Marta F. Reis – i online
Um pensador, um
eurodeputado, um deputado, um jovem e uma biliotecária analisam o que traz
Merkel a Portugal
Nota prévia: na
hora de responder a emails, os alemães são mais parecidos com os portugueses do
que com os diligentes anglo-saxónicos, que parecem ter sempre o botão de
resposta debaixo do dedo. O i enviou mais de uma centena de emails a
pensadores, políticos, associações e empresas alemãs e chegaram só cinco
respostas. São todas solidárias com o Portugal que hoje recebe Merkel: um dos
emails foi por lapso parar ao Instituto Goethe, mas em Nova Iorque. Katherine
Lorimer, bibliotecária principal deste símbolo da diáspora alemã, explicou que
está nos EUA há quase 20 anos, pelo que não será a alemã comum e também não
domina por completo a crise. Dito isto, foi directa ao assunto. “Sou a favor
dos resgates, mas não acredito em austeridade. É mais veneno que remédio.”
Ludger Kühnhardt,
director do Centro de Estudos de Integração Europeia, em Bona, agradeceu a
oportunidade para comentar e procurou ser conciliador. Em primeiro lugar, não
há Europa sem solidariedade. Mas ela tem dois sentidos. “Temos de expressar a
nossa solidariedade para com os países em maior dificuldade, mas estes têm de
respeitar o acordo mútuo.” Da mesma forma, a solução europeia exige austeridade,
mas de todos, defende. “Portugal está num caminho duro, mas certo.”
Merkel falou de
mais cinco anos de veneno/remédio. Kühnhardt não quantifica, mas identifica uma
escapatória que tem ficado longe do debate e acredita que deve ser encarada
sobretudo pelos mais jovens. “Os desafios e oportunidades no nosso continente
vizinho África devem ser incluídos na nossa avaliação do futuro. África é o
futuro e nós, na Europa, devemos ligar o desejo de crescimento e estabilidade
com os desejos equivalentes das populações europeias.”
Depois, deixou uma
mensagem mais directa aos portugueses que recebem a chanceler: “Não há
necessidade de depressão. Devemos ver a crise como oportunidade, para avançar
na união política. Portugal é um parceiro respeitado por quem os alemães têm
elevada estima, seja pela sua vocação global, seja pelo seu perfil histórico,
as suas conquistas modernas que incluem a democracia, uma juventude criativa.”
E é isso que, segundo Kühnhardt, se deve extrair das palavras que Merkel vai
deixar no país: “Vai falar disto nos termos abstractos de um chefe de Estado.
Mas vai representar um povo alemão que quer ver Portugal ter sucesso.”
Mais afastado do
mundo académico, o que tem a dizer Jonas Walter, jovem de 26 anos empregado
numa empresa de exportações? “Não considero os portugueses preguiçosos, pobres
ou pouco produtivos. Parecem ser mais relaxados e modestos, penso que terá a
ver com o bom tempo que têm. Também acho que as dificuldades resultam de ser um
país mais pequeno, sofre mais e mais cedo num período de crise económica e
financeira.”
O facto de o
contribuinte alemão ter sido chamado aos primeiros--socorros não merece
contestação. “Não penso que os resgates sejam o grande problema, já que os PIB
de Portugal ou da Grécia não são assim tão elevados tendo em conta a riqueza da
União Europeia.” Ainda assim, diz, há riscos: “O problema é se geram soluções
de curto prazo, em que o problema continua a existir quando podia ser
resolvido.”
Partilhamos com os
nossos destinatários que, à semelhança do que aconteceu com a visita de Merkel
à Grécia, a chanceler será recebida com protestos na rua. Walter desvaloriza:
“Na minha opinião, são mais protestos contra a Europa. Ela parece só ser a
imagem do inimigo.” E a UE merece os protestos já que “parece ser mais cooperante
com as grandes empresas e bancos do que com as pessoas normais.”
Da política, uma
das respostas chegou do deputado Manuel Sarrazin, da Aliança ‘90/Os Verdes. E
embora seja oposição, acredita que a altura de os portugueses se virarem contra
Merkel já passou. “Com certeza que a política da chanceler pode ser criticada
em vários momentos, mas agora é responsabilidade do governo português avançar
com o ajustamento da economia do país.”
Sarrazin não
questiona o resgate, porque a solidariedade faz parte da matriz europeia. Mas
também porque a Europa é interesse de todos. “É parte do interesse alemão que
Portugal saia da sua crise, com reformas fundamentais, consolidação e
investimento no futuro.” Já do Parlamento Europeu, o email recebido tem a
assinatura de Manfred Weber, eurodeputado da União Social-Cristã na Baviera e
vice-presidente do Grupo do Partido Popular Europeu. Weber diz compreender “o
imenso fardo que os portugueses carregam”, especialmente o “de uma dívida pela
qual não são responsáveis” mas remata: “Hoje conseguimos ver a luz ao fundo do
túnel. É muito importante que finalmente tenhamos notícias positivas sobre o
país.”
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