Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
O comissário do Conselho da Europa para os direitos humanos alertou hoje, obviamente sem a necessária consulta ao governo, que há crianças portuguesas a emigrar para trabalhar por causa da crise e famílias a retirar idosos das instituições para beneficiar das suas reformas.
Muito gostam estes comissários de meter o bedelho onde não são chamados. Se ao menos tivessem consultado o ministro Miguel Relvas, ainda se poderia aceitar. Assim não. Escrever seja o que for sem consultar os donos da verdade é, creio, um crime contra a segurança do Estado e que avilta a boa governação do sumo pontífice do reino lusitano.
Os alertas do comissário Nils Muiznieks surgem num relatório que resulta de uma visita a Portugal, entre 7 e 9 de Maio, durante a qual se debruçou sobre o impacto da crise e das medidas de austeridade sobre os direitos humanos.
Essa de ligar a crise aos direito humanos não lembraria ao Diabo. Desde quando os escravos têm direitos? Aliás, embora voluntariamente amarrados, os escravos apenas estão a dar o seu contributo para o bem do reino, desde logo aprendendo a viver sem comer e a morrer sem ir ao médico.
"Durante a sua visita, o comissário foi informado de que, desde o início da crise, tem havido casos de crianças a migrar por motivos de trabalho para outros estados-membros da UE", pode ler-se no relatório de 18 páginas onde se afirma, citando especialistas, organizações da sociedade civil e sindicatos ouvidos pelo comissário, que "a crise financeira, o aumento do desemprego e a diminuição das fontes de rendimento das famílias devido às medidas de austeridade levaram as famílias a fazer novamente uso do trabalho infantil, nomeadamente no sector informal e na agricultura".
Não creio que seja assim. Os especialistas devem ser todos da oposição. Só pode. Que necessidade tinham os desempregados (um milhão e duzentos mil) de pôr os filhos e os netos a trabalhar nos caixotes do lixo para catar alguns restos de comida? Se o governo assegura, de vez em quando, um prato de farelo, o que é que eles querem mais. Sim, o que é que querem? Se calhar queriam ter pelo menos uma refeição por dia. Esquecem-se que não foi para isso que Passos Coelho foi eleito.
Recordando que o país (e este é um erro crasso, já que Portugal não passa de um lugar muito mal frequentado) regista uma elevada taxa de abandono escolar, o comissário apela às autoridades portuguesas (como se elas não tivessem mais o que fazer) que monitorizem a evolução deste problema e que não descontinuem programas que visam prevenir o trabalho infantil.
Pois é. Nils Muiznieks esquece-se que, como diz um velho ditado luso, é de pequenino que se torce o pepino. Ou seja, é de pequenino que se ensinam os futuros escravos a pensar com a barriga… vazia.
O responsável refere-se, por exemplo, ao Programa Integrado de Educação e Formação, que visa prevenir o trabalho infantil, alertando ter sabido, durante a sua visita, de que este "poderá ser descontinuado".
Pode e deve ser descontinuado. As crianças só interessam desde que haja a garantia de que podem, desde que nascem, sujeitar-se à remoção da coluna vertebral. E para isso, nada melhor do que começarem a vergar a mola logo que abandonam o ventre da mãe.
Nils Muiznieks manifesta também preocupação com relatos de que a pobreza infantil está a aumentar em Portugal, como consequência do aumento do desemprego e das medidas de austeridade, nomeadamente os cortes nos abonos de família.
En tão o que é que queria? Se o governo tem de fazer cortes, tem de começar por algum lado. Ou será que estava à espera de cortes no ordenado, por exemplo, de António Mexia, Faria de Oliveira, Eduardo Catroga? Francamente!
O comissário teme que as medidas de austeridade dos últimos dois anos ameacem seriamente as melhorias alcançadas na última década e apela às autoridades que tomem particular atenção ao possível impacto da crise no trabalho infantil e na violência doméstica contra as crianças.
Tretas. São tudo teses para atazanar o profícuo trabalho de impolutos cidadãos que tudo fazem para, com êxito, acabar com o cerne dos problemas (os portugueses) e tornar o reino cada vez mais próximo dos mais desenvolvidos países do norte… do Burkina Faso.
Diz o comissário que com "uma situação socioeconómica cada vez mais difícil para as famílias, que são sujeitas a elevados níveis de 'stress' e pressão, pode resultar em sérios riscos de violência doméstica contra as crianças".
Poder pode. É, aliás, isso que já acontece com fartura. Falta, no entanto, perceber que o importante para o governo português não é a sociedade que está a destruir mas, antes, a que quer construir. E um estado esclavagista só se pode construir com as regras que Passos Coelho tão bem conhece e melhor pratica.
O risco de violência doméstica afecta também os idosos, alerta o responsável, que diz ter tido conhecimento de que muitos casos de violação dos direitos humanos, incluindo violência, "resultam de famílias que estão a retirar os idosos das instituições e a levá-los para casa para poderem beneficiar das suas pensões.
"Interlocutores do comissário que trabalham com idosos relataram um aumento dos casos de extorsão, maus-tratos e por vezes negligência depois de idosos com problemas de saúde serem retirados das instituições", especifica o texto, que cita números da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima que atestam um aumento de 158% no número de casos de violência contra idosos entre 2000 e 2011.
É. Se o futuro passa por acabar com os portugueses, manda a lógica do governo que os primeiros a desandarem sejam os idosos. Tudo, está previsto até ao mais ínfimo pormenor.
O comissário reconhece que o programa de emergência social, lançado pelo governo no ano passado, inclui uma série de medidas que visam mitigar os efeitos da austeridade nos idosos, mas considera que, sozinhas, estas medidas "podem não ser suficientes para responder de forma abrangente às crescentes dificuldades que enfrentam muitos idosos".
Entretanto, Passos Coelho e os eus muchachos continuam a cantar e a rir. E não se cansam dos sucessivos orgasmos que têm por tanto foderem a cabeça aos portugueses.
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: DIZEM QUE É UMA ESPÉCIE DE DEMOCRACIA
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