Orlando Castro*, jornalista – Alto Hama*
O “querido líder” de Angola, também conhecido por “o escolhido de Deus”, está triste. O índice de bajulação de Portugal sofreu uma quebra, embora transitória.
Eduardo dos Santos pode estar descansado. Lisboa sabe que o MPLA vai ganhar e até já tem escrito o discurso de felicitações. Apesar disso, o presidente de Angola é “macaco velho” e sabe que, como é hábito, os dirigentes portugueses têm várias cópias do mesmo discurso em que só falta pôr o nome do partido e do presidente...
De facto, não há membro do governo português que se preze que não inclua Luanda no seu estratégico roteiro. Portugal – dizem alguns “velhos do Restelo” - podia viver sem Angola. Mentira. Ou por outra, poder… podia, mas não era a mesma coisa.
Já perdi a conta aos bajuladores que Lisboa manda para Luanda de mão estendida, alguns mais do que uma vez. Mas já por lá passaram o secretário de Estado do Ensino e da Administração Escolar, João Casanova de Almeida. Dos onze ministros, só quatro não realizaram (vou certamente pecar por defeito) visitas oficiais a Angola: Aguiar Branco (Defesa), Paula Teixeira da Cruz (Justiça), Mota Soares (Solidariedade e Segurança Social) e Paulo Macedo (Saúde).
Esta é, aliás, uma grave lacuna no curriculum de todos quantos ainda não foram beijar o anel do sumo pontífice. E, além disso, não faz sentido algum. Sobretudo porque a lagosta é de alta categoria e o povo que come, quando come, farelo ou mandioca até está longe dos mais luxuosos hotéis onde ficam os ilustres convidados.
Quando, no início de Maio, o ministro angolano Manuel Vicente, ex-representante do rei na Sonangol - disse que o investimento directo em Portugal deixou de ser uma prioridade, cabendo aos empresários privados “encontrarem oportunidades”, soaram todos os alarmes lusos, no governo e na presidência.
Cavaco Silva, também ele um ilustre sipaio ao serviço de sua majestade D. Eduardo dos Santos, e Passos Coelho ficaram em pânico.
E é para, entre outros salamaleques, tentar convencer o regime angolano que ser dono de Portugal é fácil, barato e até pode dar milhões que lisboa incumbiu do frete o ministro Álvaro Santos Pereira.
Paulo Portas foi ai beija-mão e abriu logo a picada para o acordo sobre as novas regras dos vistos e, ao que parece, uma autoestrada para “doar” o BPN. Resultou bem.
Seguiu-se Miguel Macedo, em Novembro. Sem nada de espectacular, sempre assinou acordos de cooperação e de facilitação da circulação de cidadãos entre os dois países.
Chegou, entretanto, a vez – também em Novembro – do sumo pontífice lisboeta (africanista de Massamá), Pedro Passos Coelho. Acompanhado pelo secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação, foi recebido pelo soba maior a quem garantiu todas as facilidades nas privatizações da TAP, ANA, CTT, transportes, RTP e no que der mais jeito a Luanda.
Seguiu-se o super-ministro Miguel Relvas, em Janeiro, que ofereceu aos seus colegas do regime angolano acordos entre a Agência Lusa e o grupo Medianova e entre a RTP e a TPA. Determinou, aliás, a feitura de um programa publicitário (mascarado de informação) na RTP que ajudou a lavar a imagem do regime.
Para dar continuidade à obra de submissão e bajulação ao regime, em Março foi a vez de Assunção Cristas rumar em direcção à capital do reino. Mais uma vez deixou a garantia de que a empresa Águas de Portugal só não será do clã Eduardo dos Santos se ele não quiser. Rogou, contudo, para que queira…
Ainda em Março, lá foi Vítor Gaspar, acompanhado pela secretária de Estado do Tesouro e das Finanças e o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais. Resultado? Para além das lagostas e seus sucedâneos ficou a certeza de que Galp rima com MPLA.
Para mais uns tantos acordos, com a mão estendida, foi também Nuno Crato que quis convencer Angola a ratificar o Acordo Ortográfico. Não convenceu. Aliás, a ortografia do regime angolano não é em português mas, isso sim, em dólares. Em Abril Francisco José Viegas teve a mesma resposta.
Álvaro Santos Pereira quando vai a Angola leva na mão direita assuntos relevantes, como energia, transportes e obras públicas, tendo a esquerda livre para trazer muitos dólares ou, pelo menos, a garantia de que o reino de Eduardo dos Santos não vai esquecer a sua colónia portuguesa (ou será protectorado?).
* Orlando Castro, jornalista angolano-português - O poder das ideias acima das ideias de poder, porque não se é Jornalista (digo eu) seis ou sete horas por dia a uns tantos euros por mês, mas sim 24 horas por dia, mesmo estando (des)empregado.
Título anterior do autor, compilado em Página Global: SEM EDUARDO DOS SANTOS SERÁ O FIM (como diz o general “Black Power”)
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