Mafalda Ganhão - Expresso
Do percurso
académico às recentes polémicas, que valeram ao atual consultor do Governo para
as privatizações as críticas e a indignação de vários setores. Veja também as
reações a António Borges, que surgem todos os dias.
Em tempos difíceis
para o Governo - e assumindo o protagonismo que justifica ser conhecido como o
12º ministro de Pedro Passos Coelho - o consultor para as privatizações,
António Borges, tem revelado particular habilidade para provocar polémicas.
Tem sido assim cada
vez que se pronuncia sobre uma matéria, seja o anúncio da privatização da RTP,
sejam as afirmações que lhe valeram ser acusado de defender a redução dos
salários em Portugal para fazer crescer a economia, ou a mais recente tirada
classificando de "ignorantes" os "empresários que se
apresentaram contra" a medida da TSU.
Nascido em 1949, no
Porto, António Borges licenciou-se em Economia, na Universidade Técnica de
Lisboa, tendo feito mestrado e doutoramento na Universidade de Stanford, EUA.
Vice-governador do
Banco de Portugal entre 1990 e 1993, cargo do qual se demitiu, na sequência de
um duro braço de ferro com o então ministro das Finanças, Braga de Macedo,
deixou depois o país, rumo a França, onde se tornou reitor da INSEAD, uma das
mais prestigiadas escolas de negócios da Europa.
Para trás deixava
um período de convivência difícil com Braga de Macedo, uma etapa que deixou
marcas na relação entre os dois sociais-democratas - agora, curiosamente, ambos
consultores do Governo.
Saída do Banco de
Portugal em conflito com o ministro
É preciso recuar a
1993 para o entender. Com a economia portuguesa em recessão, o desemprego e a
inflação a subirem, António Borges e o antigo ministro de Cavaco Silva não se
entendiam quanto à execução da política monetária e cambial. Braga de Macedo
acaba por criticar duramente a atuação do Banco de Portugal, num discurso que
muitos responsabilizaram por provocar a subida das taxas de juro, o que
acelerou a desvalorização do escudo e provocou um terramoto na bolsa.
António Borges
resolve demitir-se. Retira-se inicialmente para a sua propriedade alentejana em
Alter do Chão, dedicando-se à agricultura, até partir para França, remetendo-se
por alguns anos à vida académica.
Em 2000 assumiu a
vice-presidência da Goldman Sachs, em Londres (o jornalista do "Le
Monde" escreveu no livro "O Banco - Como o Goldman Sachs dirige o
mundo" que o trabalho de Borges na instituição "é um mistério"),
para mais tarde se tornar director do Departamento Europeu do Fundo Monetário
Internacional, de onde se demitiu em 2011, alegando "razões
pessoais".
Regressa então a
Portugal e, ao assumir as funções de consultor, opta por um desempenho (muito
criticado por alegado excesso de poder) em que o lema, em bom português, parece
ser o de "partir a louça toda".
Como administrador,
passou ainda por várias empresas, entre as quais a Sonae, Petrogal, Jerónimo
Martins (para onde voltou recentemente), Cimpor, Vista Alegre, além do Citibank
e BNP Paribas.
Otimista em relação
ao programa de reajustamento
O sector banqueiro
foi outro dos que manifestou desconforto pelas posições de António Borges, não
só pelo modelo por ele defendido para a capitalização da banca, como na
sequência da ida do consultor à Assembleia da República, em Maio deste ano,
onde defendeu (e explicou porquê) a venda das acções da CGD na Cimpor à
brasileira Camargo Corrêa, ao preço "correto" de 5,5 euros por ação.
António Borges é,
ainda assim, um optimista, que em agosto surpreendeu pelo entusiasmo que levou
à Universidade de Verão da JSD. Em Castelo de Vide o ex vice-presidente do PSD
considerou que "a situação de bancarrota desapareceu" e, garantindo
que "o programa de reajustamento português está a correr melhor do que se
pensava", elogiou-o como aquele que será "um dos ajustamentos mais
rápidos dos últimos tempos em caso de intervenção externa".
Esperam-se novos
capítulos.
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