas perigosas pitadas de demagogia.
“Hoje é um grande dia para esta província, é um dia de festa e nós não podíamos deixar de estar aqui neste dia para comemorar convosco a chegada do comboio, que muita gente não acreditava que apitaria tão cedo na cidade do Huambo”, afirmou o Chefe de Estado com toda a legitimidade democrática de quem está no cargo há 32 anos sem ter sido eleito.
Eduardo dos Santos não perdeu a oportunidade para, mesmo nove anos depois de alcançada a paz, atacar os antigos e, pelos vistos actuais, inimigos.
Ainda com uma espinha chamada UNITA entalada na garganta, referiu-se aos que quando destruíram a via-férrea partiram todos os carris, estações, colocaram minas anti-pessoal e anti-tanque e pensaram que “nós levaríamos dezenas de anos para restabelecer a via e circulação, entre o Huambo, Benguela e Lobito”.
“Mas os que pensaram assim enganaram-se, porque afinal nós construímos tudo de novo o que havia antigamente do tempo colonial e que era bom para aquele tempo, mas nós reconstruimos, diria que construímos de novo a linha férrea e as estações e temos hoje, uma linha férrea mais moderna, mais capaz de suportar cargas e transportar mercadorias e passageiros e assim é que deve ser”, considerou Eduardo dos Santos.
Aliás, como todo o mundo sabe, tudo o que de mal se passou, passa ou passará em Angola é culpa da UNITA. Desde logo porque as balas das FALA (Galo Negro) matavam apenas civis e as das FAPLA/FAA (MPLA) só acertavam nos militares inimigos.
Além disso, como também é sabido, as bombas lançadas pela Força Aérea do MPLA só atingiam alvos inimigos e nunca estruturas civis.
Mas há mais factos que dão razão às teses do MPLA. Todos sabem que a UNITA é que foi responsável pelos mais de 40.000 angolanos torturados e assassinados em todo o país depois dos acontecimentos de 27 de Maio de 1977, acusados de serem apoiantes de Nito Alves ou opositores ao regime.
E só por ter um espírito reconciliador, democrático e benemérito é que Eduardo dos Santos não referiu que a UNITA foi também responsável pelo massacre de Luanda que visou o seu próprio aniquilamento e de cidadãos Ovimbundus e Bakongos, onde morreram 50 mil angolanos, entre os quais o vice-presidente da UNITA, Jeremias Kalandula Chitunda, o secretário-geral, Adolosi Paulo Mango Alicerces, o representante na CCPM, Elias Salupeto Pena, e o chefe dos Serviços Administrativos em Luanda, Eliseu Sapitango Chimbili.
E foi esse mesmo filantrópico espírito do presidente que evitou que ele dissesse os nomes de alguns angolanos que, esses sim, representam o povo angolano. A saber, entre muitos outros: Lúcio Lara, Iko Carreira, Costa Andrade (Ndunduma), Henriques Santos (Onanbwe), Luís dos Passos da Silva Cardoso, Ludy Kissassunda, Luís Neto (Xietu), Manuel Pacavira, Beto Van-Dunem, Beto Caputo, Carlos Jorge, Tito Peliganga, Eduardo Veloso, Tony Marta, Agostinho Neto.
Como evitou que falasse dos que não são angolanos, mas apenas oportunistas. A saber, entre outros: Alda Sachiango, Isaías Samakuva, Alcides Sakala, Jeremias Chitunda, Adolosi Paulo Mango Alicerces, Elias Salupeto Pena, Jonas Savimbi, António Dembo ou Arlindo Pena "Ben Ben".
Mas, apesar desta postura, Eduardo dos Santos tem na manga muitas outras provas. Um dia destes, talvez no Munhango ou no Lucusse, vai provar que o massacre do Pica-Pau em que, no dia 4 de Junho de 1975, perto de 300 crianças e jovens, na maioria órfãos, foram assassinados e os seus corpos mutilados no Comité de Paz da UNITA em Luanda… foram obra da UNITA.
Como irá provar que o massacre da Ponte do rio Kwanza, em que no dia 12 de Julho de 1975, 700 militantes da UNITA foram barbaramente assassinados, perto do Dondo (Província do Kwanza Norte), perante a passividade das forças militares portuguesas que garantiam a sua protecção, foi obra da UNITA.
Mas a lista é interminável. Entre 1978 e 1986, centenas de angolanos foram fuzilados publicamente, nas praças e estádios das cidades de Angola, uma prática iniciada no dia 3 de Dezembro de 1978 na Praça da Revolução no Lobito, com o fuzilamento de 5 patriotas e que teve o seu auge a 25 de Agosto de 1980, com o fuzilamento de 15 angolanos no Campo da Revolução em Luanda. Responsável? A UNITA.
Foi, aliás, a aviação da UNITA que, em Junho de 1994, bombardeou e destruiu Escola de Waku Kungo (Província do Kwanza Sul), tendo morto mais de 150 crianças e professores, que, entre Janeiro de 1993 e Novembro de 1994, bombardeou indiscriminadamente a cidade do Huambo, a Missão Evangélica do Kaluquembe e a Missão Católica do Kuvango, tendo morto mais de 3.000 civis.
*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
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