quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O Sindicato dos Jornalistas de Portugal finge que Angola é um Estado de Direito




ORLANDO CASTRO*, jornalista – ALTO HAMA

O Sindicato dos Jornalistas portugueses sabe que não é assim, mas fica-lhe bem dar a entender que Angola é de facto, que não de jure, um Estado de Direito Democrático. 

Vai daí, exigiu hoje a identificação e punição dos autores das agressões aos jornalistas que faziam a cobertura da manifestação de sábado, em Luanda. 

"Consideramos ser de exigir que sejam identificados e punidos os responsáveis pelas agressões que se verificaram, nomeadamente contra os jornalistas, que são objecto da nossa preocupação", disse o presidente do sindicato, Alfredo Maia. 

Do ponto de vista deste Sindicato, até dá muito jeito aparecerem de quando em vez problemas como os de Luanda. Dessa forma não tem que se preocupar com as enormes, constantes, habituais e já institucionalizadas violações dos direitos dos jornalistas portugueses. 

As agressões físicas foram praticadas por cidadãos à civil e sem identificação quando tentavam impedir que dois operadores de câmara da RTP África, bem como o correspondente da "Voz da América" recolhessem material. Os profissionais viram-se ainda despojados dos seus equipamentos, destruídos pelos agressores. 

Se os agressores, embora bem armados e protegidos pela Polícia e restantes forças repressoras do regime angolano, estavam à civil e sem identificação, com é que o Sindicato português quer que eles sejam identificados? 

É claro que se Angola fosse um Estado de Direito, tudo seria diferente. Mas como não é, o Sindicatos dos Jornalistas portugueses só tem que meter a viola no saco e ir pregar para outra freguesia. Se o não fizer, o regime de Eduardo dos Santos pode decidir mandar para o desemprego mais alguns dos jornalistas… portugueses que (ainda) trabalham nos media… portugueses mas que são comandados pelo dono de Angola. 

Alfredo Maia frisou que "os jornalistas não podem ser impedidos de realizar o seu trabalho, que consiste em observar e narrar o acontecimento e não em posicionarem-se ao lado dos seus autores ou dos alvos das manifestações". "Os jornalistas são os olhos e ouvidos de que o mundo necessita para ter a informação sobre os acontecimentos", acrescentou. 

Alfredo Maia consegue, com alguma reconhecida mestria, ver uma bitacaia nos jornalistas angolanos, ou em serviço em Angola, mas esquece a praga que invade Portugal e que é dominada pelos donos dos jornalistas e pelos donos dos donos… muitos dos quais angolanos. 

"Eu creio que em relação a este aspecto concreto, da protecção e dos direitos dos cidadãos, os jornalistas devem empenhar-se para escrutinar o mais possível o funcionamento do aparelho judicial no sentido de dar conta ao mundo do que se está a passar com estes cidadãos, no sentido de verificar se os seus direitos vão ser respeitados ou não", sublinhou ainda Alfredo Maia. 

Que é bonito, é. E deveria aplicar-se a Angola e a Portugal. Mas, como muito bem sabe o Alfredo Maia, embora e por enquanto em escalas diferentes, esbarra nos supremos interesses da nação para quem os jornalistas apenas devem ser, mesmo que bem pagos, criados do Poder. 

*Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.

Sem comentários:

Mais lidas da semana