quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Portugal: AGRADEÇAM JÁ AO DR. BORGES

 


 
Ontem os jornais e as televisões falavam mais sobre uma nova argolada do consultor governamental António Borges do que da manifestação que envolveu, na véspera, a mobilização de milhares, não, dezenas de milhares, não, centenas de milhares de portugueses que resolveram ir protestar, outra vez, contra as políticas dos chefes do dito doutor Borges.
 
Não, não estou a criticar a comunicação social, até porque a cobertura à manifestação envolveu meios bem superiores ao habitual e o tom geral, como acontecera na anterior, a 15 de setembro, foi nitidamente favorável aos manifestantes - mesmo, por vezes, em desfavor, reconheço, da isenção que supostamente o jornalismo deve manter.
 
Isto deve ter irritado imenso quem odeia, por ideologia ou diletantismo, esta coisa do "povo que sai à rua" e está habituado, há anos, a deleitar-se com, nas pantalhas dos telejornais, a caricatura (também ela nada independente) deste tipo de participação política, seguida da inevitável menorização nos matutinos do dia seguinte, seguida ainda das previsíveis análises enxovalhantes nos hebdomadários do regime. Até isso a TSU mudou!
 
O que se passa é que o doutor António Borges é notícia irresistível sempre que decide abrir a boca. Ele é uma criança, inocente, que grita "o rei vai nu". Ele é o maluco da aldeia que diz tudo aquilo que o pudor dos aldeões esconde no silêncio cúmplice. Ele é a peneira que não consegue esconder o sol. Ele é o delator dos segredos de polichinelo. Ele é, portanto, notícia, clássica e pura como poucas.
 
Desta vez, depois de ter suspendido a destruição da RTP ao anunciar precocemente uma concessão que irritou meio mundo, depois de ter revelado as escondidas intenções governamentais ao dizer, plácido, que "a diminuição de salários não é uma política, é uma urgência", o homem que conseguiu transformar em anátema o glorioso currículo de quadro de topo da Goldman Sachs e do FMI declarou que os empresários (quase todos) que não gostaram das mudanças pretendidas por Passos Coelho na taxa social única "são uns ignorantes". E aí estão, os ditos empresários, danados contra com quem, afinal, deveria defendê-los!!!
 
Uma das razões, das poucas, que mantêm o Governo no poder é o medo de que a instabilidade política possa vir a ser fatal para a economia deste país aflito. Os que acreditam que, pelo contrário, assim é que o País se trama devem, já, ir a correr a São Bento manifestar-se a favor do doutor Borges, o amigo que ninguém precisa ter... Nem o Governo!
 

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