Chefe das Forças
Armadas da Guiné-Bissau adverte contra regresso de PM deposto
04 de Outubro de
2012, 15:25
Bissau, 04 out
(Lusa) - O chefe de Estado Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau, António
Indjai, advertiu, em entrevista à revista "Time" divulgada hoje,
contra o regresso ao país do primeiro-ministro deposto, Carlos Gomes Júnior.
António Indjai
afirmou que se Carlos Gomes Júnior regressar à Guiné-Bissau, isso será da sua
própria responsabilidade e das Nações Unidas.
O chefe das forças
armadas guineenses defendeu também que devia ter sido o Presidente de
transição, Serifo Nhamadjo, a discursar na Assembleia-geral das Nações Unidas,
porque "é o mandatário do povo neste momento", e acusou as Nações
Unidas de poderem levar o país a uma "guerra civil" ao apoiarem
"os que perderam o poder".
Questionado sobre
as declarações do diretor da agência da ONU sobre Drogas e Crime (UNODC), Yuri
Fedotov, de que houve um aumento de trânsito de droga pela Guiné-Bissau,
António Indjai pediu que fosse provado onde desembarcou droga e onde se vendeu
depois de 12 de abril, acusando o representante da ONU no país, Joseph Mutaboba,
de ser o autor dessas informações e de ser "um bandido".
"Se fosse
governo considerava-o persona non grata e dava-lhe 24 horas para sair do
país", disse na entrevista, hoje difundida em Bissau, nomeadamente pela
Rádio Nacional.
Na mesma linha,
pediu também provas aos "bandidos" que dizem que ele mesmo está
envolvido no tráfico de drogas.
"Como eu me
recusei a obedecer ao Cadogo (Carlos Gomes Júnior) estão a ligar-me com a
droga. Que mostrem a prova. Se tivesse meios queixava-me no tribunal internacional
das pessoas que dizem isso", disse.
Sobre o assassinato
de Nino Vieira, antigo Presidente do país, disse não saber nada sobre quem
esteve envolvido e adiantou, quando questionado se ele mesmo não estava
implicado, que na altura nem era chefe de Estado mas sim comandante no interior
do país. "Perguntem ao Cadogo, ele é que era o primeiro-ministro",
disse.
Sobre um hipotético
envio de uma força multinacional para a Guiné-Bissau, António Indjai salientou
que o mundo não se deve preocupar em enviar tropas para o país mas sim
preocupar-se com países como o Mali ou a Síria.
"Aqui não há
guerra, será que a Síria não faz parte da ONU? O Mali não faz parte? Porque é
que a ONU não se preocupa com esses países que estão em guerra?",
questionou, perguntando mesmo aos jornalistas o que procuram na Guiné-Bissau,
se já viram cadáveres na rua ou se houve confrontos ou tiros em algum local do
país, aconselhando-os depois a irem para o Mali.
Afirmando que as
relações com as autoridades de transição são positivas, e que com os Estados
Unidos também, António Indjai criticou principalmente as Nações Unidas, que
criam problemas no país e que impedem a criação de condições para se fazer
eleições.
"Pensamos que
bastava que o Cadogo ficasse lá fora sossegado para podermos fazer" (eleições),
disse, acusando o primeiro-ministro deposto de ter "um governo
colonial" e "dos tugas".
António Indjai
reconheceu ainda que o golpe de Estado de 12 de abril abortou a democracia,
disse que golpes de Estado não têm lugar no mundo atual, mas justificou-o
dizendo que não havia "outra saída".
Mas, acrescentou,
apenas Raimundo Pereira (Presidente interino) e Carlos Gomes Júnior foram
presos, e também não morreu ninguém, "só um cão".
Na verdade, disse,
os militares não fizeram um golpe de Estado mas sim "um contragolpe",
por causa de Angola e de Carlos Gomes Júnior. Angola, justificou, estava a
colocar armas na Guiné-Bissau, e Carlos Gomes Júnior "ia trazer forças das
Nações Unidas" para atacar as forças armadas da Guiné-Bissau.
FP //JMR.
Sociedade civil e
religiosos poderiam abrir o diálogo na Guiné-Bisau para sair da crise -
Académico
04 de Outubro de
2012, 17:57
Bissau, 04 out
(Lusa) - A criação de um grupo da sociedade civil e religiosos poderia
"abrir o diálogo na procura de soluções" para a crise na
Guiné-Bissau, defendeu hoje na capital guineense o académico Fafali Koudawo.
Doutorado em
Ciências Políticas e reitor da Universidade Colinas de Boé, Fafali Koudawo
disse à Agência Lusa que "era importante a criação que uma entidade não
comprometida" com os conflitos e acrescentou que "já paira no ar a
ideia" de chamar também entidades religiosas, pela credibilidade que têm.
A organização
"Voz di Paz", da qual Fafali Koudawo é um dos dirigentes, fez hoje em
Bissau um debate sobre os desafios do período de transição na Guiné-Bissau,
decorrente do golpe de Estado de 12 de abril, que depôs os dirigentes Raimundo
Pereira, Presidente interino, e Carlos Gomes Júnior, primeiro-ministro.
"A transição
não é clara e quanto tempo dura é uma incógnita", disse o académico,
frisando que o diálogo era o único propósito da iniciativa.
Agnelo Regalla,
líder do pequeno partido União para a Mudança, disse não acreditar que na
Guiné-Bissau haja condições para o diálogo e considerou que o país está
"num atoleiro", porque "as pessoas querem continuar no poder a
todo o custo, mesmo que o país tenha de pagar".
Fernando Mandinga,
antigo ministro e líder do também pequeno partido Aliança Democrática, deixou
igualmente criticas, nomeadamente porque, disse, não há relação entre o Estado
e os cidadãos, e defendeu que deviam ser realizadas eleições autárquicas, antes
mesmo das eleições gerais, previstas para abril do próximo ano.
No entender do
político, devia aproveitar-se a oportunidade do atual período para se fazer uma
transição de facto e não dar prioridade a eleições, porque "depois das
eleições vem mais um golpe de Estado".
"É preciso
rever tudo e é preciso uma nova Constituição", afirmou.
Para Rui Ribeiro,
da organização não-governamental Ação Ajuda e outro dos intervenientes do
debate, "o problema da Guiné-Bissau é que não há limites entre o que se
pode ou não fazer, incluindo pegar em armas e interromper umas eleições".
Rui Landim, também
ex-ministro, deixou outra leitura:
"Precisamos de
que haja crescimento económico, não se pode construir uma democracia em cima da
miséria", disse, defendendo que na Guiné-Bissau não há consensos sobre nada
a não ser sobre o nome do país e a bandeira.
Para a escritora
Odete Semedo, como para Falali, deviam ser organizações sem interesses na crise
da Guiné-Bissau decorrente do golpe de Estado que deviam juntar-se e
"criar um espaço para se pensar numa agenda nacional guineense".
Atualmente, avisou,
a sociedade civil e a população guineense "perderam a voz pelo medo",
porque "as pessoas têm medo de dizer o que sentem e de se juntar".
Num debate em que
muito se falou de diálogo foi um militar, Mama Djaquité, quem falou da
"muralha" que existe entra a sociedade civil e os militares,
considerando que tem de haver diálogo entre os dois lados.
"Estamos
sempre a ser excluídos dos debates", disse.
FP // NV.
*O título nos
Compactos de Notícias são de autoria PG
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