Mutilação genital
feminina ainda afeta metade das mulheres da Guiné-Bissau - Governo
03 de Outubro de
2012, 13:54
Bissau, 03 out
(Lusa) - A Mutilação Genital Feminina afeta 50 por cento das mulheres na
Guiné-Bissau, um ano depois de aprovada uma lei que a proíbe, alertou hoje em
Bissau o ministro da Saúde do Governo de transição, Agostinho Cá.
"Não é
admissível que a cultura seja utilizada como justificação para o sofrimento de
parte da população", disse o ministro, na abertura da "Conferência
Islâmica para o abandono da mutilação genital feminina", que durante dois
dias junta em Bissau especialistas sobre a prática, muito comum especialmente
em África.
Domingas Gomes,
presidente de uma organização não-governamental (Sini Mira Nassique) que há
mais anos luta contra a prática da excisão na Guiné-Bissau, concorda com o
número apresentado pelo ministro, exponenciado pela presença de populações de
países vizinhos.
Num inquérito feito
pela ONG no ano passado resultou que 44,5 por cento das mulheres guineenses
eram mutiladas, mas neste momento a responsável acha que pode ser 50 por cento,
"por causa de pessoas dos países vizinhos que estão a excisar as suas
crianças às escondidas".
Também presidente
do projeto DJINOPI (Djintis nô pintcha, que em português quer dizer
"Pessoal, vamos em frente"), que junta organizações que lutam contra
a excisão genital feminina e que é apoiada pelo WFD (Weltfriedensdienst,
Serviço Comunitário para a paz mundial, de origem alemã), Domingas Gomes
garante: apesar da lei que a proíbe, a excisão continua a ser feita na
Guiné-Bissau.
"Sabemos que
não há aquele número de barracas (para praticar a excisão) como antes, mas
continuam a fazer a excisão feminina às escondidas", e agora "de
forma muito mais perigosa" porque sem controlo, disse a responsável,
considerando que a lei (de setembro de 2011) é importante mas que o
"trabalho essencial" é a sensibilização das comunidades.
"Se têm
conhecimentos vão deixar de fazer mas por causa da lei não estão a cumprir. Só
com a lei vão continuar a fazer aquilo que querem, porque mutilar uma criança
no seu quarto ninguém vai saber. O pilar mais forte é consciencializar",
advertiu.
Por isso,
considerou que é importante trabalhar com os líderes religiosos, que "são
pessoas credíveis nas suas comunidades". E esse é o objetivo da
conferência que hoje começou, apoiada pelo DJINOPI mas também pela TARGET,
outra organização não-governamental alemã que luta contra a mutilação, pelas
Nações Unidas e pelo Conselho Superior dos Assuntos Islâmicos da Guiné-Bissau.
Nela vão
participar, ao longo de dois dias, nomes como Mohamed Shama, professor de
estudos islâmicos no Egito, Mahamadou Diallo, presidente da Associação Maliana
para a Paz e Saúde, Muhamadou Sanuwo, imã gambiano, ou Ousmane Sow, da Rede
Islâmica e da População, do Senegal.
Pela
TARGET-Direitos Humanos estão Tarafa Baghajati (consultor) e o próprio
presidente da organização, Ruediger Nehberg. E também Tcherno Embaló,
presidente do Conselho Superior dos Assuntos Islâmicos na Guiné-Bissau, e Malam
Djassi, vice-presidente do Comité Nacional para o Abandono das Práticas
Nefastas contra a Mulher e a Criança.
Do trabalho que
produzirem em dois dias espera-se que saia uma declaração (Fatwa), anunciada na
próxima sexta-feira numa das mesquitas de Bissau.
A UNICEF estima que
a excisão genital, o corte do clitóris, é uma prática que atinge 45 por cento
das guineenses entre os 07 e os 12 anos. A excisão pratica-se essencialmente
pela comunidade islâmica, mas também por alguns grupos animistas.
Na Guiné-Bissau a
prática é mais frequente na zona leste, nas regiões de Bafatá e Gabu. Também se
pratica nas regiões de Oio e Cacheu (norte), Quinara, Tombali (sul) e
Bolama-Bijagós. É transversal praticamente a todas as etnias.
FP // VM.
Guiné-Bissau não
merece o que aconteceu na ONU - Presidente de transição
03 de Outubro de
2012, 18:55
Bissau, 03 out
(Lusa) - O Presidente de transição da Guiné-Bissau, Serifo Nhamadjo, afirmou-se
hoje "muito triste" por ter sido impossibilitado de falar nas Nações
Unidas e disse que o país "não merece" o que se passou na semana
passada na ONU.
Serifo Nhamadjo
chegou hoje a Bissau depois de ter estado em Nova Iorque, com a intenção de
discursar na 67.ª sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas.
No entanto, quem
foi credenciado para representar o país foi Raimundo Pereira, Presidente
interino deposto no golpe de Estado de 12 de abril passado e que vive
atualmente em Portugal.
*O título nos
Compactos de Notícias são de autoria PG
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sobre Guiné-Bissau (símbolo na barra lateral)
1 comentário:
Sim Senhor Jornalista, "quem foi credenciado para representar o país foi Raimundo Pereira, Presidente interino deposto no golpe de Estado de 12 de abril passado e que vive atualmente em Portugal", fim da citação e do seu artigo. E em seguida... discursou ou não? E se sim ou não, por que razão? Um abraço. Amizade.
A. Keita
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