quarta-feira, 15 de agosto de 2012

TAUR MATAN RUAK, UM PRESIDENTE ATENTO E A SÉRIO EM TIMOR-LESTE?



António Veríssimo

O governo tomou posse sem a foto da praxe com o primeiro-ministro integrado, mas os presentes resolveram o assunto da melhor maneira. Começou tudo muito bem e o benefício da dúvida até talvez possa ser oferecido ao novo governo se souber ser realmente novo, diferente, competente e honesto. Vamos nesse espírito nos primeiros 100 dias. Depois…

Em Timor-Leste o V Governo Constitucional tomou posse. Para além dos respetivos juramentos de fidelidade à Constituição e assinaturas dos futuros governantes a cerimónia de posse terminou sem a costumeira fotografia da praxe integrando o primeiro-ministro, todos os membros do governo e o presidente da República. Estranho. Houve foto mas sem PM. Por isso vimos justificações para todos os gostos.

Salientem-se três causas: “Que o elenco governativo é enorme (55) e que não cabiam todos na fotografia”, “Que já era tarde e não existiam as condições técnicas (luz) para obter uma fotografia de qualidade”, “Que o PR Taur Matan Ruak foi muito “duro” para com Xanana Gusmão – enquanto PM do governo anterior – e que por essa razão Xanana saiu apressadamente após o término da cerimonia sem avisar”. De todas as mencionadas venha o diabo e escolha.

Claro que é perfeitamente possível fotografar naquelas condições. Olhem a foto. Claro que havia luz e podiam ter conseguido mais luz para fotografar. Claro que o PR Taur foi um bocadinho crítico da má governação do governo anterior e, por consequência, diretamente, critico do primado de Xanana Gusmão. Mas até nem foi demais. Disse algumas verdades sobre os males de que o povo sofre. Deixou entender que não vai pactuar com o tipo de governo que não olha realmente para o país e para o povo com olhos de ver e agir em conformidade. Deixou recados, vários, mas até nem referiu o mal maior: a corrupção, o conluio, o nepotismo. Nem os roubos descarados que em negociatas certas e incertas têm permitido que uns quantos se encontrem neste momento, cinco anos depois, podres de ricos, enquanto a taxa de subalimentados, de esfomeados, subiu durante a vigência e primado de Xanana Gusmão-AMP-Ramos Horta. Subiu e põe Timor-Leste no terceiro país mais carenciado. Ainda há dias aqui foi isso noticiado. Diretamente Taur nem referiu isso, a fome que muitos do povo têm. Disse o que disse a rasar os assuntos que considerou dever abordar. Mas Xanana Gusmão não gostou e saiu apressadamente, sem avisar como devia que para ele a cerimónia tinha terminado porque amuara (no mínimo).

Ao contrário daquilo que era esperado Taur demonstrou que apesar de ter sido um candidato de Xanana (como aqui dissemos durante anos) não lhe deve rigorosamente nada e que o apoio à sua candidatura presidencial não vai ser objeto de, por isso, não cumprir as suas funções de acordo com o que interessa ao povo timorense, à República, ao país. Se necessário pressionando o governo para a prática de medidas mais adequada aos interesses soberanos dos governados. Esta é a leitura que podemos fazer para o futuro da presidência de Taur Matan Ruak. Por outras palavras deixou transparecer que ele não é Ramos Horta e que na vigência da sua presidência não vai aparar golpes, nem fazer que está tudo bem se não estiver. Muito menos vai aquiescer perante teimosias, jogadas e birras de Xanana Gusmão.

Sendo verdade que quando um governo inicia a sua atividade é merecedor do benefício da dúvida, não é menos verdade que este governo – infelizmente - não pode trazer nada de muito diferente do anterior. As máfias estão instaladas, Xanana está comprometido com imensas “cláusulas” do passado governativo e para além disso… Que beneficio da dúvida merece um governo mal pintado de novo? É que até neste já há camadas de tinta que estão a estalar ainda antes de tomarem posse. Mas vamos ver, expectantes. De preferência fazendo figas para que tudo seja diferente, honesto, justo, transparente… Há casos em que nem as moscas mudaram no elenco governativo. Sejamos positivos. Com este governo não vai haver mais corrupções, os que roubaram milhões aos timorenses vão devolvê-los e pelo seu próprio pé entregarem-se às autoridades. Esperemos que não exagerem. Um pouco de ironia não faz mal a ninguém.

Sem ironia, no ato de posse, recordemos, Taur Matan Ruak tocou em aspetos essenciais da péssima governação de Xanana e seu séquito no governo anterior. Taur olhou para o país e viu o que aqui no TLN tem sido denunciado até à exaustão. Ele olhou com olhos de ver e disse em seu discurso – que publicámos na íntegra no TLN:

"No entanto, quando olhamos ao nosso redor para analisar a situação do país, o que vemos?

Vemos níveis muito baixos de renda, um tecido económico frágil, a dependência externa alta, baixos níveis de infra-estruturas, desenvolvimento regional desequilibrado, com o crescimento urbano desregrado e grandes diferenças entre as cidades com as áreas rurais, baixos níveis de bem-estar, uma fraca estrutura administrativa e um baixo desenvolvimento técnico e científico.”

O que Taur não disse foi que apesar de existir tanta desgraça os milhões de dólares foram alegadamente gastos em prol do melhor para o país. Os dólares desapareceram e obra… Não se vê.

Também o ministro da educação, Câncio Freitas, dizia que tudo estava funcionar pelo melhor e nas melhores perspetivas. Mas Taur disse, e é verdade.

“Nossas escolas operam sem quase nenhum equipamento com professores por conta própria em aldeias e paróquias de todo o país que dispõem de quase nenhuns manuais e outros materiais didáticos. O ensino técnico e profissional abrange um pequeno percentual de estudantes, bem abaixo das necessidades do desenvolvimento económico futuro.”

A agricultura, que tanta propaganda desonesta a mimou, com exibições de magotes de tratores e outras aparelhagens. Onde estão? E as “luvas”?... Também a agricultura estava no bom caminho, tudo do melhor… Há fome mas em contrapartida há produtos agrícolas e outros a estragarem-se. Mas Taur Matan Ruak viu, como todos nós, e disse:

“A produção agrícola do país é pobre e os agricultores não dispõem de recursos para o transporte de produção agrícola e pecuária para o mercado. Excedentes agrícolas, sempre que eles existem, muitas vezes se deterioram e apodrecem por falta de condições de armazenamento adequadas.”

O “monstro” Estado que o governo de Xanana criou foi desenhado para uns quantos se servirem e não para servir o povo e o país. Ficou provado. Era assim que lhes convinha. É assim que convém sempre às admnistrações corruptas, desonestas. Isso, deste modo, Taur não disse (nem devia) mas foi muito taxativo quando afirmou que o estado não está a "cumprir para a grande maioria do povo timorense”. Disse mais:

“As instituições do Estado estão a contribuir para o desenvolvimento desequilibrado do território. A nossa administração está centralizada com pesadas e grandes estruturas na capital, muitas vezes prestando serviços de má qualidade, e é quase ausente nos distritos onde a maioria da população vive e onde a privação social e económica é maior. O Estado não está cumprindo para a grande maioria do povo timorense.”

Ora talvez por tal discurso tenhamos a razão porque Xanana Gusmão não esteve disposto a fotografias. É que com a enorme cabeça com que ficou não cabia na fotografia. O seu candidato presidencial afinal não é seu, é de Timor-Leste, e foi honesto, objetivo, foi um presidente da República de todos os timorenses e não só de alguns que constituem uma elite desmesuradamente gananciosa e desonesta que floresceu no primado de Xanana Gusmão-José Ramos Horta.

Não será agora que veremos aqui abordado o caso – talvez pré-fabricado – da indigitada ministra da Defesa, Micato, que depois deu azo a polémicas ainda não terminadas. Lá iremos. Sobre isso talvez não seja de todo errado experimentarmos fazer um exercício. Xanana indicou aquela senhora para ministra daquela pasta, defesa, Taur sublinhou não concordar nem aprovar. Quem considera que Taur tomou aquela decisão por machismo? Descabido. Porque terá sido tudo isto? Lá iremos. Reparem no pré-fabricado.

Que Xanana Gusmão não dá ponto sem nó, isso não dá. Que é um animal político sem pejo de sujar as mãos e o que mais for necessário para depois esgueirar-se airosamente, já vimos. Por tudo isso, parece que temos Presidente atento e a sério em Timor-Leste. É essa a esperança e o acreditar em Timor-Leste.

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