quarta-feira, 18 de abril de 2012

GUINEENSES EM CABO VERDE AFIRMAM-SE “CANSADOS” E APELAM À PAZ



JSD - Lusa

Cidade da Praia, 18 abr (Lusa) - Cerca de três centenas de guineenses residentes em Cabo Verde manifestaram-se hoje ao fim da tarde na Cidade da Praia para exigir a paz na Guiné-Bissau, mostrando-se "frustrados" e "cansados" pelos sucessivos golpes de Estado no país.

A manifestação terminou diante da sede do Sistema das Nações Unidas (SNU) em Cabo Verde, onde entregaram à coordenadora residente da ONU, Petra Lantz, uma petição pela paz, que deverá ser entregue às autoridades da organização em Bissau e na sede, em Nova Iorque.

"A maior motivação desta manifestação é uma situação antiga, que continua a repetir-se em Bissau, que são golpes atrás de golpes", disse Adónis Ferreira, "porta-voz" dos manifestantes e que está desde 1998 em Cabo Verde, país onde se refugiou após o eclodir da guerra civil de 1998/99.

"É uma raiva da comunidade guineense que vive cá, que, dia após dia, trabalha duramente para mandar um bocadinho de dinheiro para as suas famílias, com a perspetiva de um dia voltar. De um momento para o outro, aparecem pessoas com interesses próprios e dão golpes (de Estado). Ficamos sem projeto de vida em Bissau", acrescentou Adónis Ferreira, funcionário de uma empresa de telecomunicações local.

"O nosso povo já está cansado. Está cansado de todos os fins de semana se levantar de manhã e ouvir armas lá fora. A Guiné está cansada disso, o povo também e nós, os que estamos fora, também estamos cansados disso. O que estamos a pedir aqui é: basta de armas e viva a paz na Guiné-Bissau", disse à Lusa outro manifestante, Adélio Ferreira, rececionista de hotel na Cidade da Praia.

Arlinda Nancassa, funcionária na embaixada de Angola na Cidade da Praia, defendeu que os problemas dos militares podiam ser resolvidos por via pacífica, lembrando também o "cansaço do barulho das armas", opinião corroborada por Adónis Ferreira e por Adélio Ferreira.

"(As razões dos militares) não são convincentes. Que apresentem a carta secreta que dizem ter. Que provem isso ao Mundo. Mas, mesmo que seja verdade, há outros meios de resolver as coisas. O principal problema passa pelas Forças Armadas. É fulcral e urgentíssima a reforma", sublinhou Adónis Ferreira

Também à Lusa, a coordenadora do SNU em Cabo Verde garantiu que a mensagem entregue pelos manifestantes será reencaminhada para a sede da ONU em Nova Iorque e para os escritórios em Bissau.

"Entregaram uma carta em que defendem a paz e a democracia e dizem não à violência. O que prometi foi reencaminhar a carta para as autoridades das Nações Unidas na Guiné-Bissau e em Nova Iorque. É claro que nós, aqui, também partilhamos este desejo de não à violência e viva a paz", disse Petra Lantz.

A manifestação, iniciada às 17:30 locais (19:30 em Lisboa), percorreu várias avenidas da capital cabo-verdiana e terminou junto do edifício da ONU, onde se cantou várias vezes o hino nacional guineense e se gritaram palavras de ordem apelando à paz.

Acompanhados discretamente pela polícia, os manifestantes acabaram por dispersar, sem que se tenha registado qualquer incidente.

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