quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Século XXI chegou – o que já se pode ver não augura nada de bom (por via de más escolhas)

Bom dia. Este vai ser o Curto do Expresso do simpático tio Balsemão Impresa também aqui alojado no PG. O título é o da origem e a foto também. Ali são enquadrados os da 'vidairada' mais irrascíveis do produto putrefacto dos EUA. A maioria da população mundial considera aqueles três pestes humanas filhos de rameiras que apostam em prolongarem e desenvolverem ainda mais o imperialismo dos EUA... 

Disso constam as referencias do autor deste Curto de hoje e a instabilidade global que tais FDPês provocam. A carneirada dos eleitores dos EUA rejubilam com toda a trampa que sai pelas bocas daqueles monstros julgando-se até donos do mundo. Bando de plebeus estúpidos que se podem contar aos milhões para mal do mundo e deles próprios. 'Cá se fazem, cá se pagam', diz o adágio tão popular e certeiro. Avancemos.

De nossa lavra muito pouco temos a adiantar. Preferimos deixar à vista o dito e escrito no Curto por João Pedro Barros, do Expresso. Convidamos a que prossigam a leitura do texto a seguir. Tenham um dia bom... se conseguirem.

Até amanhã, se ainda existirmos nesta porca de vida repleta de políticos da sociedade merdelim de onde emergiram.

Vão nessa. Leiam sempre... e raciocinem. Inté, saúde.

António Veríssimo | Redação PG

O século XXI chegou – e o que já se pode ver não augura nada de bom

João Pedro Barros, editor online | Expresso (curto)

Bom dia,

Antes de mais, um pedido: no próximo dia 10 de janeiro, sexta-feira, o Expresso realiza o seu terceiro festival de podcasts. O Podfest terá lugar na Reitoria da Universidade Nova de Lisboa, a partir das 14h30, a entrada é livre e o público terá oportunidade de assistir às gravações dos episódios de alguns programas. Garanta o seu lugar, enviando um e-mail com nome e contacto para eventos@impresa.pt.

Num grupo de WhatsApp de amigos, alguém colocou um deepfake de António Costa a trautear uma conhecida música de Quim Barreiros. Não tinha especial graça e era completamente inócuo, mas a piada veio a seguir. Um outro amigo do mesmo grupo respondeu que também tinha visto algo gerado por Inteligência artificial que “parecia mesmo real”: “o Trump dizia que ia anexar Gronelândia, Canada e Panamá”.

É um caso em que a piada se faz sozinha, mas que nos põe a pensar que continuamos de prego a fundo num mundo cada vez mais frenético, em que a dado ponto será um exercício inglório distinguir a verdade da mentira. E veio isto muito a propósito de um texto que não me sai da cabeça, de um colunista do “Times”, James Marriott, chamado “Estamos a assistir ao fim do longo século XX” (tradução livre minha, acesso fechado). É um ensaio muito interessante (e bastante pessimista, com muitos pontos de contacto com o mais recente de Clara Ferreira Alves), que se resume numa ideia: se nasceu antes do início deste século, este mundo já não tem nada a ver com aquele em que nasceu.

O autor justifica muito bem porque pensa que estamos num verdadeiro virar de página, contrariando os que consideram que o século XXI começou no 11 de Setembro. A reeleição de Trump é um dos marcos apontados, porque, na visão de Marriott, significa não um interregno nas democracias liberais que floresceram depois da Segunda Guerra Mundial, mas sim um novo padrão.

Não reproduzo aqui todos os argumentos, mas deixo mais alguns: um novo conservadorismo, nomeadamente em termos de comportamentos sexuais, que marca uma inversão após 100 anos de crescente libertação; o fim do domínio dos motores de combustão; a quebra nos níveis de literacia, relacionada com a cada vez maior predominância dos vídeos curtos vistos no telemóvel; o fim do predomínio geopolítico americano, o declínio da Europa e as guerras na Ucrânia e no Médio Oriente.

Ora, tudo isto tem uma relação direta com o mais recente noticiário internacional. Destaco, por exemplo, o nosso texto sobre o bromance entre Donald Trump e o empresário e “dono disto tudo” Elon Musk, que “ninguém sabe para onde vai”. Tenderia a dizer que precisam muito um do outro para se zangarem, mas, como bem nota a Catarina Maldonado Vasconcelos, o futuro Presidente já se incompatibilizou, em algum ponto, com todos os seus aliados, até porque “parece criar um ambiente em que aqueles do seu círculo próximo competem entre si pelo acesso a ele” (curiosamente, algo parecido com o que acontece com Putin, que descrevo sucintamente em baixo, a propósito das minhas leituras recentes). O jornal “The Independent” refere que há uma crispação face à omnipresença de Musk nos média e “dois tigres não podem viver no topo de uma montanha”.

Esta tensão – “o que é mais consistente no círculo de conselheiros de Trump é a incoerência” – no seio de um poder novo que se levanta pode ser comparável ao que aconteceu em outras eras: Steve Bannon, o ex-conselheiro de Donald Trump, já veio garantir que tudo fará para afastar Musk da Casa Branca. A luta do nacionalismo e protecionismo do movimento MAGA e do “America First” com a tecnocracia de Musk pode ser definidora: enquanto os primeiros querem os melhores empregos nas tecnológicas para os americanos, os segundos acham que a massa cinzenta não tem nacionalidade e que recrutar as melhores mentes é fundamental para manter a supremacia americana.

Entretanto, outros atores, quase que podemos dizer que do “velho mundo”, levantam-se. A França pede à Comissão Europeia que impeça as interferências de Musk no debate público europeu e as eleições na Alemanha podem ser outro marco de 2025. Hoje mesmo, às 18h de Portugal continental, Elon Musk vai “entrevistar” a copresidente do partido alemão de extrema-direita (AfD), Alice Weidel, na sua rede social X – e Bruxelas vai seguir com muita atenção para perceber se há leis europeias a serem violadas. A propósito das legislativas do mês que vem, a última edição do podcast O Mundo a Seus Pés dá uma boa ideia do contexto geral e do que estará em causa.

O fim das plataformas de verificação de factos da Meta (Facebook, Instagram, Whatsapp e Threads), em nome de uma suposta liberdade de expressão, é outro sinal dos tempos e uma notícia muito relevante para a saúde das nossas democracias – e que o Pedro Miguel Coelho analisa aqui como sendo uma mera ferramenta para fazer mais dinheiro. Entretanto, hoje é dia de luto e do funeral do antigo Presidente norte-americano (1977-1981) Jimmy Carter – o seu mandato, ainda antes do liberalismo de Reagan e Thatcher, que marcou os anos 80 e o que se seguiu, não poderia parecer mais distante.

OUTRAS NOTÍCIAS

Moçambique. O candidato presidencial derrotado Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados das eleições de outubro, já está em Maputo, mais de dois meses depois de deixar o país. A tensão é grande e é difícil perceber o que se vai seguir.

Incêndios em Los Angeles. A situação continua aparentemente incontrolável: as autoridades ordenaram aos moradores do bairro histórico de Hollywood, no sudoeste dos EUA, que abandonassem as suas casas e há críticas ao trabalho dos bombeiros.

Venezuela. Na véspera da tomada de posse de Nicolás Maduro, a oposição manifesta-se e os venezuelanos em Portugal também saem à rua, em Lisboa, Porto, Aveiro, Beja, Faro e Funchal. O líder da oposição, Edmundo González Urrutia, visita hoje a República Dominicana.

Novo Banco. O Banco de Portugal valida a atuação da instituição financeira no despedimento de Carlos Brandão, administrador suspeito dos crimes de fraude fiscal qualificada, branqueamento de capitais e falsificação – e que se manteve no cargo propositadamente, mesmo depois de as suspeitas terem sido levantadas.

Hélder Rosalino. O ex-futuro secretário-geral do Governo vai para administrador da Valora, a empresa da autoridade monetária responsável pela emissão de notas. A propósito, pode ler este belo perfil do seu “substituto”, Carlos Costa Neves.

Propinas. O ministro da Educação admitiu ontem a possibilidade de descongelar o valor das propinas no ensino superior a partir do próximo ano letivo – e as reações não se devem fazer esperar.

Viseu. O suspeito da morte de uma mulher e de ter ferido mais duas pessoas, à porta do centro comercial Palácio do Gelo, já foi detido e fica em prisão preventiva. O alegado homicida não chegou a sair de Portugal.

Manifestação divide PS. "Não nos encostem à parede", convocada para protestar contra a forma como a PSP levou a cabo uma operação na rua do Benformoso, está agendada para este sábado, mas Miguel Coelho, presidente socialista da junta de freguesia de Santa Maria Maior, diz que o evento foi capturado por "wokistas de esquerda", que o querem transformar num "ataque à polícia".

Câmara de Lisboa. Moedas aceitou a sugestão do Departamento Jurídico e pediu um parecer ao Governo sobre a legalidade do seu executivo, mas também solicitou que incida sobre substituições de vereadores do tempo de Fernando Medina. O PS apresentou uma proposta de sindicância, também ao Governo, a ser feita pela Inspeção-Geral de Finanças.

Aborto. Uma carta aberta subscrita por pessoas de várias áreas, incluindo do PSD, pede à Assembleia da República o reforço do "acesso efetivo" à interrupção voluntária da gravidez, defendendo que a lei pode ser melhorada, nomeadamente através de um alargamento do prazo.

Reforma Fiscal. O ex-Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, lançou, através de artigo de opinião publicado no "Observador" e escrito em coautoria com o ex-ministro da Economia Carlos Tavares, um apelo ao Governo para a criação de uma comissão para uma reforma profunda no sistema fiscal português.

Taça da Liga. Benfica bateu Braga por 3-0 e joga final com o Sporting, no sábado.

FRASES

“É preciso governos de projeto e não governos de turno”
António José Seguro, ex-secretário-geral do PS e putativo candidato presidencial, num almoço num hotel em Lisboa

“Com André Ventura, Marcelo fica encadeado como um animal à noite com a luz de um automóvel”
Pedro Siza Vieira, ex-ministro da Economia, no podcast Bloco Central

“O capitalismo atingiu uma fase de refinamento de processos e intenções nunca vista. O fator humano desvanece-se em cada dia, com o assentimento dormente dos humanos. Simplificando, somos no topo da pirâmide fabricantes de apps, e na base da pirâmide escravos das apps”
Clara Ferreira Alves, em artigo de opinião publicado no Expresso

O QUE EU ANDO A LER

"Temos de falar sobre Putin", por Mark Galeotti (Ed. Kathartika)

Na primeira orelha é citado um texto do “Guardian” que diz que este pequeno livro (não chega às 150 páginas) pode ser lido como “uma cartilha por quem estiver prestes a entrar numa negociação com o Presidente russo”. Não é de facto uma biografia nem um tratado, mas sim uma tentativa de explicar (sem notas de rodapé nem grandes referências a fontes, opção assumida pelo autor na introdução) como pensa e age Putin e a sua evolução programática e operacional desde que assumiu os comandos da Federação Russa (com um ligeiro interregno “técnico” como primeiro-ministro), em 2000.

O livro lê-se de uma penada e procura apagar alguns estereótipos que o autor – uma referência ocidental em política, serviços de informações e segurança na Rússia – considera equívocos (e que são frequentemente ditos e escritos nos média). Por exemplo, que mata todos os opositores à mínima discordância (“Putin é um autocrata misericordioso, no fundo não nos quer matar – a menos que o obriguemos a fazê-lo”), controla todos os cordelinhos do Estado (“Há temas políticos com os quais ele já não se importa verdadeiramente, pelo que, em grande parte, os deixa ao cuidado de outros, se é que acabam por receber sequer atenção”), tem um pensamento filosófico e político forte a sustentar a sua ação (“Putin não tem quaisquer compromissos ideológicos com nada, verdadeiramente, e por isso não tem qualquer razão para tentar impor o totalitarismo”), é extramente frio e análitico nas decisões (“Putin costuma reagir a oportunidades”) ou, pelo contrário, muito impulsivo (“Putin quer escolhas seguras e êxitos garantidos”).

O livro é de 2019, pré-invasão da Ucrânia, e foi editado em Portugal em 2023, com uma breve nota final de abril de 2022 já com menção à guerra. No entanto, a atualidade como viagem à psique e organização mental de Putin é indiscutível e nele explica-se, por exemplo, a invasão de forma simples. Não se trata de ambições de czarismo ou de ressuscitar a URSS, sublinha Galeotti, mas porque Putin é um nacionalista que vê o seu país como uma superpotência (que claramente não é) e, além disso, vê os ucranianos como traidores (que ele despreza, ao contrário dos “meros “ inimigos, que se lhe opõem frontalmente). Depois, o facto de receber relatórios de informações de várias agências que competem entre si para agradar ao “chefe” convenceram-no de que tudo seria pouco mais do que um passeio no parque.

Não está a ser um passeio e, neste livro, Galeotti põe mesmo a hipótese de o Estado russo estar numa degeneração que pode não ser visível de imediato, mas sim vir ao de cima passado uma década, tal como aconteceu depois de Brejnev morrer, em 1982.

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