Liberal (cv), com foto
Centrais sindicais e Governo aguardam resultado eleitoral
Governo e sindicatos parecem aguardar com expectativa o dia 1 de Julho, altura em que se saberá se o cartão vermelho das ruas tem, também, expressão nas urnas. E José Manuel Vaz, ouvido pelo Liberal, denuncia que, ao mesmo tempo que os trabalhadores recebem salários de miséria, há dirigentes a receber salário, reforma e, ainda, aposentadoria do Estado português, para além de milionárias ajudas de custo
Praia, 10 de Junho 2012 – Nove dias após as manifestações de 1 de Junho, o Governo continua sem dar um sinal que indique a intenção de se sentar à mesa das negociações com os parceiros sociais, particularmente com as centrais sindicais que, em Novembro último se colocaram de fora do acordo de concertação social. No entanto, na véspera de os trabalhadores saírem à rua, o executivo de José Maria Neves havia dado um ténue sinal de que estaria disposto ao diálogo. Sinal esse que levou os líderes sindicais a não anunciarem uma data para a greve geral do palco fronteiro ao Estádio da Várzea, como era sua intenção dias antes de os trabalhadores saírem às ruas.
Percebe-se hoje – e disso têm consciência os sindicalistas – que, falhado o recurso à intimidação dos trabalhadores, de que o caso dos professores foi mais evidente, José Maria Neves procurou jogar uma última cartada que lhe permitisse ver adiadas as manifestações e ganhar tempo para se socorrer de um qualquer outro recurso que possibilitasse afastar o protesto mesmo em cima de umas eleições autárquicas, de cujo resultado depende a sua sobrevivência política como líder do PAICV.
As centrais sindicais continuam a querer negociar e, segundo José Manuel Vaz disse ao Liberal, querem dar “nova oportunidade ao Governo”, no entanto dá um alerta vermelho: “se o Governo não quiser sentar-se à mesa, avançamos mesmo para a greve geral, até porque há uma vontade expressa dos trabalhadores em relação a isso”.
TRABALHADORES QUEREM AVANÇAR
O líder sindical refere que a vontade de avançar para essa forma de luta, tem acolhimento generalizado na Administração Pública, mas também nos institutos públicos, em empresas participadas e, ainda, em várias empresas privadas, mas reconhece que, nestas últimas, a mobilização não é tão forte, porquanto em várias delas houve aumentos salariais e o 13º mês já está informalmente instituído.
Não dando um prazo preciso, Vaz adianta ainda que a intenção do Governo a uma possível negociação terá de ser anunciada ainda este mês, um prazo que considera suficiente para que José Maria Neves dê um sinal claro. E, nesta matéria, a data de 1 de Julho parece central no desenvolvimento de todo o processo. Quer as centrais sindicais, quer o próprio Primeiro-ministro, parecem aguardar o resultado das eleições autárquicas para decidirem o próximo passo. Se o partido do poder perder as eleições, o cartão vermelho das ruas sai reforçado com o cartão vermelho do sufrágio. Mas, caso o PAICV consiga vencer, José Maria Neves poderá alegar o reforço da legitimidade democrática e continuar de costas voltadas ao diálogo e intransigente quanto a cedências aos sindicatos. No entanto, ninguém admite claramente o compasso de espera…
De qualquer modo, e até ver, quem saiu reforçado pelo protesto de 1 de Julho foram as centrais sindicais que, nas vésperas, não querendo avançar com uma previsão de participação que poderia ser “uma armadilha”, acreditaram sempre numa expressão massiva de descontentamento laboral que se traduziu em cerca de 13 mil participantes nas ruas de Santiago, São Vicente, Fogo e Sal. E José Manuel Vaz admitiu mesmo terem ficado “surpreendidos com esta participação tão expressiva” e convencidos de que tal constituiu, também, um sinal de apoio à acção dos líderes sindicais. Um sinal também entendido pelo Primeiro-ministro, que se tem recusado a comentar publicamente as manifestações.
CONTRA O “QUERO, POSSO E MANDO”
O líder da CCSL está convicto que “com a participação dos trabalhadores, poderemos mudar muita coisa em Cabo Verde”, contra um Governo que se afirma do “quero, posso e mando”, e diz claramente que o sinal dado pelos trabalhadores foi no sentido de que “há outras vozes” e que as centrais sindicais pretendem “trabalhar com as vozes dos trabalhadores para dizer que as coisas não podem continuar como o Governo tem feito até agora, terá que mudar”…
Chamando a atenção para que estas foram “as primeiras manifestações do género realizadas em Cabo Verde”, Vaz enfatiza o facto de a expressão numérica ter surpreendido as centrais sindicais, para admitir que a posição destas saiu reforçada e que o caminho de luta já não tem retorno.
HÁ MEMBROS DO GOVERNO A RECEBER REFORMAS PORTUGUESAS…
Contrariando a ideia avançada pelo Governo de que a situação económica do país não permitiria avançar com aumentos salariais, como o 13º mês e o salário mínimo, José Manuel Vaz contrapõe com os “salários milionários” pagos a assessores da Administração Pública, administradores e dirigentes de empresas participadas, para além de membros do Governo em situação de reforma, acumulando salário de governante com aposentadoria e, nalguns casos, indo ainda buscar reformas pagas pelo Estado português que remontam ao tempo colonial. E, não querendo avançar com nomes, adianta que “dois ou três membros do gabinete estão nesta situação”. Uma situação extensiva a directores-gerais e administradores de empresas que serviram a administração colonial. O que não deixa de ser curioso… e se confronta com a perda do poder de compra dos trabalhadores que, “nos últimos anos, caiu 18 por cento”.
“Há pessoas que estão na Administração Pública, nas empresas participadas e nos institutos, com salários exorbitantes e ajudas de custo milionárias e milhares de trabalhadores com salários de miséria, sem poderem satisfazer a suas necessidades básicas, remata o líder da CCSL, para quem importa reverter a situação e implementar justiça social.
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