Daniel Oliveira –
Expresso, opinião, em Blogues
Mais impostos (um
aumento de 34,6%) e mudanças nos escalões. Foi isto que, na tortura para o
bolso e para a paciência a que Vítor Gaspar nos começa a habituar, o governo
veio anunciar.
Do ponto de vista
político, duas coisas ficam claras. O CDS vai ter de fazer um flic flac à
retaguarda para desdizer o que escreveu numa recente carta aos militantes, em
que reiterava a sua oposição ao aumento de impostos, depois do maior de que há
memória. Mas Paulo Portas já nos habituou às suas habilidades acrobáticas. O
governo volta ao ponto em que estaria há um mês, só que com mais custos
políticos. É obra conseguir sofrer, num cenário que já seria desastroso, um
desgaste ainda maior do que o previsível. E esse desgaste resulta de ter
revelado, com a proposta da TSU, o seu verdadeiro programa.
Do ponto de vista
económico, segue o caminho para o abismo. Para além de acentuarem, com a mexida
nos escalões, a enorme desigualdade e injustiça fiscal vigente, dá mais
estucada na economia e nas contas públicas. Mais impostos, menos consumo, mais
falências, mais desemprego, menos receita fiscal, mais despesa social, o défice
a continuar a derrapar. Menos dinheiro na economia, menos crescimento, menos
poupança, mais endividamento externo. Mais défice, mais endividamento público,
juros mais altos... Não há forma de perceberem que este remédio piora a doença
que diz querer curar? Não tira Gaspar nenhuma consequência dos números da
execução orçamental que ele próprio lamenta? Só aprenderá com a realidade
quando chegar o momento em que pura e simplesmente não conseguiremos pagar o
que devemos. E quando, nessa altura, já não existir economia que nos valha,
mesmo sem os custos de uma dívida que inevitavelmente vai ficar por pagar.
Das fantasiosas
análises macroeconómicas de Gaspar, onde exclui tudo o que perturba o seu
raciocínio linear para dali retirar qualquer coisa de positivo; do
extraordinário cinismo que o leva a afirmar que reduzindo os escalões do IRS -
juntando classe média a ricos - e que aumentando brutalmente os impostos sobre
o trabalho está a combater a desigualdade; da propaganda de uma taxação das
transações financeiras que um dia destes, talvez para o ano, irá, quem sabe, se
der, merecer alguma legislação; da impressionante lata em afirmar que "devolve"
subsídios quando rouba um e não dois e, ainda por cima, indo tirar com o IRS o
que não tirou de outra forma... De tudo isto já nem vale a pena falar. É Vítor
Gaspar, que quando toda a gente já percebeu que está a cair no abismo diz, com
o alívio de quem ainda não sentiu o embate no chão, "até agora tudo
bem".
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