Fernando Santos –
Jornal de Notícias, opinião
Finou-se o embalo
por cantos de sereia. Durante anos e anos o povo viveu entre o comodismo
próprio de quem alija responsabilidades de cidadania e a conversa da treta de
um vasto naipe de governantes ou candidatos a. Enquanto a balbúrdia do
novo-riquismo permitiu distribuir o bodo aos pobres, foi um ver-se-te-avias.
Mentira daqui, mentira dali, inimputabilidade mais à direita ou mais à
esquerda, a degradação da classe política e a sua vassalagem e submissão a
interesses económicos e fácticos foram sobrevivendo. Mas tudo tem um fim,
incluindo o regabofe e a paciência dos credores.
O resultado aí
está: a esmagadora maioria dos portugueses descolou pura e simplesmente dos
governantes e de hipotéticas alternativas. Nunca como agora foi a crispação do
povo tão notória com os atuais ou anteriores dirigentes político-partidários.
Quer vê-los pelas costas.
O que fazer,
instalada a revolta e a descrença? - não por acaso 87% dos portugueses estão
desiludidos com a Democracia, como ficou plasmado na sondagem da Universidade
Católica ontem publicada pelo JN.
A resposta está
longe de valer um milhão de dólares, mas os sintomas dos últimos dias não
auguram nada de bom. Não obstante centenas de milhares de portugueses terem
mostrado um cartão entre o amarelo e o vermelho aos partidos na manifestação do
último sábado, raríssimos foram os casos já registados de políticos a
manifestarem entendimento do desagrado. Entretida no casa e descasa de uma
coligação ou à espreita de uma oportunidade para vincar alternativas sem
escrúpulos, a classe política continua autista, interesseira, esgrimindo
argumentos bacocos.
Já falta pouco para
se concluir pelo falecimento desta República.
O único remédio não
passa só pela colagem dos cacos deixados pelos últimos anos de má direção - nos
governos, na Presidência da República, na Assembleia da República. Urge
recredibilizar o sistema político, etapa por etapa, mas depressa.
Hoje, por exemplo,
entre as guerras de alecrim e manjerona, todos estão muito esperançados na
reunião do Conselho de Estado, convocada pelo presidente da República e na
qual, logo à partida, se comete um erro de palmatória: "convidar" o
ministro das Finanças, Vítor Louçã Gaspar (como anteontem a ele se referiu
Alberto João Jardim) para dar explicações a um naipe de conselheiros igualmente
coniventes, agora ou em fases recentes, com o estado de degradação do país.
O Conselho de
Estado será um ponto de partida para a regeneração da classe política?
Além das frases
cifradas de um comunicado final, a reunião só resultará se os
"senadores" presentes tiverem a coragem de assinar um pedido de
desculpas pelo colaboracionismo - ativo ou passivo - na degradação da situação
do país. E se forem capazes, em simultâneo, de iniciar uma nova vida pública.
Não subjugada ao poder económico ou de outra natureza obscura. Ou secreta.
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DO CONSELHO DE ESTADO (Belém – Lisboa)
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