sexta-feira, 8 de junho de 2012

Antigos militares angolanos protestam em Luanda e surpreendem a polícia



Deutsche Welle

Na manhã desta quinta-feira, 7 de junho, militares desmobilizados manifestaram-se diante do Ministério da Defesa. Romperam barreiras e foram recebidos pelo Chefe de Estado Maior das Forças Armadas para fazer exigências.

Eram aproximadamente 3.000 homens desmobilizados em 1992, muito deles na faixa etária dos 50 anos, outros ainda deficientes de guerra. Pertenceram, na sua maioria, às FPLA, Forças Populares de Libertação de Angola. Eram comandados pelo partido no poder, MPLA (Movimento Popular de Libertação de Angola), mas também faziam parte do grupo ex-militares da UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola) e do FNLA (Frente Nacional de Libertação de Angola).

Nesta quinta-feira, 7 de junho, os desmobilizados marcharam do quartel-general em direção ao Ministério da Defesa, em Luanda, para reivindicar subsídios, pagamentos de pensão por invalidez e integração na segurança social.

Romperam algumas barreiras policiais, entre elas a guarda presidencial, até que foram recebidos pelo Chefe de Estado Maior das Forças Armadas. A fúria dos antigos combatentes era tão grande que enfrentaram os cães da polícia e feriram alguns agentes à pedrada.

Rafael Marques, ativista angolano dos Direitos Humanos, vive nas proximidades e assistiu ao protesto: “Foi uma grande confusão porque a polícia não estava preparada para uma manifestação surpresa”, conta.

Segundo Marques, “foi por pouco que a situação não deflagrou em grande violência, primeiro porque eles estavam muito bem organizados e enviaram uma delegação, que foi recebida pelo Chefe de Estado Maior Geral das Forças Armadas angolanas, o general Geraldo Sachipendo Nunda, que conversou com eles e prometeu-lhes a resolução do seu caso”.

O ativista dos direitos humanos prossegue, descrevendo que “quando um dos representantes da comissão saiu para falar com os manifestantes, nessa altura, de forma até algo descontente, os ex-militares decidiram retirar-se. Assim que viraram costas, a polícia de choque, os oficiais que lá estavam, deram ordem para correr com eles. Aí houve confusão”.

Cerimónia fúnebre para as vítimas ainda desaparecidas

Ainda segundo Rafael Marques, Angola nunca assistiu a uma revolta de ex-militares tão grande como esta e a polícia não causou medo aos manifestantes. Mas antes da manifestação de 7 de junho, uma outra aconteceu no dia 20 de maio diante do Palácio Presidencial, próximo ao Ministério da Defesa, onde a polícia deteve Alves Kamulingue e Isaias Kassule, os líderes da revolta.

Até hoje, os familiares não sabem do seu paradeiro. Mas Mariano Kassule, irmão de Isaias, desconfia “que eles foram raptados e mortos e até já realizámos o funeral cá em casa". No entanto, não há certezas pois, “uns dizem uma coisa, outros dizem outra”, afirma.

A família de Isaias Kassule desconfia ainda que ele tenha sido raptado pelas milícias do governo. E planeava pedir satisfações ao MPLA, mas recebeu indicações deste partido para aguardar em casa por um pronunciamento.

UNITA acusa forças oficiais de envolvimento no rapto de manifestantes

Esta primeira manifestação não autorizada oficialmente foi considerada ilegal pelas autoridades policiais.

O desaparecimento dos dois homens originou a indignação dos partidos políticos angolanos, que exigem satisfações ao governo. Adalberto da Costa Júnior, porta-voz da UNITA, o maior partido da oposição em Angola, considera que “não há qualquer dúvida e eu não tenho nenhum problema em poder afirmar que os raptos foram efetuados por forças ligadas à segurança de Estado em Angola. Não é possível qualquer outra instituição ter operado nesta dimensão”.

Com base na acusação, Adalberto da Costa Júnior explica que “a opressão pública é muito forte, daí a nossa permanente intervenção e exigência de responsabilidade particularmente das instituições ligadas à Presidência da República”.

Autora: Nádia Issufo - Edição: Glória Sousa / Cristina Krippahl

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