sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Portugal: PERDÃO DO CONSELHO DE ESTADO?

 


Fernando Santos – Jornal de Notícias, opinião
 
Finou-se o embalo por cantos de sereia. Durante anos e anos o povo viveu entre o comodismo próprio de quem alija responsabilidades de cidadania e a conversa da treta de um vasto naipe de governantes ou candidatos a. Enquanto a balbúrdia do novo-riquismo permitiu distribuir o bodo aos pobres, foi um ver-se-te-avias. Mentira daqui, mentira dali, inimputabilidade mais à direita ou mais à esquerda, a degradação da classe política e a sua vassalagem e submissão a interesses económicos e fácticos foram sobrevivendo. Mas tudo tem um fim, incluindo o regabofe e a paciência dos credores.
 
O resultado aí está: a esmagadora maioria dos portugueses descolou pura e simplesmente dos governantes e de hipotéticas alternativas. Nunca como agora foi a crispação do povo tão notória com os atuais ou anteriores dirigentes político-partidários. Quer vê-los pelas costas.
 
O que fazer, instalada a revolta e a descrença? - não por acaso 87% dos portugueses estão desiludidos com a Democracia, como ficou plasmado na sondagem da Universidade Católica ontem publicada pelo JN.
 
A resposta está longe de valer um milhão de dólares, mas os sintomas dos últimos dias não auguram nada de bom. Não obstante centenas de milhares de portugueses terem mostrado um cartão entre o amarelo e o vermelho aos partidos na manifestação do último sábado, raríssimos foram os casos já registados de políticos a manifestarem entendimento do desagrado. Entretida no casa e descasa de uma coligação ou à espreita de uma oportunidade para vincar alternativas sem escrúpulos, a classe política continua autista, interesseira, esgrimindo argumentos bacocos.
 
Já falta pouco para se concluir pelo falecimento desta República.
 
O único remédio não passa só pela colagem dos cacos deixados pelos últimos anos de má direção - nos governos, na Presidência da República, na Assembleia da República. Urge recredibilizar o sistema político, etapa por etapa, mas depressa.
 
Hoje, por exemplo, entre as guerras de alecrim e manjerona, todos estão muito esperançados na reunião do Conselho de Estado, convocada pelo presidente da República e na qual, logo à partida, se comete um erro de palmatória: "convidar" o ministro das Finanças, Vítor Louçã Gaspar (como anteontem a ele se referiu Alberto João Jardim) para dar explicações a um naipe de conselheiros igualmente coniventes, agora ou em fases recentes, com o estado de degradação do país.
 
O Conselho de Estado será um ponto de partida para a regeneração da classe política?
 
Além das frases cifradas de um comunicado final, a reunião só resultará se os "senadores" presentes tiverem a coragem de assinar um pedido de desculpas pelo colaboracionismo - ativo ou passivo - na degradação da situação do país. E se forem capazes, em simultâneo, de iniciar uma nova vida pública. Não subjugada ao poder económico ou de outra natureza obscura. Ou secreta.
 
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FACEBOOK – CONCENTRAÇÃO: REUNIÃO DO CONSELHO DE ESTADO (Belém – Lisboa)
 

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