terça-feira, 24 de abril de 2012

ABRIL NÃO DESARMA?



TSF

No Fórum TSF vamos debater a recusa da Associação 25 de Abril em participar nas cerimónias oficiais de quarta-feira. Este protesto contra a política do Governo, revelado num manifesto intitulado «Abril não desarma» conta com a solidariedade de Mário Soares e Manuel Alegre que também não vão estar no Parlamento. No Fórum TSF queremos ouvir a sua opinião e o seu testemunho: que importância atribui às comemorações do 25 de abril? Costuma festejar o aniversário da revolução? Comente aqui.

QUEM SE LIXA É O MEXILHÃO

António Veríssimo

Neste momento o Fórum ainda está no ar. Os ouvintes participam. Uma dor de alma em alguns comentários, algumas opiniões dos intervenientes. Ressalta o desconhecimento da história e do quanto mal os portugueses sobreviviam no regime de Salazar-Caetano.

Alguns dos que se pronunciaram deixaram perceber serem velho empedernidos completamente frustrados por terem visto suas famílias salazarentas perderem privilégios que obrigatoriamente os abrangeram. Um deles reconheci. Herdeiro de um militar, major quando do 25 de Abril de 1974 completamente conivente com o regime terminado na revolução dos capitães que passou a ser de todos os portugueses. Aquele interveniente mostrou-se francamente ressabiado. Era pré-adolescente em 1974. Viva então cheio de mordomias, com automóvel do Estado, motorista, ordenança à porta, criados. Filho de um major, par de outro que era o chefe máximo da PIDE, Silva Pais. Todas as semanas reunião com o ministro do interior. Todas as semanas gizavam planos para defender os seus tachos, as suas mordomias e dos seus senhores. Nunca foram mobilizados para a guerra colonial que nos dizimou por 13 anos, mas eram militares. Militares e cobardes. Militares e traidores dos superiores interesses do país e do povo. Este interveniente na TSF, filho daqueles monstros, ganhou coragem para destilar ódios sobre os capitães de Abril, sobre aqueles acontecimentos que nos possibilitaram liberdade e a democracia. E mais não fez porque o moderador do programa não permitiu que fugisse do tema. Afinal, ele, o menino salazarento, ainda hoje guarda rancor àqueles que o fizeram perder as mordomias, que não permitiram que o pai reprimisse mais os portugueses que lutavam pela liberdade, que deixou de ter o motorista e o carro a irem buscá-lo ao colégio, e em todos estes anos nada aprendeu. A sua noção de justiça social, de democracia, pouco ou nada mudou. Pior é que uns quantos têm ido e vão atrás destas loas, destes ressabiados. E quem se lixa é o mexilhão.

A falta de noção daquilo que foi na realidade o regime deposto há 38 anos é fruto do branqueamento da história feita por muitos ao longo deste período. Só por isso Cavaco é eleito, assim como os que constituem o atual governo. Filhos dignos daquele major braço direito de Silva Pais, e de Silva Pais e de todos as ratazanas que por mais de 40 anos subjugaram o povo português, proporcionando-lhes somente doenças, fome, porrada e guerra, em beneficio de umas dezenas de famílias.

Se por isso, naquele fórum, neste momento já terminado (12 horas) assistimos a bacoradas de todo o tamanho que revelaram desconhecimento da história e da miséria e atraso que era Portugal, não nos admiremos que a trupe de Cavaco e Passos Coelho singre nos seus objetivos de nos fazer voltar ao “antigamente”, porque este povo está adormecido, está a ficar acarneirado, está a deixar de entender que quando o povo quer é quem mais ordena.

Não vão aparecer outros capitães para nos ajudar. Temos de ser nós a saber defender e repor o que foi conseguido em Abril de 1974 e que Cavaco e Passos estão a conseguir destruir através da argúcia de homens de antigamente independentemente das suas idades. Eles são, afinal, os da laia daquele filho do major cobarde que num país em guerra nunca nela participou porque fazia parte do aparelho repressivo de Salazar-Caetano. Assim são muitos daqueles que temos atualmente nos Poderes: filhos dos majores e de outros repelentes inimigos da verdadeira liberdade e democracia.

Obrigado capitães (militares e civis) antifascistas, democráticos, que ao longo de décadas lutaram para que aquele dia acontecesse em 1974. Urge defendê-lo. Abril não pode desarmar. Se não… quem se lixa é o mexilhão.

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