Greves gerais e
parciais contra cortes impostos pela União Europeia paralisaram o continente,
de Portugal à Bélgica, da Grécia à Alemanha. Houve violência entre polícia e
manifestantes na Itália e Espanha.
Os protestos e
paralisações desta quarta-feira (14/11) contra as medidas de austeridade na
Europa marcaram uma onda de greves transnacionais de dimensões inéditas no
continente.
A Confederação dos
Sindicatos Europeus (CES) conclamara a protestos contra a política de cortes
nos gastos públicos em face da crise, declarando a quarta-feira como dia de
solidariedade entre os trabalhadores da União Europeia.
Manifestações
resultaram em confrontos violentos em várias cidades da Itália e da Espanha. Em
Roma, os repórteres falaram em cenas de guerrilha: estudantes lançaram pedras,
garrafas e explosivos contra a polícia, que investiu com veículos blindados.
Em Turim, três
agentes de segurança ficaram feridos durante os distúrbios, um deles
gravemente. Em Milão, estudantes demoliram as vitrines de bancos e do conglomerado
de energia Enel. Em Nápoles, os manifestantes ocuparam durante algum tempo os
trilhos da estação central.
Na Espanha, mais de
40 pessoas ficaram feridas, entre as quais 18 policiais. Cerca de 110 grevistas
foram detidos após choques com as forças de segurança. Na capital, Madri, a
polícia usou balas de borracha e cassetetes contra um grupo de manifestantes
que resistira à prisão de um adepto do Movimento 15-M, também intitulado
"Indignados".
Greve de trabalho e
de consumo
As greves gerais de
24 horas coordenadas entre Espanha e Portugal deixaram paralisados ambos os
países. Os meios de transporte público foram reduzidos ao mínimo, escolas e
repartições públicas ficaram fechadas. Em cerca de 120 cidades, as paralisações
foram acompanhadas de passeatas, nas quais a população deu vazão a sua revolta
contra as medidas de austeridade.
Antecipando as
greves, centenas de voos foram cancelados. As grandes companhias aéreas da
Espanha suspenderam a metade das conexões planejadas, e em Portugal a TAP
cancelou 45% de seus voos. O tráfego aéreo na Alemanha também foi afetado, pois
diversos aeroportos do país participavam de operações anuladas na Península
Ibérica.
A produção de
montadoras multinacionais como Volkswagen, Seat, Opel e Nissan ficou
praticamente parada na Espanha. Os sindicatos calculam que cerca de 80% dos
trabalhadores espanhois tomaram parte na greve geral.
As grandes
associações sindicais espanholas Confederação Sindical de Comissões Operárias
(CCOO) e União Geral de Trabalhadores (UGT) não só conclamaram à paralisação do
trabalho, como também a uma "greve de consumo", sob o slogan:
"Os espanhois não devem comprar absolutamente nada neste dia".
Depois das
paralisações em março, a atual greve geral contra os cortes do governo em Madri
é a segunda no mesmo ano – fato inédito na história recente da Espanha. O
primeiro-ministro Mariano Rajoy expressou a preocupação de que a greve possa
prejudicar a imagem do país no exterior e afetar o setor de turismo. A oposição
socialista, em contrapartida, apoia as manifestações.
Contra o orçamento
e Passos Coelho
Em Portugal, os
focos da greve foram o setor de transportes e o funcionalismo público. Em
Lisboa, o metrô não circulou, trens e ônibus ficaram parados em todo o país. Também
os correios, hospitais e instituições de ensino suspenderam suas atividades.
A Confederação
Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP) espera, através da greve geral,
impedir a aprovação do controverso orçamento de 2013. A decisão final será
tomada pelo Parlamento português em 27 de novembro.
Além disso, os
sindicatos pretendem forçar a renúncia do primeiro-ministro Pedro Passos
Coelho. Segundo o presidente da CGTP, Armênio Carlos, o atual governo de
centro-direita seria responsável pela recessão, com retração da economia em 3%
e taxa de desemprego de quase 16%.
Certos estudos
apontam que a crise econômica deverá se agravar muito, sobretudo nos países do
sul do continente, devido aos drásticos programas de austeridade adotados. Em
setembro, o desemprego na zona do euro alcançou o novo recorde de 11,6%,
cabendo a maior quota à Espanha, onde um em cada quatro trabalhadores não
encontra ocupação.
Solidariedade da
Grécia à Bélgica
Também na Bélgica
os ferroviários participam das ações de greve. Funcionários da operadora SNCB
iniciaram na noite desta terça-feira uma paralisação de 24 horas.
O tráfego
ferroviário do país ficou praticamente suspenso, e o internacional, seriamente
comprometido, com a suspensão do tráfego dos trens de alta velocidade da
empresa Thalys entre a Alemanha e a Bélgica, e atrasos nas rotas para Paris,
Amsterdã e Londres. Na capital Bruxelas, bondes e ônibus não saíram da garagem.
Ações de protesto
contra a política de cortes nos gastos públicos também foram realizadas em
outros países da União Europeia. Na Grécia, dezenas de milhares de
trabalhadores, sobretudo do setor público, cruzaram os braços durante três
horas. Uma passeata reuniu milhares no centro de Atenas, onde se viam faixas
com os dizeres: "O pacote de austeridade prejudica seriamente a
saúde".
Também na França
milhares de opositores apoiaram as greves – em Paris, sob a palavra de ordem:
"A favor do emprego e da solidariedade – contra medidas de
contenção". Diante do Portão de Brandemburgo, em Berlim, cerca de 250
pessoas se reuniram em
protesto. Estavam anunciadas manifestações também na Polônia.
AV/dpa,dapd - Revisão:
Francis França
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